Bastidores: como a Nokia mapeia as ruas das cidades brasileiras
O trabalho dos analistas de campo, que percorrem todas as ruas do país
A Nokia organizou ontem à noite uma coletiva de imprensa para anunciar as novidades do Here Maps, o sistema de mapas que acompanha os smartphones Lumia e está disponível para diversas plataformas, inclusive na web. Durante o evento, tivemos a oportunidade de andar num dos carros do Here para conhecer em detalhes os bastidores do trabalho que a Nokia faz para mapear as ruas do país.
Como a Nokia mapeia as ruas? Uma dupla de analistas de campo recebe uma tarefa e um prazo para concluí-la: uma cidade pequena, por exemplo, demora uma ou duas semanas para ser mapeada. Eles andam com um Fiat Doblò por todo o Brasil e podem ser designados para percorrer tanto o Parque Ibirapuera (se estiverem com sorte) ou o congestionado centro da cidade de São Paulo (caso tenham passado por baixo de uma escada no dia anterior).
O Fiat Doblò da Nokia é adaptado com várias câmeras no teto (quase um Street View do Google!) e computadores com GPS, que se encarregam de identificar automaticamente as fotos com a localização, para posterior análise, e guardam as informações num disco rígido. Todas essas informações são enviadas para uma central de processamento da Nokia assim que as máquinas se conectarem à internet, fora do veículo.
Esse carro tecnológico da Nokia, aliás, merece um parágrafo dedicado: ele tem sérios problemas para subir ruas íngremes (não posso contar publicamente o que chegou a acontecer durante o passeio) e, apesar de haver um adesivo na traseira informando que o veículo anda lentamente e pode fazer paradas frequentes, as buzinas e xingamentos de outros motoristas estressados são inevitáveis.
Entretanto, apesar de haver computadores e GPS no carro, o trabalho dos analistas de campo está muito longe de ser automatizado, como alguns podem pensar. Enquanto um dirige, outro precisa coletar inúmeras informações do local: é necessário identificar cada placa, cada número de esquina de rua, cada faixa e cada sentido, usando uma espécie de tablet. Pontos de interesse, como restaurantes, concessionárias de automóveis e shoppings, precisam ter nome, telefone e email registrados na hora, de preferência sem parar o veículo.
A quantidade de informações que um analista coleta durante sua jornada de trabalho, que dura de seis a sete horas por dia, é enorme. Experimente anotar todas as placas e dados de estabelecimentos enquanto estiver andando de carro pela cidade: esse é o trabalho deles, parece algo impossível para pessoas normais, e eu não teria coragem de fazer isso. Os analistas dizem que conseguem dar conta do recado – o veículo anda mais lento que o normal, claro, e o motorista pode dar uma força.
Durante a viagem, é normal encontrar alguns desafios. Em Maceió, já encontraram uma rua que tinha, do lado esquerdo, uma casa de número 69; do lado direito, outra casa com o mesmo número 69. Eles não entram em condomínios fechados e favelas, mas precisam identificá-los com um código. E os mapas precisam ser os mais detalhados possíveis: têm que conter informações sobre passagens de pedestres, pontes e áreas (em cemitérios, por exemplo, é necessário andar pelo entorno para verificar o tamanho e indicá-lo no mapa).
No caso de cidades que mudam constantemente, como São Paulo, é necessário percorrer o mesmo trajeto várias vezes. Um exemplo é a Marginal Tietê, que sofreu diversas reformas no ano passado, com várias mudanças de faixas. Se uma rua mudar de nome (e apenas o nome), não importa: eles não podem simplesmente entrar no sistema da Nokia e atualizar o nome, precisam percorrê-la novamente. Estabelecimentos que abriram ou fecharam precisam ser adicionados ou removidos. Novas ciclovias também devem ser identificadas.
As atualizações são feitas diariamente, mas cada cliente que vende produtos com os mapas da Nokia (como a Microsoft, com o Bing Maps) pode decidir a frequência com que deseja liberar as atualizações para o público. No caso dos mapas que acompanham o Windows Phone, há quatro atualizações por ano. Segundo a Nokia, dos 92 carros vendidos no Brasil que possuem GPS embarcado, apenas um não utiliza a tecnologia da finlandesa.
Dá para perceber que é uma tarefa bastante complicada. Para o usuário comum, como eu e você, que simplesmente liga um GPS ou abre um serviço de mapas, digita o endereço e encontra tudo rapidamente em segundos, é difícil imaginar que há tanto trabalho humano envolvido. Mas alguém tem que fazer o trabalho sujo, e o resultado final vale muito a pena.
Observação: por questões de sigilo e propriedade intelectual, não fomos autorizados a publicar fotos com definição maior.
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