Facebook suspende Instagram Kids após polêmica sobre saúde mental de jovens
Facebook foi criticado recentemente por pesquisa que aponta que Instagram prejudica saúde mental de adolescentes
Se você não sabia, saiba agora: sem fazer barulho, o Facebook vinha desenvolvendo o Instagram Kids. Como o nome aponta, essa seria uma versão do Instagram focada em crianças (de 10 a 12 anos de idade). A companhia já tinha sido criticada por isso, mas, coincidência ou não, decidiu suspender o projeto nesta segunda-feira (27) após outra polêmica.
Instagram e saúde mental de adolescentes
Ainda que de modo indireto, essa história começa em 14 de setembro, quando o Wall Street Journal publicou uma reportagem a respeito de um estudo executado pelo próprio Facebook que indica que o Instagram pode ser prejudicial para a saúde mental de adolescentes.
Na verdade, dependendo da forma ou da frequência de uso, todas as redes sociais podem ser prejudiciais a pessoas de qualquer idade. Mas olhar com mais atenção para a relação de jovens com o Instagram é necessário por uma simples razão: esse público é muito presente na rede social.
A reportagem aponta que, só nos Estados Unidos, 40% dos usuários do Instagram têm menos de 22 anos de idade. Como uma parcela significativa deles não acessa o Facebook, é importante para a companhia de Mark Zuckerberg manter os jovens ativos no Instagram.
Uma das maneiras de se fazer isso é refinando os algoritmos de recomendação de conteúdo. Os problemas ganham forma nesse ponto: a aba Explorar do Instagram, por exemplo, tem um grande potencial para sugerir conteúdo prejudicial.
Com base em consultas com usuários adolescentes nos Estados Unidos e no Reino Unido, o Facebook constatou que mais de 40% das jovens que se consideram pouco atraentes começaram a ter esse tipo de sentimento no Instagram.
O estudo também mostra que 32% das meninas reconheceram que, quando sentem-se mal com seus corpos, o Instagram faz esse sentimento piorar. Meninos também são afetados: 14% deles admitiram que o uso da rede social piora sentimentos sobre si mesmos.
Há outros números preocupantes encontrados na pesquisa, por exemplo: 13% dos usuários adolescentes britânicos e 6% dos usuários americanos que tiveram pensamentos suicidas disseram que esses impulsos estão relacionados ao Instagram.
Reduzir o uso ou abandonar a rede social é o caminho mais trivial para o enfrentamento do problema. Mas os jovens, principalmente, as adolescentes, relatam dificuldades para largar o Instagram. Não surpreende: essa e outras redes sociais são feitas para serem “viciantes”.
Facebook desiste do Instagram Kids — por enquanto
Em comunicado oficial, o Facebook conta que a ideia de desenvolver uma experiência do Instagram para pessoas com menos de 13 anos surgiu a partir da percepção de que crianças estão tendo acesso cada vez mais cedo a celulares e, em razão disso, baixando aplicativos destinados a usuários com mais idade.
De acordo com o Facebook, o Instagram Kids virá com controle parental, não terá anúncios e somente exibirá conteúdo adequado para a idade (de 10 a 12 anos), por exemplo.
Mas especialistas enxergam a proposta com desconfiança pelo temor de que esse público possa, entre outros aspectos, ser prejudicado pela dinâmica de retenção de usuários da rede social. A reportagem do Wall Street Journal serviu para intensificar essa preocupação.
Apesar de a versão para crianças receber críticas há meses, o Facebook decidiu interromper o desenvolvimento do Instagram Kids duas semanas após a reportagem. A empresa afirma que a decisão foi tomada para que a sua equipe tenha mais tempo para trabalhar com pais, especialistas e autoridades no desenvolvimento do projeto, não como forma de reconhecimento de que os críticos estão certos.
O projeto foi adiado, portanto, não cancelado. Em um trecho do comunicado, o Facebook compara a ideia às opções equivalentes de outros serviços populares:
Nós não somos a única empresa a pensar dessa forma. Nossos colegas reconheceram esses problemas [acesso a conteúdo inapropriado para a idade] e desenvolveram experiências para crianças. YouTube e TikTok têm versões de seus aplicativos para usuários com menos de 13 anos.
Facebook diz que Instagram não prejudica adolescentes
No mesmo comunicado, o Facebook deixa implícito que paralisar o desenvolvimento do Instagram Kids não tem relação com a reportagem do Wall Street Journal. O texto tem um link para outra nota recente. Nesta, a companhia afirma que os aspectos apontados pelo jornal não foram devidamente contextualizados.
A empresa explica que a pesquisa evidenciou que o uso do Instagram é positivo para adolescentes em 11 de 12 pontos sobre bem-estar abordados e que o tópico sobre sobre percepção corporal foi o único com impacto negativo.
Apesar disso, o Facebook ressalta que o levantamento não mediu as relações casuais entre o Instagram e problemas do mundo real, e que o intuito da pesquisa é descobrir e minimizar o que há de ruim no serviço para, ao mesmo tempo, maximizar o que há de positivo.
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