Loja Xiaomi não-oficial deu calote milionário, diz Rakuten Brasil
GenComm, dona da Rakuten Brasil, pede recuperação judicial; loja Xiaomi BRZ tem dívida de R$ 5,5 milhões
A GenComm, que assumiu a plataforma de comércio eletrônico da japonesa Rakuten no Brasil, entrou com pedido de recuperação judicial: ela está devendo R$ 46,4 milhões para quase dois mil fornecedores e lojistas. A empresa acusa a loja não-oficial Xiaomi BRZ de não entregar a maioria dos produtos aos consumidores, e de não pagar uma dívida de R$ 5,5 milhões.
A Rakuten oferecia serviços de tecnologia para varejistas no Brasil até outubro de 2019, quando suas operações locais foram adquiridas pela GenComm. A plataforma de comércio eletrônico, agora chamada GenMarket, continua no ar para lojas de produtos como celulares, notebooks, acessórios, roupas e perfumes.
A GenComm atua com serviços de pagamentos (antes chamado Rakuten Pay), serviços de entregas e desenvolvimento de sites de e-commerce. Ela acreditava que conseguiria ter lucro, ao contrário da Rakuten, que havia sofrido prejuízo de R$ 25 milhões ao longo dos últimos doze meses em que operou no país. O plano era demitir 130 dos 200 funcionários, reduzir o portfólio e cortar despesas de marketing.
Xiaomi BRZ não entregou 60% das compras
Então, a GenComm descobriu que os problemas financeiros eram mais graves. A loja não-oficial Xiaomi BRZ era um de seus principais clientes, correspondendo a 50% do faturamento da empresa; ela teve receita mensal de R$ 10 milhões entre fevereiro e setembro de 2019.
No entanto, a loja não entregou 60% das compras feitas pelos clientes, gerando um grande volume de chargebacks — ou seja, de contestações dos gastos feitos com cartão de crédito. Em setembro, o saldo negativo da Xiaomi BRZ era de R$ 4,8 milhões. A GenComm se reuniu com o lojista, que “simplesmente declarou que não tinha os valores necessários para saldar sua dívida”, explica o pedido de recuperação judicial.
Atualmente, o saldo negativo da Xiaomi BRZ está em R$ 5,5 milhões. “Todas as tentativas de cobrança de tal valor até hoje restaram infrutíferas, não tendo sido possível localizar patrimônio da Xiaomi BRZ para arcar com o prejuízo”, diz o documento.
Xiaomi BRZ encerrou dois CNPJs
O site xiaomibrz.com.br está fora do ar; a versão salva pelo Internet Archive menciona “pagamentos por Rakuten Pay”. O CNPJ era 33.507.277/0001-64, correspondente à Smart BRZ Comércio de Eletrônico Ltda., cujo e-mail era xiaomibrz@gmail.com. A empresa deu baixa na Receita Federal em outubro de 2019, segundo apurou o Tecnoblog.
Anteriormente, a loja atuava com o CNPJ 29.366.628/0001-97, de nome Xiaomi Brasil Comércio de Eletrônicos EIRELI e e-mail xiaomibrz@gmail.com. Ela deu baixa em novembro.
Por que a loja não-oficial deixou de entregar os produtos? A GenComm não explica, mas isso pode estar relacionado à apreensão de 30 mil produtos da Xiaomi em São Paulo por sonegação de imposto. A Secretaria Estadual da Fazenda e Planejamento disse em novembro que empresas de fachada vendiam celulares e relógios da marca chinesa pela internet sem recolhimento de ICMS.
Vale notar que a loja oficial da Xiaomi no Brasil, comandada pela DL Eletrônicos, não está relacionada ao pedido de recuperação judicial da GenComm. A DL é responsável pelas Mi Stores físicas em dois shoppings de São Paulo e pelo e-commerce mi.com.
Lojistas cobram explicações da GenComm e Rakuten
A Cielo encerrou relações comerciais com a Gencomm em 31 de janeiro, e o Itaú cortou uma linha de crédito de R$ 65 milhões. Como parte desse financiamento já havia sido concedido, todo o faturamento da empresa passou a ir diretamente para o banco, impedindo o repasse para os lojistas.
O pedido de recuperação judicial menciona dívidas no total de R$ 46,4 milhões com quase dois mil fornecedores. Eles vêm deixando inúmeros comentários nas redes sociais da Rakuten e de seu fundador, Hiroshi Mikitani, pedindo respostas para o que aconteceu. “Os lojistas estão há mais de um mês com o seu dinheiro preso nessa companhia, todos de mãos atadas sem conseguir fazer nada”, afirma Leonardo Mei, da marca de acessórios Piuka, ao Valor.
Leonardo explica ao E-Commerce Brasil que os atrasos nos pagamentos começaram em janeiro, quando as lojas deveriam receber valores referentes às vendas na Black Friday e Natal. “Do nada, a empresa cessa os pagamentos e anuncia uma recuperação judicial? O pânico é geral”, ele diz.
Rakuten, GenComm e Xiaomi BRZ não se manifestaram.
Com informações: Valor, E-Commerce Brasil.