Baliza é moleza para os carros que estacionam sozinhos

Enquanto os carros autônomos não chegam, a indústria aposta em tecnologias que estacionam o veículo para você

Emerson Alecrim
• Atualizado há 1 ano e 7 meses
Ford Parking

Carros totalmente autônomos serão mais comuns nas ruas do que grupos de família no WhatsApp. Mas esse dia vai demorar para chegar. Enquanto isso, a indústria automotiva tenta facilitar a vida dos motoristas. Uma tecnologia que vem ganhando força é a que faz o carro estacionar sozinho, um alívio para quem tem pavor de baliza.

Um conhecido meu, motorista experiente que é, certa vez disse que quem não sabe fazer baliza não deveria ter CNH. Foi um discurso um tanto agressivo, mas, de fato, a premissa básica de um documento como esse é atestar que a pessoa tem as habilidades necessárias para controlar um carro, ao menos nas situações corriqueiras.

Mas não é só questão de saber ou não saber. Conheço gente que dirige há tempos, mas odeia estacionar o carro quando o espaço para manobra é muito reduzido ou quando a vaga fica em um aclive: é necessário considerar o tamanho do automóvel, as distâncias entre os demais veículos, a aproximação de pedestres, os pontos cegos e por aí vai.

Em resumo, estacionar é um procedimento difícil para uns e simplesmente irritante para outros. Se de um lado há gente que não se importa com isso, de outro, existe uma legião de pessoas que vê aí o principal problema de assumir a direção de um carro.

Estacionando

Olha, mãe, sem as mãos!

A indústria automotiva sabe disso. Sabe tão bem que alguns fabricantes decidiram explorar o assunto. As soluções mais simples consistem em sensores e câmeras traseiras que ajudam o condutor a estacionar o veículo. As mais avançadas assumem todo o trabalho de estacionar — ou quase todo.

Um exemplo vem da Ford. Na semana passada, a companhia anunciou uma nova versão de seu sistema avançado de assistência à direção (ADAS, na sigla em inglês). A tecnologia tem entre suas funções um mecanismo de alerta para prevenção de colisões, um monitor de pontos cegos e um assistente de estacionamento (Active Park Assist).

Active Park Assist da Ford

Essa tecnologia existe há alguns anos, estando disponível em vários países para modelos como Ford Focus e Ford Edge. O que o sistema faz, basicamente, é utilizar sensores para medir a vaga e, assim, determinar se o carro cabe ali. Se positivo, a tecnologia assume o volante e realiza as manobras, cabendo ao motorista controlar os pedais e acionar a ré quando necessário.

Para iniciar o procedimento, tudo o que o condutor precisa fazer é parar o carro em um ponto paralelo à vaga, mas um pouco à frente, e apertar um botão. O sistema começará a fazer a manobra. Na versão mais recente da tecnologia, não é necessário controlar os pedais: o computador também assume essa tarefa.

Sair também é uma missão que cabe ao Active Park Assist da Ford, com um diferencial: sabe quando você está saindo de ré da vaga de estacionamento e uma pessoa ou um veículo passa atrás bem nesse momento? Pois então, os sensores também são capazes de detectar obstáculos móveis e paralisar a manobra para evitar atropelamentos ou colisões.

De acordo com a Ford, a tecnologia funciona tão bem que, se todos os carros a tivessem, haveria mais vagas para estacionamento nas ruas: como os cálculos são precisos, os veículos poderiam ficar mais próximos uns dos outros e, mesmo assim, serem manobrados automaticamente com segurança.

Use o smartphone para estacionar

É claro que a Ford não é a única a apostar em tecnologias de estacionamento automático. Companhias como Volvo, Volkswagen e BMW também têm sistemas do tipo, só para dar alguns exemplos. Todos funcionam de maneira parecida: sensores e câmeras ajudam um computador de bordo a analisar o espaço e realizar a manobra mais adequada para o estacionamento.

