Lembra de quando a AMD ameaçou a supremacia da Intel?
Rivalidade entre as duas empresas marcou uma época de ouro para micreiros mundo afora

Rivalidade entre as duas empresas marcou uma época de ouro para micreiros mundo afora
O fim da linha Pentium nos notebooks abre uma caixa de memórias dos anos 1990 e 2000. Uma época em que nos divertíamos montando nossos desktops, e em toda esquina brotavam cursos de montagem e manutenção de micros. Foi também um período em que a AMD, principal competidora da Intel, viu sua distância em relação à primeira colocada diminuir.
A Intel sempre foi um player importante, mas a partir do final da década de 1970 pulou na frente da concorrência. Um fator determinante nisso foi a parceria com a IBM, que escolheu o Intel 8088 como processador de sua primeira geração de PCs. A partir daí, a Intel virou o adversário a ser batido.
O Pentium só viria algum tempo depois, em 1993, e se tornaria o processador mais usado para computação pessoal nos anos seguintes, de acordo com a PCMag. A partir de 2006, a Intel passou a priorizar a linha Core; o Pentium, antes o modelo mais destacado da empresa, acabou migrando para computadores de entrada.
E essa passagem de faixa foi essencial para a Intel recuperar sua supremacia. Afinal, antes da introdução da linha Core, a AMD havia se tornado um incômodo.
A relação entre as duas empresas é antiga: além de terem sido fundadas com menos de um ano de diferença, a AMD fabricou diversos clones de chips da Intel.
O acordo com a IBM exigia que a Intel licenciasse sua tecnologia para outras empresas, uma forma de garantir o suprimento da demanda. Porém, mesmo antes disso, a AMD produziu outros de seus chips a partir de chips da Intel, num processo demorado de engenharia reversa (outras empresas também faziam isso, deve-se dizer).
Ao longo dos anos, a Intel licenciou outros chips produzidos pela AMD, mas, em 1985, as duas se envolveram num imbróglio jurídico. A AMD queria produzir o seu clone do 80386, porém a Intel argumentava que o acordo entre as duas só ia até o 80286. No fim das contas, a AMD venceu a disputa, e lançou o seu AM386 em 1991. E, vejam só: o clock deste clone era mais rápido do que o do original.
Essa disputa de MHz prosseguiu por anos, e cada pequeno aumento era alardeado pelas companhias como o grande diferencial de seu produto. Porém, mesmo quando a AMD saltava na frente nesse quesito, a Intel tinha um forte jogo de marketing a seu favor. Isso nunca foi tão claro quanto com a linha Pentium. Pela primeira vez, um processador se tornava também uma marca, um nome que todos reconheciam.
Esse é um dos motivos pelos quais a aposentadoria do Pentium foi uma surpresa. São quase trinta anos de história, uma das marcas mais fortes da empresa. O Pentium era sinônimo de bom desempenho, um termo que até leigos conseguiam reconhecer. A AMD podia ter tudo, mas não tinha isso.
Em 1995, a AMD comprou a pequena NexGen, empresa que vinha desenvolvendo processadores comparáveis aos Pentium. Essa aquisição se mostraria decisiva para viabilizar a competição com a Intel.
Os primeiros frutos foram colhidos em 1997, quando o K6 chegou ao mercado. O processador da AMD competia com o Pentium 2 – o melhor que a Intel tinha a oferecer na época – tanto em velocidade quanto em preço. O lançamento foi muito celebrado. Um review do Tom’s Hardware da época sentenciava: a chegada do K6 tornava o Pentium mais recente completamente obsoleto.
O modelo seguinte, K7, recebeu o nome de Athlon, pelo qual ficou mais conhecido. Ele deu à AMD uma importante vitória simbólica sobre a Intel, sendo a primeira das duas a ultrapassar 1 GHz de velocidade de clock. E, até o final de sua fabricação, a linha conseguiria chegar a incríveis 2,33 GHz. Ou seja: em termos de desempenho, o Pentium tinha encontrado um rival.
Mas o auge competitivo da AMD se deu com o lançamento do K8, ou Athlon 64. Como o já nome indica, era um processador com instruções de 64 bits, o que mudou o jogo na época. Mais adiante, a própria Intel licenciaria extensões AMD64 para uso próprio, tão boa era a tecnologia.
Para completar, a nova arquitetura da AMD deu muito certo não apenas em desktops, mas também em servidores, chegando a abocanhar um quarto do setor. Para os entusiastas, estava claro que os chips da empresa eram os melhores do mercado.
No entanto, a AMD não soube aproveitar o bom momento. Uma série de problemas de gestão atrapalharam; a manutenção das fábricas da empresa também comeu muito dinheiro. E a Intel, por sua vez, começou a deixar o Pentium para trás.
A arquitetura NetBurst, que alimentava a linha Pentium 4, não estava trazendo bons resultados. Perdia em performance para o Athlon 64, além de consumir mais energia. O passo seguinte foi, na verdade, um passo atrás: a Intel planejou sua nova linha de chips não a partir do Pentium 4, mas do Pentium 3. Daí nasceu a linha Core, que designa desde então os chips topo de linha da empresa.
A maré voltou a subir para a AMD daí para frente, sobretudo com o lançamento do Core 2. A Intel voltava ao topo, e sua rival, ainda lidando com os problemas internos, viu a distância aumentar. As duas velhas adversárias voltavam aos seus lugares.
Mas fica a lembrança: certa vez, há muito tempo, a AMD fez a Intel suar. E mudou o mercado no processo.
No Tecnocast 261, pegamos carona na aposentadoria da linha Pentium nos notebooks (R.I.P.) para conversar sobre os bons e velhos tempos da informática (alguém ainda usa essa palavra) nos anos 1990 e 2000.
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