Motorola Backflip, um Android para quem está começando

Rafael Silva
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• Atualizado há 11 meses

Em matéria de celulares com Android, o Brasil até que está bem servido. Sony Ericsson, HTC, Samsung, todas fabricam celulares com o sistema e já estão vendendo alguns deles no país. Mas quem ocupa o topo da posição de modelos disponíveis nas operadoras é a Motorola, com quatro aparelhos diferentes. Um dos modelos da empresa é o Motorola Backflip.

A primeira vez que ele foi exibido aqui no Tecnoblog foi durante a CES 2010, quando fiz um vídeo com o celular em mãos. Na época, achei esse formato diferente, porém interessante. Não pude mexer no aparelho por mais de dez minutinhos, então não tinha como formar uma opinião sólida sobre ele. Mas depois de duas semanas de teste com a unidade enviada pela Motorola, acho que já posso ter uma ideia de quais são seus pontos fortes e fracos.

Tela, teclado e o Backtrack

São 3,1 polegadas de tela sensível ao toque com resolução de 320 x 480 pixels, que vão ser bastantes para muita gente. A prova disso é que tenho dedos gordos e achei a tela espaçosa o suficiente. Por ser um Android, a tela inicial do Backflip permite várias configurações diferentes, sendo possível usar widgets, aplicativos ou pastas em todas as 5 páginas (home screens) disponíveis.

As opções de entrada de texto no aparelho são diversas. Com a tela sensível ao toque, podemos usar um teclado QWERTY virtual na vertical ou horizontal. Ao ser aberto, o espaço da tela que era ocupado pelo teclado passa a dar espaço para qualquer aplicativo sendo usado no momento e o teclado físico entra em ação. Ele não é muito sensível, mas também não é travado, duro de apertar. Quem já está acostumado a digitar em teclados QWERTY não vai ter dificuldade.

O diferencial do aparelho, além do fato dele fechar pelo avesso, é a área sensível ao toque que fica atrás da tela, batizada pela Motorola de Backtrack. Ela serve para navegação e seleção nos variados menus. E pode atrapalhar um pouco se você gosta de digitar com o teclado físico e mantém os dedos atrás da tela. Pode parecer estranho, mas eu já escrevi em lugares errados por causa disso.

Ainda assim, decidi fazer o que chamei de ‘experiência de primeiro contato’ e mostrei o Backtrack para alguns amigos que não o conheciam. A reação da maioria deles foi a mesma que tive em Las Vegas: cara confusa seguida da pergunta “Para quê?!”. Fato é que quem já tem ou teve um celular touchscreen não vê a necessidade de quebrar o paradigma da tela sensível ao toque. Pode até ser que essa nova geração de usuários de celular ache o Backtrack útil e use-o com maior frequência. E é possível que a Motorola tenha feito uma inovação espetacular em método de navegação e seleção com o Backtrack e que será adotada por várias fabricantes no futuro. Mas nessa realidade, a inovação ainda atrapalha.

Qualidade de chamada e dados

Testei o Backflip em São Paulo usando a rede da TIM. Por causa desses dois fatores, eu já esperava que algumas chamadas iriam se perder, outras iriam direto para a caixa postal e as que eventualmente fossem completadas teriam a mesma nitidez de uma chamada feita pelo Skype em um modem de 56k. Ainda bem que eu estava enganado. Não perdi chamadas, não ouvi ligações caindo, nada.

Um terceiro fator que me deixou certo de que o sinal de recepção seria ruim é a posição da antena de recepção, que fica atrás do chip de memória. Eu achei que haveria alguma interferência aí. Mas ei, não sou engenheiro de telecomunicações, então tenha isso em mente antes de xingar minha mãe nos comentários.

A recepção de dados variou bastante entre EDGE e 3G, mas na maior parte das vezes o símbolo do 3G permaneceu na tela. Diga-se de passagem, até em certos pontos do metrô a recepção foi boa.