No ano passado, uma tecnologia da Mercedes-Benz roubou a cena por apresentar um diferencial inusitado: a possibilidade de ordenar que o carro estacione em uma vaga ou saia dela a partir do smartphone.

A ideia é que você fique perto do carro, abra o aplicativo correspondente e, via Bluetooth, faça sincronização com o computador do veículo. Depois disso, você pode dar comandos a partir de toques na tela para o automóvel ir para frente ou para trás e, claro, manobrar.

Coisa de filme, né? Parece o tipo de ideia que serve apenas para impressionar. Mas a Mercedes afirma que há aplicação prática aqui, sim: ao usar o smartphone, você pode manobrar visualizando diretamente todo o espaço disponível e os obstáculos, afinal, você está fora do carro. Segundo a companhia, esse recurso é especialmente útil para estacionar automóveis grandes, como é o caso do Classe E.

As ideias não acabam aí. A Volkswagen, por meio da Audi, estuda há algum tempo uma tecnologia que vai ainda mais longe: um carro que procura uma vaga sozinho, estaciona nela e, a partir de um comando enviado via smartphone, sai dali para ir até você.

Por ora, essa tecnologia não passa de um conceito, mas seria ótimo descer do carro na porta do estacionamento (de um shopping, por exemplo) e deixar que o veículo se encarregue de achar uma vaga, não? É claro que há alguns riscos, como o de o sistema ser hackeado ou o carro tentar entrar em uma vaga que já estava sendo cogitada por outra pessoa, mas são aspectos que podem ser trabalhados.

Não precisa ser para todo mundo

Em 2011, a Ford realizou uma pesquisa na Europa para saber se tecnologias de estacionamento automático são mesmo relevantes. De cada três motoristas entrevistados, um admitiu ter que tentar mais de uma vez quando precisa estacionar o carro em fila. O levantamento também apontou que o problema causa mais estresse entre jovens, afinal, eles são menos experientes na direção.

Esses dados indicam que, sim, tecnologias do tipo fazem diferença para muita gente, podendo até pesar na decisão de compra do veículo. Mas elas não servem para todo mundo.

Há relatos de motoristas que compraram carros com Active Park Assist que estão tão habituados a estacionar o veículo que simplesmente esquecem de acionar a tecnologia. Alguns até se lembram que o recurso está lá, mas preferem fazer o procedimento manualmente por acharem que são mais rápidos.

Active Park Assist da Ford

Também há algumas limitações: dependendo do fabricante ou do carro, a tecnologia pode requerer um espaço maior que o disponível para a realização da manobra. Nessas circunstâncias, se você tem certeza que o carro cabe ali, terá que estacioná-lo por conta própria. Leve em conta também que a tecnologia não é à prova de falhas.

Mas, de modo geral, esse tipo de sistema mais ajuda do que atrapalha. Isso é importante para o setor: assim como o câmbio automático, tecnologias de estacionamento podem atrair compradores que têm pouca familiaridade com carros.

Para a indústria automotiva, o importante é vender, não importa se para motoristas experientes ou novatos. Por conta disso, dá para esperar que o Active Park Assist e sistemas similares sejam comuns nos próximos anos, inclusive em carros mais acessíveis.

Leia | Como funciona a direção autônoma; entenda os níveis

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Emerson Alecrim

Emerson Alecrim

Repórter

Emerson Alecrim cobre tecnologia desde 2001 e entrou para o Tecnoblog em 2013, se especializando na cobertura de temas como hardware, sistemas operacionais e negócios. Formado em ciência da computação, seguiu carreira em comunicação, sempre mantendo a tecnologia como base. Em 2022, foi reconhecido no Prêmio ESET de Segurança em Informação. Em 2023, foi reconhecido no Prêmio Especialistas, em eletroeletrônicos. Participa do Tecnocast, já passou pelo TechTudo e mantém o site Infowester.