PicPay concede empréstimo sem checar identidade, reclamam clientes

Usuários do PicPay contam que empréstimos foram feitos em seus nomes sem verificação de documentos; fintech diz validar contas

Giovanni Santa Rosa
• Atualizado há 1 ano e 1 mês

As fintechs cresceram sob a promessa de facilitar processos e eliminar burocracias dos grandes bancos. Em alguns casos, elas facilitam até demais. É o que parece estar acontecendo no PicPay: a carteira digital faz a intermediação entre seus clientes e financeiras para empréstimos, mas usuários se queixam que o processo deixa de lado algumas confirmações de segurança. Alguns foram surpreendidos por operações feitas sem autorização.

O usuário do Twitter Bruno Predolin fez um post, na tarde de sexta-feira (6), alertando sobre o problema e recomendando encerrar a conta no app. Ele alega que as quantias pré-aprovadas são altas e não há verificações de segurança suficientes.

Predolin ainda incluiu quatro prints de relatos semelhantes. Nas publicações, clientes do PicPay que tiveram empréstimos realizados sem seu conhecimento, e que só ficaram sabendo quando houve uma cobrança.

Segundo empréstimo é fácil até demais

Um membro da própria equipe do Tecnoblog relata que a segurança do PicPay neste tipo de procedimento parece insuficiente.

Em um primeiro empréstimo, feito usando um celular Samsung, ele teve que passar pelos procedimentos padrão, como reconhecimento facial e envio de documentos.

Depois de trocar de aparelho para um iPhone, porém, o PicPay não pediu nada além da senha para confirmar um segundo empréstimo.

Além disso, o e-mail confirmando a operação demora a chegar — ele poderia ser usado pelo cliente para identificar uma transação indevida e tomar as devidas providências o mais rápido possível.

Outro problema é que o limite padrão para Pix costuma ser bem alto — R$ 10 mil, no caso de nosso colega. Isso é um prato cheio para ladrões fazerem empréstimos no nome da vítima e transferirem o dinheiro para contas de terceiros.

O que diz o PicPay

O Tecnoblog entrou em contato com o PicPay para esta reportagem. A empresa enviou a seguinte nota:

Segurança é uma prioridade para o PicPay. Somos regulamentados pelo Banco Central e seguimos todas as determinações dos protocolos de segurança de dados.

O PicPay reforça que o empréstimo pessoal só é oferecido a contas validadas e, na contratação, é exigido o duplo fator de autenticação pelos mecanismos de senha, reconhecimento facial ou documentação. Somente após a certificação da veracidade dos dados, é depositado o dinheiro.

A companhia ainda ressalta que investe constantemente no aprimoramento dos sistemas de segurança e proteção de dados, reafirmando o seu compromisso de preservar as informações dos seus clientes.

Em casos em que há suspeita de uso indevido, o PicPay realiza uma análise minuciosa para responder da forma mais ágil possível para garantir a melhor experiência aos seus milhões de usuários.

O que fazer em casos assim

O Tecnoblog conversou com o advogado Marcos Poliszezuk, sócio-fundador do Poliszezuk Advogados. Ele explicou o que deve ser feito quando o cliente percebe que há um empréstimo feito em seu nome sem autorização.

O advogado diz que a primeira providência é entrar em contato com o banco, financeira ou fintech que concedeu o empréstimo. Se nada for resolvido, a alternativa é procurar o juizado especial de pequenas causas e solicitar a reparação dos danos materiais.

Poliszezuk diz que o entendimento tem sido favorável aos consumidores:

Em casos similares, o STJ tem entendido que esta conduta é ilícita, por infringir o inciso III do artigo 39 do CDC, que é vedado ao fornecedor enviar ou entregar ao consumidor, sem solicitação prévia, qualquer produto ou fornecer qualquer serviço.

Se esta for mesmo a decisão da Justiça, o cliente lesado pode receber indenização por danos morais.

Leia | Como pedir um empréstimo pessoal no PagBank

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Giovanni Santa Rosa

Giovanni Santa Rosa

Repórter

Giovanni Santa Rosa é formado em jornalismo pela ECA-USP e cobre ciência e tecnologia desde 2012. Foi editor-assistente do Gizmodo Brasil e escreveu para o UOL Tilt e para o Jornal da USP. Cobriu o Snapdragon Tech Summit, em Maui (EUA), o Fórum Internacional de Software Livre, em Porto Alegre (RS), e a Campus Party, em São Paulo (SP). Atualmente, é autor no Tecnoblog.