GPS, Bluetooth e USB

“Inconstante” é a melhor palavra que pude encontrar para definir a recepção de GPS do Backflip. Por vezes cheguei a deixá-lo com o Google Maps aberto durante meia hora, tocando constantemente na tela para que ela não apagasse. E o celular não capturou o sinal de um satélite sequer. Em outros momentos, era só abrir o aplicativo para que o sinal fosse encontrado sem problemas.

Dito isso, é preciso notar que ele vem com a função de localização geográfica (geolocalization; que detecta seu posicionamento baseado na rede de dados ou Wi-Fi em que o celular conecta), que pode ajudar a substituir o sinal de GPS. Quando finalmente funciona, o serviço de encontrar caminhos é ótimo, talvez por ser construído baseado no Google Maps.

O Bluetooth, no entanto, não decepciona. Esse é um dos poucos celulares testados por mim que vêem com streaming A2DP  via Bluetooth. Fiz o teste em um carro compatível e foi possível fazer streaming de música do celular para os autofalantes do veículo sem problema. A transmissão de arquivos normais, entretanto, não está habilitada no aparelho.

As músicas foram colocadas no celular através da entrada micro USB proprietária da Motorola. Felizmente, eles fornecem um cabo para fazer a ligação. E nem precisa se preocupar em organizar os arquivos. Você só conecta no seu computador, joga o que quiser no disco removível e, assim que desconectar, o próprio celular detecta os tipos de mídia e já armazena os arquivos nos locais certos. O celular testado veio com um chip de 2GB dentro dele e outro na caixa de 8GB.

Player de música e vídeo

Usar o Backflip como player de mídia não decepciona. Os dois aplicativos de gerenciamento de música e vídeos funcionam como deveriam. Só queria que eles tivessem inclusa uma opção de gerenciar a música por meio do cabo dos fones, mas isso é porque estou mal-acostumado com a Apple. O player de música suporta os formatos mp3, aac, aac+, wav e midi. E nos três primeiros formatos, ele também consegue reconhecer a capa do álbum.

O reprodutor de vídeo suporta os codecs H.263, H.264 e MPEG-4. A tela tem uma trava de inclinação específica que permite apoiá-lo em uma superfície e assistir aos vídeos sem precisar ficar olhando para baixo o tempo todo (como no iPhone). Essa mesma trava de inclinação ativa o modo de relógio. Vídeos do YouTube podem ser assistidos por meio do aplicativo exclusivo com esse fim. E se a conexão for confiável, eles tocam com uma boa qualidade e utilizando todo o espaço da tela.

Android 1.5, Apps e Motoblur

Como falar de um celular e não falar do sistema que roda nele? O Android 1.5 que vem no Backflip é cheio de funções habilitadas e modificações interessantes da fabricante. Mas a quantidade de extras é obstruída algumas vezes pela lentidão. Seja ao passar ícones na tela ou para trocar de música no aplicativo, alguns comandos demoravam bastante para ser processados, enquanto que outros eram rápidos e rasteiros. Não achei um padrão para quando isso acontecia.

Felizmente, a própria Motorola diz que o Backflip é atualizável para a versão 2.1 e espera-se que essa atualização traga algumas melhorias no meio como ele regula o processamento. O quanto disso vai ser influenciado pelo processador do aparelho não há como saber, é preciso mesmo esperar.

Por ser um celular Andorid, a loja oficial do aparelho é o Android Market. A partir dela é possivel baixar os mais diversos aplicativos, desde apps que transformam o LED da câmera em lanterna até apps de som de flatulências. Testei várias. E até recomendo o Seesmic como cliente para Twitter, se alguém precisar. E não, sr. Steve Jobs, não achei a loja cheia de porn da qual o senhor tanto fala.

