Apple evitou porta USB-C no iPhone 14, mas os dias do Lightning estão contados
Lightning se tornou o padrão dos iPhones há dez anos; sob pressão, Apple pode adotar USB-C como porta do iPhone 15
Lightning se tornou o padrão dos iPhones há dez anos; sob pressão, Apple pode adotar USB-C como porta do iPhone 15
A Apple aposentou a bandeja de SIM card no iPhone 14 – pelo menos nos EUA – mas outra tecnologia antiga segue presente: a porta Lightning. Ela ainda é baseada no padrão USB 2.0, e não é compatível com os cabos USB-C adotados pela Samsung, Motorola e inúmeras outras fabricantes de Android. Com a pressão da União Europeia, isso deve mudar no iPhone 15.
Na quinta-feira, a Apple anunciou o iPhone 14, 14 Plus, 14 Pro e 14 Pro Max, todos com a porta Lightning. Esse conector também está presente no estojo de recarga para os novos AirPods Pro de 2ª geração.
O USB-C é cogitado no iPhone desde que a indústria começou a implementá-lo nos smartphones. Mas, enquanto cada empresa podia fazer o que bem entendesse, a Apple seguia – e segue – usando seu formato proprietário.
Para o ano que vem, a história provavelmente será diferente. O analista Ming-Chi Kuo, conhecido por suas previsões sobre a Apple, afirma que a empresa vai abandonar a porta Lightning nos iPhones de 2023. Em vez disso, o “iPhone 15” – o nome ainda não foi confirmado – deve trazer a porta USB-C.
Além disso, segundo Kuo, os fornecedores de produtos USB-C para o ecossistema da Apple se tornarão “o foco do mercado” nos próximos anos. Isso indica que até mesmo outros produtos com Lightning, como o iPad básico e o estojo dos AirPods, devem mudar de conector.
A União Europeia quer que todos os smartphones, tablets e câmeras comercializados na região usem a porta USB-C. Essa medida está prevista para valer a partir do último trimestre de 2024; o projeto está em fase de aprovação pelo Parlamento e o Conselho da União Europeia.
A Apple até se manifestou contrária à proposta, alegando que a obrigação trará mais custos aos consumidores e limitará a inovação. Contudo, a crítica não convenceu os parlamentares.
O objetivo da restrição é diminuir o lixo eletrônico e permitir a interoperabilidade entre aparelhos. A partir do momento que um conector e carregador funciona em todos os dispositivos, o descarte pode ser reduzido. Estima-se que 51 mil toneladas de carregadores vão para o lixo anualmente.
Levando em conta que os modelos topo de linha deixaram de trazer carregador na caixa, eu considero a proposta da UE muito bem-vinda.
Vale lembrar que, no Brasil, a Anatel abriu uma consulta pública este ano sobre a padronização do USB-C em celulares, incluindo iPhones. E um grupo de senadores quer a mesma exigência nos EUA.
Segundo a Apple, mais de um bilhão de dispositivos com interface Lightning já foram produzidos. Entretanto, a empresa não lucra só com a venda de cabos e carregadores para esses gadgets, mas também com o licenciamento do Made For iPhone (MFi).
O selo MFi é uma certificação emitida pela Apple para atestar que acessórios, como cabos ou gamepads, estão nos padrões da empresa e são compatíveis com o iPhone, iPad e Apple Watch. Contudo, para receber esse aval, as fabricantes precisam pagar as taxas de licenciamento.
Com o fim da interface proprietária no iPhone, vários milhões de dólares podem deixar de entrar no caixa da empresa.
O USB-C já é tão popular que acabamos esquecendo como as coisas eram no passado. Cada empresa tinha um conector proprietário e era um pesadelo encontrar um novo cabo caso o anterior tivesse problema.
O falecido conector de 30 pinos da Apple era enorme e tinha… 30 pinos. Ele deu as caras em 2003, no iPod Classic. Em 2007, obviamente, esteve no primeiro iPhone. Acredite: a Apple ainda vende esse cabo por R$ 219.
Cada um dos 30 pinos representava um sinal: áudio, vídeo, energia, dados. Este conector utilizava as interfaces USB e DisplayPort, e trazia até mesmo áudio analógico. Com o avanço da tecnologia, estava na hora de mudar.
A troca para o Lightning ocorreu em setembro de 2012, com o anúncio do iPhone 5. O novo conector, totalmente digital, era 80% menor, favorecendo a redistribuição dos componentes internos. Outro ganho foi em relação à reversibilidade, ou seja, não importava o lado para encaixar no iPhone.
O Lightning deu indícios de que iria sair de cena em 2018, quando o USB-C apareceu no iPad Pro de 1ª geração. O público “Pro” precisava de mais flexibilidade, coisa que o Lightning não permitia — a menos que você tivesse dezenas de adaptadores.
Apesar de estrear em um iDevice em 2018, a tecnologia não era nova para a Apple nessa época. A empresa adotou a conexão em 2015, no MacBook de 12 polegadas que só tinha uma entrada USB-C. E a versatilidade já era vista aí: a porta podia ser usada para carregar, transmitir dados e conectar a um monitor ao mesmo tempo.
O USB-C começou a ser concebido no final de 2013 e ficou pronto em agosto de 2014. O conector trouxe a mesma proposta de ser reversível, como o Lightning, mas agregou muito ao mercado quanto às compatibilidades. Hoje, o formato é universal, compatível com USB 3.0, USB4, Thunderbolt, HDMI, DisplayPort e por aí vai. (Isso até gerou diversas complicações, mas aí é outra história.)
A Apple ainda não aposentou o Lightning nos iPhones, mas existem fortes indícios de que isso é apenas questão de tempo. Nessa longa espera, teve até quem criasse um modelo personalizado do iPhone X com porta USB-C, em vez do padrão antigo – ele foi vendido pelo equivalente a R$ 450 mil. Felizmente, o iPhone 15 não deve custar tão caro.
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