A ciência pode, enfim, ter encontrado um jeito viável de converter luz em matéria
Converter luz em matéria. Cientistas vêm debatendo esta possibilidade pelo menos desde 1934, quando os pesquisadores Gregory Breit e John A. Wheeler descreveram uma teoria a respeito do assunto. Mas só agora, 80 anos depois, é que a ciência parece ter encontrado o caminho que poderá fazer esta ideia pular os muros dos filmes de ficção para se tornar realidade.
Publicado recentemente pela Nature Photonics, o trabalho em questão foi desenvolvido por físicos do Colégio Imperial de Londres. O que os pesquisadores propõem é, basicamente, uma maneira de colocar em prática a teoria formulada por Breit e Wheeler – e que eles mesmos chegaram a questionar se, um dia, alguém conseguiria fazê-lo.
Resumidamente, a tal teoria descreve que é possível dar origem à matéria a partir da luz fazendo com que dois fótons (partículas elementares sem massa da luz) se colidam em alta velocidade, processo que geraria um elétron e um pósitron. Trata-se, de certa maneira, do oposto do procedimento conhecido como “Aniquilação Elétron-Pósitron”, quando um elétron e um pósitron se colidem (ambos se anulam) e se “transformam” em fótons.
Em 1997, pesquisadores do Centro de Aceleração Linear de Stanford chegaram a fazer uma experiência do tipo, mas esta foi uma exceção possível graças à alta tecnologia do lugar: a verdade é que nunca houve uma maneira viável de executar a colisão de fótons. Até agora.
Os cientistas de Londres querem atacar este problema por meio de um “colisor fóton-fóton” que funciona da seguinte maneira: um laser de alta potência é utilizado para fazer elétrons colidirem com uma placa de ouro e, assim, gerarem um feixe de fótons potente; posteriormente, uma câmera também de ouro chamada Hohlraum (termo alemão que pode ser entendido como “espaço totalmente vazio”) também é atingida por um laser, criando um campo de luz tão intenso que pode ser comparado à iluminação oriunda das estrelas.
A etapa final consiste em direcionar o feixe da placa para o campo gerado no Hohlraum, fazendo com que os fótons de ambas as partes se colidam e, por fim, gerem elétrons – e pósitrons – em quantidade suficiente.
Os pesquisadores afirmam que é possível realizar o experimento utilizando tecnologias disponíveis atualmente, tanto é que eles pretendem fazer uma demonstração prática dentro dos próximos 12 meses – este tempo é necessário porque, apesar de possível, o procedimento é deveras complexo.
Mas, se tudo der certo, a ciência pode estar prestes a ter uma base bastante forte para resolver uma série de problemas, entre eles, entender os pormenores dos 100 primeiros segundos da teoria do Big Bang. Mas, eventualmente, até futuras pesquisas sobre teletransporte podem ser beneficiadas – não custa sonhar alto, né?