Presidente da ABDI descarta ideia de um “WhatsApp nacional”

Ricardo Cappelli defende que a alta administração adote ferramentas de comunicação específicas para este fim.

Thássius Veloso
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• Atualizado hoje às 08:55
Suposto app nacional de mensagens foi apelidado de “Brazap” (ilustração: Vitor Pádua/Tecnoblog)
Resumo
  • Ricardo Cappelli, presidente da ABDI, defende o uso de uma ferramenta de comunicação segura para a alta administração federal, porém sem intenção de banir o WhatsApp.
  • Cappelli sugere que o WhatsApp pode não ser seguro para informações sensíveis, mencionando a possibilidade de cruzamento de dados pela Meta para publicidade direcionada.
  • A ABDI considera a contratação de soluções já existentes no mercado nacional, como um software da empresa catarinense Dígitro, em vez de desenvolver um novo aplicativo do zero.
  • O software Una oferece comunicação criptografada, videoconferência, e outras funcionalidades de segurança, sendo utilizado por órgãos como o Exército e a Polícia Civil.

O nome do presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial está no radar dos fãs da política há duas semanas devido à defesa de um suposto Brazap, um aplicativo de comunicação nacional para concorrer com o WhatsApp. Ricardo Cappelli explica ao Tecnoblog, no entanto, que a ideia dele é bem diferente do que foi ventilado na internet.

Cappelli avalia que a alta administração federal deveria utilizar uma ferramenta de comunicação com alta segurança, o que, na visão dele, não seria possível numa plataforma produzida por uma empresa privada baseada nos Estados Unidos. Ele classifica as matérias sobre o tal Brazap como um “factoide”.

“Ninguém quer banir nada”

Já no começo do papo, Cappelli explica que suas falas dizem respeito ao órgão que chefia, a ABDI. “Ninguém quer banir nada”, diz ele sobre a possibilidade de retirar o WhatsApp do mercado brasileiro. “No entanto, eu duvido que as lideranças de países sérios comuniquem informações sensíveis por meio de um aplicativo de um terceiro privado.”

Mesmo sem apresentar provas, Cappelli levanta a possibilidade de que a Meta cruze informações das trocas de mensagens do WhatsApp com outras plataformas da empresa (leia-se Instagram e Facebook) para exibir publicidade direcionada aos interesses do usuário.

Ricardo Cappelli é presidente da ABDI (imagem: divulgação/ABDI)

Ele lembra que os termos de uso do WhatsApp são genéricos e padronizados. Não há nenhum acordo específico com a administração pública para o tráfego de informações confidenciais.

Cappelli defende a adoção de ferramentas que tenham sido desenvolvidas para uso corporativo. É fato que diversas empresas – inclusive de tecnologia – recorrem a soluções mais sofisticadas que o WhatsApp para o compartilhamento de dados sensíveis, estratégicos ou confidenciais.

Ele estima que oito empresas nacionais procuraram a ABDI nas últimas duas semanas para demonstrar ferramentas mais robustas para a comunicação corporativa. A ideia é fazer uma licitação para comprar por volta de 70 licenças. Já no governo, ele acredita que os cargos mais altos deveriam adotar tecnologia similar.

Cappelli ainda elenca quais deveriam ser os atributos de um aplicativo de mensagens adaptado às necessidades do país:

  • Rede fechada
  • Criptografia
  • Envio de documentos
  • Telefonia por VOIP

“Quanto mais segurança, melhor, pois estamos falando de uma comunicação institucional”. A ferramenta poderia atender desde a Presidência, passando por ministérios, Forças Armadas, o Comitê de Política Monetária do Banco Central. Ele reflete sobre a necessidade de que todos os Poderes sejam contemplados.

App não será desenvolvido do zero

Ao contrário do que foi inicialmente compreendido por parte da sociedade, Cappelli descarta a possibilidade de usar dinheiro público para criar um aplicativo de comunicação do zero – o tal Brazap, como foi apelidado nas redes sociais.

Ele esclarece que a ADBI tem planos de contratar a solução de uma empresa nacional, que já seja reconhecida por atuar neste mercado. O exemplo que vem à mente é a Dígitro, empresa catarinense que atende diversos órgãos de segurança pública.

Interface inicial do software Una, desenvolvido pela empresa brasileira Dígitro (imagem: reprodução/Dígitro)

Quando foi secrétário do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), Cappelli avaliou a possibilidade de expandir o uso da tecnologia desta empresa para mais agentes da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal.

Ferramentas do Exército e da Presidência

A Dígitro oferece ao mercado uma “solução avançada de comunicação unificada e segura” chamada Una. O software conta com ambiente criptografado, funcionalidades como Siga-me e Não Perturbe, bloqueio de print e de encaminhamento de mensagens, além da possibilidade de reuniões em videoconferência.

A empresa foi procurada pelo Tecnoblog, mas não respondeu nossa tentativa de contato. O site oficial dela menciona diversos clientes, dentre eles a Polícia Civil do Espírito Santo e o Exército.

Nós também buscamos a Presidência da República, que nos explicou que os servidores públicos ligados a ela contam acessos ao Microsoft Teams e ao Zoom. “No entanto, não podemos precisar se alguma dessas ferramentas é utilizada para conversas sobre assuntos estratégicos da alta administração do Governo Federal”, informa a secretaria de comunicação.

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Editor

Thássius Veloso é jornalista especializado em tecnologia e editor do Tecnoblog. Desde 2008, participa das principais feiras de eletrônicos, TI e inovação. Também atua como comentarista da CBN, palestrante e apresentador. Já colaborou com diversos veículos, entre eles TV Globo, GloboNews e O Globo. Ganhou o Prêmio Especialistas em duas ocasiões e foi indicado diversas vezes ao Prêmio Comunique-se.