Microsoft vs. Google é a batalha pelo futuro das buscas na web

O fenômeno do ChatGPT escancarou um novo campo de disputa para as gigantes da tecnologia: vence quem tiver a melhor inteligência artificial

Josué de Oliveira
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• Atualizado há 1 ano e 1 mês
Em parceria com a OpenAI, Microsoft ganha novas armas para enfrentar o Google (Imagem: Vitor Pádua / Tecnoblog)
Em parceria com a OpenAI, Microsoft ganha novas armas para enfrentar o Google (Imagem: Vitor Pádua / Tecnoblog)

A julgar pelos acontecimentos deste início de 2023, a inteligência artificial vai se tornar um aspecto intrínseco do uso da internet. Pelo menos essa parece ser a aposta de Microsoft e Google.

Vamos recapitular. No final do ano passado, foi lançado o ChatGPT. O chatbot da OpenAI, baseado no modelo de linguagem GPT 3.5, se tornou um dos tópicos mais comentados no noticiário de tecnologia. Consegue gerar textos sobre temas variados em segundos, e já tem sido utilizado no contexto da educação e da imprensa, com resultados controversos.

A ferramenta abre muitas possibilidades, e o Google ficou preocupado. Ainda em 2022, a empresa entrou em código vermelho devido ao chatbot. O motivo: e se o ChatGPT pudesse alterar a maneira como as pessoas fazem buscas na internet?

Para piorar, a Open AI tem uma parceria de anos com a Microsoft. E esta não demorou para pôr as asinhas de fora, anunciando que a tecnologia do ChatGPT chegará ao seu buscador, o Bing, através do modelo Prometheus. Sua vez, Google.

Bem, o Google respondeu com o seu próprio chatbot aplicado a buscas: o Bard. Ambas as empresas estão iniciando o período de testes, tendo apresentado suas soluções em eventos colados um no outro (o da Microsoft no dia 07/02, o do Google no dia seguinte).

Com isso, as duas gigantes sinalizam que a busca na web vai sofrer mudanças. O que isso significa não está totalmente claro; já os motivos pelos quais essa mudança se anuncia, estes são um pouco mais fáceis de perceber.

Como o chatbot vira um buscador

Por que uma empresa como o Google entra em código vermelho por causa de um chatbot? A lógica é bem simples. As respostas do ChatGPT são em linguagem natural, ou seja, uma boa simulação de como um humano escreveria. Para responder, o ChatGPT recorre aos milhões de exemplos de textos da web que fazem parte de sua base de treinamento.

Se um chatbot tão avançado consegue responder perguntas com base em textos da web, e de forma tão natural, não estaríamos diante um novo tipo de buscador? O salto de uma coisa para a outra não é necessário, mas o potencial está ali.

ChatGPT em português (imagem: Emerson Alecrim/Tecnoblog)
ChatGPT em português (imagem: Emerson Alecrim/Tecnoblog)

Em suma, os modelos de linguagem podem organizar informações e entregá-las em partículas textuais de fácil compreensão. Com um chatbot, o usuário tem acesso mais imediato ao que procura, e com menos estímulos na tela (pesquisas semelhantes, links para comprar produtos, “as pessoas também perguntam”) e nenhum anúncio.

Este ponto é particularmente sensível, como discorremos no Tecnocast 275. Afinal, anúncios são a principal fonte de receita do Google. E o Bing pode não ser o buscador mais popular do mundo, mas também rende alguns bilhões para sua empresa mãe em anúncios.

Separados dos buscadores, os modelos de linguagem representam um problema ao modelo de negócio que os sustenta. A solução, portanto, é uni-los de alguma forma.

O que sabemos sobre esses sistemas?

Até o momento, só o básico: Prometheus e Bard vão vasculhar a internet em busca de respostas para as perguntas dos usuários e apresentá-las em linguagem natural. Microsoft e Google prometem resultados atualizados e de alta qualidade.

E como será isso visualmente? Bem, de acordo com as demonstrações liberadas por Microsoft e Google, os resultados de pesquisa tradicionais seguirão mais ou menos iguais. As respostas do chat virão num campo separado. Faz sentido ter as duas coisas próximas, afinal, como falamos, os anúncios ainda precisam estar ali.

Outro ponto que já está um pouco mais claro é a indicação das fontes, uma das principais críticas ao ChatGPT. O chatbot não explica de onde tirou as informações que está apresentando. Tanto o novo Bing quanto o Google tentam melhorar isso.

Novo Microsoft Bing tem caixa de texto maior para escrever perguntas
Novo Microsoft Bing tem caixa de texto maior para escrever perguntas (Imagem: Divulgação/Microsoft)

Dos dois, o Bing é o que tenta chamar mais atenção para as fontes, que surgem em notas de rodapé e links ao final do texto, mas também no próprio texto da resposta (confira os exemplos disponíveis na página do novo Bing). No caso do Google, os links para os sites de referência aparecem apenas ao final do texto, como mostrado no blog da empresa.

Mas quem foi que disse?

Esse aspecto as fontes é de suma importância para os criadores de conteúdo, dos “amadores” aos jornalistas profissionais. Afinal, esses sistemas não produzem informações, apenas as reúnem de vários cantos da internet e organizam num texto coerente. Os links são um convite aos usuários para conferir as referências, e assim recompensar os criadores com visualizações.

Mas há o temor de que esse novo tipo de busca prejudique os verdadeiros produtores do conteúdo. Afinal, se os textos gerados pelos chatbots a partir das fontes encontradas forem um resumo tão bem feito deste conteúdo, por que o usuário se daria ao trabalho de procurar por mais material?

Num negócio em que visualizações significam renda, perder acessos para um chatbot pode ser arrasador para muitos veículos. Ao mesmo tempo, é destes veículos que os modelos de Google e Microsoft vão extrair as informações para gerar suas respostas…

Ou seja: a conta pode não fechar, e podemos esperar algum nível de tensão entre criadores de conteúdo e as empresas de busca.

A inteligência artificial é disruptiva por natureza. E, neste momento, estamos testemunhando mais um capítulo dessa história em que a tecnologia pode facilitar a vida de muitas pessoas — e, num mesmo movimento, gerar problemas para tantas outras.

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Josué de Oliveira

Josué de Oliveira

Produtor audiovisual

Josué de Oliveira é formado em Estudos de Mídia pela UFF. Seu interesse por podcasts vem desde a adolescência. Antes de se tornar produtor do Tecnocast, trabalhou no mercado editorial desenvolvendo livros digitais e criou o podcast Randômico, abordando temas tão variados quanto redes neurais, cartografia e plantio de batatas. Está sempre em busca de pautas que gerem conversas relevantes e divertidas.