Além disso, por ser um celular Android e da Motorola, o Backflip também veio com o Motoblur, um serviço agregador de redes sociais como Orkut, Facebook, Twitter, MySpace, Picasa e alguns outros. Ele permite que você veja as últimas novidades em cada rede. Esse é até um serviço interessante, mas que vem com uma falha boba: não há como definir um intervalo de atualização. Se você cadastrou três redes sociais no Motoblur, ele vai checar por novidades constantemente, sempre que achar uma conexão com a internet. E qual é a principal conexão do celular? Conexão de dados. E quanto custa a conexão de dados no Brasil? Caro. Muito caro.

Não me leve a mal, o Motoblur é certamente uma vantagem para quem usa o celular como principal meio de comunicação com as redes sociais. Mas para alguém como eu, que quer salvar os seus míseros 250 MB de dados mensais para usar postando fotos apenas no Twitter, não ter um botão ‘desligar checagem automática’ ou uma opção ‘checar por atualizações apenas a cada 2 dias’ é irritante.

Câmera

Os 5 megapixels do Backflip dão para o gasto. A imagem estática é boa, sem muita granulação, principalmente de dia. À noite ela não é grande coisa, mas em geral nenhuma câmera de celular é. Não há muitas opções de edição antes de tirar a foto, mas o editor de imagens que vem com o Android dá conta do recado na pós-edição. Abaixo estão alguns exemplos de fotos tiradas com o aparelho na resolução máxima.

Em matéria de vídeo, há espaço para melhorias. O celular só grava no formato 3GP, escolhido pela qualidade e tamanho específicos para aparelhos móveis. Mas ainda assim, um codec melhor poderia ser usado. O editor de vídeos integrado no aparelho permite o corte específico de um período do filme, sem perda de qualidade.

Bateria

A melhor que já testei. Passei mais de 4 dias diretos sem plugá-lo na tomada. E nesse meio tempo devo ter recebido e feito no mínimo uma dúzia de ligações e usado o aparelho para ver vídeos e ouvir música durante umas 2 horas por dia. Foi um uso moderado, mas ainda assim a carga da bateria de íon de lítio do Backflip não deixou nem um pouco a desejar. Ao menos depois de colocada no aparelho. Antes disso, eu tive que batalhar com uma tampa de bateria estúpida cujas instruções para abrir estavam desenhadas na parte de dentro. Sério. Estranhamente, a unidade que a Garota Sem Fio conseguiu para resenhar foi o contrário. Talvez a Motorola esteja indecisa, vai saber.

Conclusão

Como celular, o Backflip impressiona. Ele roda um bom sistema operacional, tem um formato inusitado, uma câmera decente e um catálogo de funções diferentes. É o um ótimo Android para quem está acabando de chegar no mercado e quer descobrir qual é a desse sistema operacional do Google que muita gente fala.

Como um smartphone, para pessoas que vão exigir mais do aparelho, ele pode deixar um pouco a desejar. Quem é da área de tecnologia ou já usou um celular com tela sensível ao toque corre o risco de não gostar desse aparelho. Mas não é necessário ir muito longe para encontrar um Android bom. O Motorola Milestone, que acabou de ganhar a atualização para o Android 2.1, pode ser uma melhor pedida, apesar de custar um pouco mais.

Falando em preço, de acordo com o Zumo, ele é vendido por R$ 499,00 no plano de 200 minutos da Vivo ou por R$ 1699,00 no plano pré-pago.

Aviso | A unidade do Motorola Backflip usada nessa análise foi cedida pela fabricante. O celular será sorteado entre os leitores do TB amanhã.

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Rafael Silva

Rafael Silva

Ex-autor

Rafael Silva estudou Tecnologia de Redes de Computadores e mora em São Paulo. Como redator, produziu textos sobre smartphones, games, notícias e tecnologia, além de participar dos primeiros podcasts do Tecnoblog. Foi redator no B9 e atualmente é analista de redes sociais no Greenpeace, onde desenvolve estratégias de engajamento, produz roteiros e apresenta o podcast “As Árvores Somos Nozes”.

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