“Oba, vou participar de reuniões no metaverso pelo Microsoft Teams!”, disse ninguém, nunca
Meta continua tentando emplacar seu óculos de realidade virtual, e dessa vez mira no universo corporativo
Meta continua tentando emplacar seu óculos de realidade virtual, e dessa vez mira no universo corporativo
No Tecnocast 264, conversamos sobre a ausência de inovações nos produtos lançados nos últimos anos. Há incrementos, novos recursos e melhoras na performance, mas nada que nos deixe boquiaberto. Sabe a reação de quanto o iPhone surgiu? Então. Faz tempo que ela não rola.
É um momento de certa estabilização, em que as tecnologias com as quais nos acostumamos atingiram um nível de maturidade. Há pouco que se possa acrescentar nelas. Existem variações sobre o tema – como os celulares dobráveis, por exemplo –, mas são tentativas de mudar a forma. Não representam, em si mesmas, avanços consideráveis.
Mas qual será, então, o próximo salto tecnológico? Dentre das muitas promessas na mesa, destaca-se o tão apregoado metaverso, tema abordado por Mark Zuckerberg em toda e qualquer oportunidade. Pudera: sua empresa mudou de nome para abraçar o empreendimento. Há mais nova investida da Meta nesse campo é o Quest Pro, óculos que mistura realidade virtual com realidade aumentada.
O produto chama a atenção pelos novos recursos, mas há um porém: custa US$ 1.499,00. Claramente o grande público não é o alvo aqui. Aparentemente, em sua empreitada pela popularização do metaverso, a empresa de Zuckerberg aponta seus esforços na direção de… outras empresas?
O discurso continua sendo o mesmo: o metaverso é uma espécie de internet corporificada onde se concentrarão as interações sociais, o entretenimento e o trabalho. Só que, por mais que os dois primeiros itens da lista soem bem mais interessantes, o Quest Pro parece mais voltado para o terceiro.
Produtividade e colaboração foram temas recorrentes na apresentação do produto, com destaque para espaços virtuais para trabalho e reuniões. Como a própria Meta explica, o headset foi desenvolvido para “arquitetos, engenheiros, construtores, criadores e designers.” O preço salgado e o “Pro” no nome não mentem: o novo Quest foi pensado para o trabalho.
É uma decisão curiosa. A realidade virtual é muitas vezes associada a games, e os sonhos mais ambiciosos do metaverso incluem interação entre avatares hiper-realistas. Na cultura pop, a ideia de um mundo virtual interativo também se alinha muito mais com esses temas do que com a produtividade.
O entretenimento não foi deixado de lado na apresentação, mas as possibilidades mais enfatizadas foram ligadas ao trabalho. Isso fica claro no anúncio da parceria com a Microsoft, que tratá integrações com o Teams. Quem esperava avanços na área de jogos ou uma experiência social mais imersiva ficou a ver navios.
Ao invés disso, fomos apresentados a um futuro onde as reuniões de trabalho pelo Microsoft Teams ocorrerão no metaverso. ¯\_(ツ)_/¯
Ainda não sabemos se o metaverso vai existir de fato. Na verdade, sequer sabemos conceituar o que é o metaverso, como aponta Tim Cook, CEO da Apple. O ponto é que as tecnologias que o tornariam possível são certamente empolgantes. O problema está nos usos para os quais vêm sendo aplicadas.
O próprio foco no universo corporativo é prova disso. É como se, na falta de desenvolvimentos significativos nas áreas sociais e de entretenimento, a Meta tivesse voltado seus esforços na direção menos amigável para o público geral, mas potencialmente interessante para empresas. É evidente que falta algo, embora seja difícil definir o quê.
Mas talvez não seja de fato surpreendente que o melhor que o metaverso tenha apresentado até agora sejam reuniões de trabalho. Afinal, quando tecnologias antes disruptivas se tornam apenas parte da paisagem (como os smartphones), é certo que outras potencialmente disruptivas estarão engatinhando.
É nesse período que experimentos são feitos, com resultados frequentemente decepcionantes. Vale lembrar que o Horizon Worlds, experimento de metaverso da Meta, não é popular nem entre os funcionários da empresa. A coisa toda parece um tanto infantil, assim como um óculo de realidade virtual voltado para o trabalho parece chato. Mas é um caminho natural a ser percorrido antes que o uso realmente disruptivo da tecnologia seja encontrado (se um dia for).
Enquanto isso não acontece, podemos esperar novas aplicações que apenas remixam experiências já existentes. Se o fazem de modo bem-sucedido ou não, o público irá dizer. Veja, por exemplo, uma amostra de como é assistir uma luta de MMA por um óculos de VR (fruto da parceria entre a Meta e o UFC):
Minha opinião? Nossa, que negócio estranho. Mas pelo menos não é uma nova forma de usar o Microsoft Teams.