A Meta de Mark Zuckerberg é fazer você esquecer os problemas do Facebook

Facebook muda de nome em meio à crise com vazamento de documentos internos; nova marca é voltada para a construção do metaverso

Ana Marques
Por
• Atualizado há 1 ano e 6 meses
Mark Zuckerberg, CEO do Facebook (Imagem: Anthony Quintano/Flickr)

Facebook agora é Meta. O CEO da empresa anunciou a mudança de nome nesta quinta-feira (28), depois de muito papo sobre o conceito de metaverso e expectativas para o “futuro da internet”. Mas não estamos aqui para falar sobre o que é essa nova realidade (há alguns links abaixo, caso você esteja interessado). Aqui, vamos falar sobre o que pode ter motivado o rebranding do Facebook, o que Mark Zuckerberg ganha com isso e o que de fato muda para você (e eu, e todo mundo que usa os serviços da companhia).

Para começar: o Facebook que você usa continua o mesmo

A rede social mais usada do mundo continua se chamando Facebook. O aplicativo provavelmente não vai mudar de nome, ou trocar seu ícone com “F” e fundo azul. Assim como o Instagram e o WhatsApp, o Facebook agora é um dos produtos da Meta, a holding que está por trás de alguns dos apps mais populares do planeta. É algo semelhante à Alphabet e Google.

Mas sabe outra coisa que não muda? Mark Zuckerberg. Ele continua com poder total, como chefe da empresa. Isso quer dizer que se você já não estava muito confortável em compartilhar dados com os apps do ecossistema do Facebook, pode ter um problema ainda maior a caminho, no metaverso.

Por que mudar agora?

Zuckerberg passou uns bons minutos falando de metaverso durante o Facebook Connect e, segundo a companhia, essa é a principal razão para o Facebook estar mudando de nome. É um enorme passo e não à toa, o Facebook investiu US$ 10 bilhões na causa — o que é só o começo.

Meta, a nova marca da empresa de Mark Zuckerberg (Imagem: Divulgação/Meta)

Como “Meta”, o antigo Facebook se coloca no início de tudo, diretamente ligado ao novo conceito. Fica difícil não associar a companhia à origem do metaverso. Se isso é realmente o futuro da comunicação e da vida em sociedade, como eu acho que é, eu também ia querer que minha empresa tivesse um nome intimamente ligado a essa realidade.

Ok, um bom motivo… Mas não é o único.

Em entrevista publicada pelo The Verge, Zuck deu alguns outros motivos para o rebranding. Segundo ele, a ideia de mudar o nome vinha de antes, desde 2012, quando a companhia comprou o Instagram. Mas ele diz que apenas este ano percebeu que era hora de realizar a mudança.

Me pergunto o porquê…

Meta poderia ser apenas mais um braço do Facebook, uma divisão focada no metaverso e em AR/VR, de repente englobando os produtos desse ecossistema. Pelo menos por enquanto, já que o metaverso é uma ideia e não há nada efetivamente disponível para nós, meros mortais, usuários de plataformas tecnológicas. Então, por que mudar o nome da empresa agora? Você já deve ter respondido mentalmente, mas lá vai.

O passado condena o Facebook

Apesar de ser uma big tech altamente conhecida, o Facebook também tem uma reputação manchada, especialmente no quesito privacidade. Em 2018, houve toda a questão envolvendo a exposição de dados de milhões de usuários no caso Cambridge Analytica.

De lá para cá, as coisas não ficaram tão favoráveis. No início de 2021, um “mal-entendido” na comunicação fez com que muita gente ameaçasse deixar o WhatsApp devido a uma nova política, e colocou o mensageiro na mira de autoridades em diversos países.

WhatsApp (Imagem: Jeso Carneiro/ Flickr)
WhatsApp (Imagem: Jeso Carneiro/ Flickr)

Agora, um novo escândalo vem assombrando a companhia: o Facebook Papers, caso que jogou no ventilador alguns dos principais problemas da empresa, incluindo a fuga de jovens de sua principal rede social, desafios em moderação de conteúdo com a crescente onda de desinformação, especialmente em países emergentes, e embates com a Apple, que estaria disposta a retirar o Instagram e o Facebook da App Store.

Preocupações com privacidade

Recentemente, o Facebook começou a falar sobre novos óculos de realidade aumentada, que seriam uma porta de entrada para o metaverso. Apesar de ter lançado apenas um novo produto em parceria com a Ray-Ban (não muito inovador e bem semelhante ao da Snap, por sinal), houve muita crítica relacionada ao que isso pode se tornar algum dia.

Como a empresa vai tratar dados tão preciosos — isto é, basicamente toda a informação que está ao nosso redor, para a qual olhamos? Como impedir que ela registre o rosto de outras pessoas aleatórias, que passam por nós, pessoas que não estão nem um pouco dispostas a conceder permissão para isso?

Ray-Ban Stories
Ray-Ban Stories (Imagem: Divulgação/Facebook)

Certamente há profissionais pensando nesse assunto, em algum laboratório, neste momento. Mas associar todo esse desafio a um nome como “Facebook” pode tornar as coisas ainda mais difíceis.

“Meta” me parece mais simples. Direto. Positivo. Ainda não há um grande escândalo com o nome “Meta” nos jornais.

A Meta de Mark Zuckerberg

Mas enquanto eu vejo uma enorme lista de razões para uma empresa mudar de nome, tentando, desse modo, passar uma borracha no passado, Zuckerberg diz que é “uma coisa meio ridícula” de pensar, já que para ele “este não é o ambiente no qual você gostaria de apresentar uma nova marca”.

Ele dá outro motivo para a troca de nome, que considera benéfico ao usuário final: poder escolher ter uma conta em outro serviço da empresa mãe sem associá-la à rede social Facebook ou à rede social Instagram. Maior liberdade e versatilidade para construir novos produtos, por assim dizer. Levar a empresa para além do Social Media e para além do braço de VR/AR que já existe.

Por fim, o CEO da Meta contou ao Verge que entende que a mudança nesse momento pode parecer suspeita, mas espera que acreditemos em suas boas intenções, apesar disso.

“Acho que, em geral, os últimos cinco anos foram um grande período de aprendizado para mim e para a empresa”, pondera em relação à moderação de conteúdo e tratamento de dados no Facebook. “A privacidade é muito importante”, garante Mark Zuckerberg, “E também a segurança, especialmente se você estiver em um ambiente tão envolvente [como o metaverso].”

Receba mais notícias do Tecnoblog na sua caixa de entrada

* ao se inscrever você aceita a nossa política de privacidade
Newsletter
Ana Marques

Ana Marques

Gerente de Conteúdo

Ana Marques é jornalista e cobre o universo de eletrônicos de consumo desde 2016. Já participou de eventos nacionais e internacionais da indústria de tecnologia a convite de empresas como Samsung, Motorola, LG e Xiaomi. Analisou celulares, tablets, fones de ouvido, notebooks e wearables, entre outros dispositivos. Ana entrou no Tecnoblog em 2020, como repórter, foi editora-assistente de Notícias e, em 2022, passou a integrar o time de estratégia do site, como Gerente de Conteúdo. Escreveu a coluna "Vida Digital" no site da revista Seleções (Reader's Digest). Trabalhou no TechTudo e no hub de conteúdo do Zoom/Buscapé.

Relacionados