Documento da FTC indica que Google manipulou buscas para destacar serviços próprios
No início de 2013, integrantes da Comissão Federal de Comércio dos Estados Unidos (FTC, na sigla em inglês) decidiram encerrar a investigação antitruste que o Google vinha sofrendo depois que a companhia se comprometeu a adotar práticas mais saudáveis para o mercado. Mas um relatório “vazado” recentemente indica que o caminho seguido não deveria ter sido esse.
Com 160 páginas, o documento é sigiloso, mas aparentemente foi disponibilizado por engano pela FTC, embora de maneira incompleta. O Wall Street Journal teve acesso ao relatório e contatou a entidade para solicitar as páginas faltantes.
O pedido foi negado, mas as partes disponíveis permitiram ao jornal extrair conclusões importantes. A principal delas é a de que o Google tinha, pelo menos na época investigada, mais domínio do mercado norte-americano de buscas do que se pensava.
A equipe técnica que analisou o caso e elaborou o documento concluiu que a companhia usou mesmo táticas anticompetitivas, prejudicando usuários e concorrentes. O Google teria favorecido seus serviços nos resultados de buscas e piorado o posicionamento de links de empresas que oferecerem comparação de preços, por exemplo.
Diante das evidências, a equipe técnica recomendou aos comissários a abertura de ações judiciais contra o Google. O Wall Street Journal destaca que não é comum os comissários ignorarem essas recomendações, mas foi exatamente isso o que aconteceu.
É verdade que os comissários também receberam indicações de departamentos da FTC contrários a medidas mais duras contra o Google. O que fez a entidade acabar não acatando a recomendação dos técnicos não ficou claro, no entanto.
Mas há um detalhe curioso nesse ponto: uma ação antitruste teria colocado o governo de Barack Obama contra um de seus maiores aliados – o Google foi a segunda corporação que mais contribuiu com a campanha eleitoral do presidente.
O vazamento do relatório não deve levar à reabertura do caso pela FTC, mas pode ajudar companhias que têm se queixado de práticas supostamente monopolistas do Google, como é o caso do Yelp. O documento também pode favorecer a averiguação antitruste contra o Google que a Comissão Europeia vem promovendo.
Investigações do tipo frequentemente são complexas e demoradas, mas essa história toda há tempos nos dá uma impressão eminente: a de que o Google abandonou mesmo o lema “don’t be evil“.
Atualização em 27/03/2015 às 18:00: a FTC liberou uma nota afirmando que as informações acessadas pelo Wall Street Journal são apenas uma fração do documento. Após extensa análise de todo o material, os comissários concordaram que não havia base legal para uma ação focada na investigação. Em outras palavras, a entidade concluiu que o Google não realizou práticas comprovadamente anticompetitivas. A FTC declarou ainda que o Google tem respondido satisfatoriamente ao compromisso de adotar medidas que não o privilegiam no mercado.