Polêmica no cinema: O Brutalista e Emilia Pérez usaram IA em vozes de atores

Produções usaram ferramentas de inteligência artificial para aprimorar sotaques húngaros em O Brutalista e canto em Emilia Pérez

Felipe Freitas
• Atualizado hoje às 13:44
Resumo
  • O filme O Brutalista usou o software da Respeecher para ajustar o sotaque húngaro de Adrien Brody e Felicity Jones, utilizando partes da fala do editor Dávid Jancsó para melhorar a pronúncia.
  • Emilia Pérez utilizou o programa de IA para aprimorar o canto da atriz Karla Sofía Gascón, combinando sua voz com a da cantora Camille para ampliar o alcance vocal.
  • A Respeecher é uma empresa ucraniana especializada em edição de áudio. O software dela já foi usado para clonar vozes, como a de James Earl Jones em Star Wars e a do ex-presidente Richard Nixon no curta In Event of Moon Disaster.

Os filmes O Brutalista e Emilia Pérez são os mais novos alvos de polêmica pelo uso de inteligência artificial para modificar o sotaque e o canto de atores. Ambos estão cotados para o Oscar deste ano. Nas produções, foi utilizada a mesma ferramenta que ganhou fama ao clonar a voz de James Earl Jones, o icônico Darth Vader, mediante autorização do ator.

A IA também foi aplicada em O Brutalista para a geração de projetos arquitetônicos. Ironicamente, o filme retrata a vida de László Tóth (interpretado por Adrien Brody), um arquiteto húngaro fictício que chega aos EUA após a Segunda Guerra Mundial. A profissão também passa por uma transformação com o uso de IAs generativas, tanto na produção de projetos (seguindo inspirações de artistas renomados) quanto na parte de viabilidade, o que envolve cálculos mais complexos.

Como a IA foi usada em O Brutalista e Emilia Pérez?

Em O Brutalista, o software Respeecher foi usado para aprimorar o sotaque de Adrien Brody e Felicity Jones, que interpreta a esposa de László Tóth, também húngara. Segundo o editor do filme, o húngaro Dávid Jancsó, o resultado do sotaque não agradou à produção, mesmo com o uso de treinadores.

Jancsó reconhece que o húngaro é uma língua difícil de aprender e pronunciar, tanto que Brody, filho de uma húngara, não conseguiu atender às expectativas. Para contornar esse problema, o editor utilizou o Respeecher para aperfeiçoar a pronúncia de determinadas letras e fonemas. Jancsó inclusive usou parte de sua fala para aprimorar o sotaque húngaro dos atores.

Isso por si só já levanta o questionamento sobre o que é de fato atuação e o que é inteligência artificial no filme. Porém, Jancsó se defendeu dizendo que a atuação é toda de Brody e Jones. Para o editor, sem o uso do Respeecher o filme estaria empacado.

Por sua vez, Emilia Pérez recorreu à IA na parte musical. A atriz Karla Sofía Gascón teve parte do seu canto aprimorada com o uso do Respeecher. A voz da atriz foi misturada com a voz da cantora francesa Camille, que também é co-autora das canções do filme, de modo a ampliar as notas alcançadas por Gascón.

O que é Respeecher?

A Respeecher é uma empresa de IA fundada na Ucrânia que promove ferramentas para edição de áudio. A empresa já tem um forte mercado nas produções de Hollywood e séries de TV. O maior destaque até então era a clonagem da voz de James Earl Jones, que fez a icônica dublagem de Darth Vader na trilogia original de Star Wars. Ela está por trás do software de mesmo nome.

A empresa também recriou a voz do dublador original do Darth Vader na Hungria. O ator faleceu em 2005 e a voz foi usada nos últimos lançamentos do universo Star Wars. Outro trabalho da Respeecher envolveu recriar a voz do ex-presidente americano Richard Nixon para o curta In Event of Moon Disaster, que faz Nixon ler o discurso escrito no caso de falha da missão Apollo 11.

Alguns filmes dizem não à IA

Por outro lado, a também recente produção Herege termina com um aviso de que nenhuma inteligência artificial generativa foi usada na produção do filme. Com a rivalidade entre diretores, avisos desse tipo devem tornar-se mais comuns, e campanhas podem valorizar a ausência da tecnologia.

Na questão do sotaque, as críticas também apontam que o realismo seria maior se as produções contratassem atores com a mesma língua materna dos personagens.

Com informações de The Guardian (1 e 2) e The Wrap

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Felipe Freitas

Felipe Freitas

Repórter

Felipe Freitas é jornalista graduado pela UFSC, interessado em tecnologia e suas aplicações para um mundo melhor. Na cobertura tech desde 2021 e micreiro desde 1998, quando seu pai trouxe um PC para casa pela primeira vez. Passou pelo Adrenaline/Mundo Conectado. Participou da confecção de reviews de smartphones e outros aparelhos.