“Oba, vou participar de reuniões no metaverso pelo Microsoft Teams!”, disse ninguém, nunca

Meta continua tentando emplacar seu óculos de realidade virtual, e dessa vez mira no universo corporativo

Josué de Oliveira
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• Atualizado há 11 meses
Andamos um tanto carentes de inovação (Imagem: Vitor Pádua / Tecnoblog)
Andamos um tanto carentes de inovação (Imagem: Vitor Pádua / Tecnoblog)

No Tecnocast 264, conversamos sobre a ausência de inovações nos produtos lançados nos últimos anos. Há incrementos, novos recursos e melhoras na performance, mas nada que nos deixe boquiaberto. Sabe a reação de quanto o iPhone surgiu? Então. Faz tempo que ela não rola.

É um momento de certa estabilização, em que as tecnologias com as quais nos acostumamos atingiram um nível de maturidade. Há pouco que se possa acrescentar nelas. Existem variações sobre o tema – como os celulares dobráveis, por exemplo –, mas são tentativas de mudar a forma. Não representam, em si mesmas, avanços consideráveis.

Mas qual será, então, o próximo salto tecnológico? Dentre das muitas promessas na mesa, destaca-se o tão apregoado metaverso, tema abordado por Mark Zuckerberg em toda e qualquer oportunidade. Pudera: sua empresa mudou de nome para abraçar o empreendimento. Há mais nova investida da Meta nesse campo é o Quest Pro, óculos que mistura realidade virtual com realidade aumentada.

O produto chama a atenção pelos novos recursos, mas há um porém: custa US$ 1.499,00. Claramente o grande público não é o alvo aqui. Aparentemente, em sua empreitada pela popularização do metaverso, a empresa de Zuckerberg aponta seus esforços na direção de… outras empresas?

Foco no trabalho… mas por quê?

O discurso continua sendo o mesmo: o metaverso é uma espécie de internet corporificada onde se concentrarão as interações sociais, o entretenimento e o trabalho. Só que, por mais que os dois primeiros itens da lista soem bem mais interessantes, o Quest Pro parece mais voltado para o terceiro.

Produtividade e colaboração foram temas recorrentes na apresentação do produto, com destaque para espaços virtuais para trabalho e reuniões. Como a própria Meta explica, o headset foi desenvolvido para “arquitetos, engenheiros, construtores, criadores e designers.” O preço salgado e o “Pro” no nome não mentem: o novo Quest foi pensado para o trabalho.

Meta Quest Pro (Imagem: Divulgação / Meta)
Meta Quest Pro (Imagem: Divulgação / Meta)

É uma decisão curiosa. A realidade virtual é muitas vezes associada a games, e os sonhos mais ambiciosos do metaverso incluem interação entre avatares hiper-realistas. Na cultura pop, a ideia de um mundo virtual interativo também se alinha muito mais com esses temas do que com a produtividade.

O entretenimento não foi deixado de lado na apresentação, mas as possibilidades mais enfatizadas foram ligadas ao trabalho. Isso fica claro no anúncio da parceria com a Microsoft, que tratá integrações com o Teams. Quem esperava avanços na área de jogos ou uma experiência social mais imersiva ficou a ver navios.

Ao invés disso, fomos apresentados a um futuro onde as reuniões de trabalho pelo Microsoft Teams ocorrerão no metaverso. ¯\_(ツ)_/¯

Tecnologias promissoras, aplicações nem tanto

Ainda não sabemos se o metaverso vai existir de fato. Na verdade, sequer sabemos conceituar o que é o metaverso, como aponta Tim Cook, CEO da Apple. O ponto é que as tecnologias que o tornariam possível são certamente empolgantes. O problema está nos usos para os quais vêm sendo aplicadas.

O próprio foco no universo corporativo é prova disso. É como se, na falta de desenvolvimentos significativos nas áreas sociais e de entretenimento, a Meta tivesse voltado seus esforços na direção menos amigável para o público geral, mas potencialmente interessante para empresas. É evidente que falta algo, embora seja difícil definir o quê.

Mas talvez não seja de fato surpreendente que o melhor que o metaverso tenha apresentado até agora sejam reuniões de trabalho. Afinal, quando tecnologias antes disruptivas se tornam apenas parte da paisagem (como os smartphones), é certo que outras potencialmente disruptivas estarão engatinhando.

É nesse período que experimentos são feitos, com resultados frequentemente decepcionantes. Vale lembrar que o Horizon Worlds, experimento de metaverso da Meta, não é popular nem entre os funcionários da empresa. A coisa toda parece um tanto infantil, assim como um óculo de realidade virtual voltado para o trabalho parece chato. Mas é um caminho natural a ser percorrido antes que o uso realmente disruptivo da tecnologia seja encontrado (se um dia for).

Horizon Worlds (Imagem: Reprodução/Meta)
Horizon Worlds (Imagem: Reprodução/Meta)

Enquanto isso não acontece, podemos esperar novas aplicações que apenas remixam experiências já existentes. Se o fazem de modo bem-sucedido ou não, o público irá dizer. Veja, por exemplo, uma amostra de como é assistir uma luta de MMA por um óculos de VR (fruto da parceria entre a Meta e o UFC):

Minha opinião? Nossa, que negócio estranho. Mas pelo menos não é uma nova forma de usar o Microsoft Teams.

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Josué de Oliveira

Josué de Oliveira

Produtor audiovisual

Josué de Oliveira é formado em Estudos de Mídia pela UFF. Seu interesse por podcasts vem desde a adolescência. Antes de se tornar produtor do Tecnocast, trabalhou no mercado editorial desenvolvendo livros digitais e criou o podcast Randômico, abordando temas tão variados quanto redes neurais, cartografia e plantio de batatas. Está sempre em busca de pautas que gerem conversas relevantes e divertidas.

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