Xiaomi pode desistir do Brasil ainda este ano
Vendas de smartphones não decolaram. Oficialmente, Xiaomi nega que pensa em sair do país.
Não está sendo fácil para os chineses que apostaram no Brasil para impulsionar seus negócios. Uma fonte próxima à Xiaomi declarou ao Manual do Usuário que a empresa considera fortemente desistir do mercado brasileiro nos próximos meses. Com vendas baixas, a fabricante teria até interrompido a produção de smartphones no país. Oficialmente, a Xiaomi nega as informações.
O principal motivo da saída é a incompatibilidade da estratégia chinesa com o mercado brasileiro. Já explicamos como a empresa faz para vender barato: ela calcula quanto os componentes se desvalorizariam com o tempo e joga um preço baixo logo no lançamento, com margem de lucro muito apertada. É necessário, portanto, que as vendas sejam altas, o que não vem acontecendo: a estimativa é que a empresa comercialize apenas 10 mil smartphones por mês, pouco perto dos 3,9 milhões de unidades por mês da indústria brasileira.
Estratégia de vendas falhou?
A venda dos produtos da Xiaomi começou exclusivamente online, para cortar a taxa de 30% do varejo brasileiro. Além disso, eles gastam pouquíssimo com marketing e confiam no alcance orgânico de suas redes sociais, principalmente no engajamento dos chamados Mi Fãs, para fazer propaganda. Hugo Barra disse ao Tecnoblog que a base era pequena, mas muito mais engajada que a de qualquer outra marca.
De qualquer forma, a fabricante não empolgou. Como aponta o Manual do Usuário, a venda direta pela internet ainda é vista com desconfiança pelo brasileiro. Além disso, existe o estigma da fabricante ser chinesa e do aparelho ser muito barato, o que pode deixar alguns consumidores com o pé atrás. O pagamento limitado ao cartão de crédito, no início, também piorava a situação, uma vez que muitos brasileiros preferem o velho boleto bancário.
Sem contar que essa estratégia de vendas online também enfrentou alguns problemas, como erros no site e instabilidades, que irritaram consumidores e sujaram a imagem da empresa. Depois de alguns meses, a Xiaomi cedeu e sua parceria com a Vivo, além da B2W, fez com que pontos de venda fossem acionados no varejo. Com isso, veio o investimento em propaganda fora das redes sociais, o que é raro para a empresa.
Com os resultados decepcionantes, a fábrica da Foxconn em Jundiaí (SP), que atende várias empresas, não produz mais os aparelhos da Xiaomi, segundo o Manual do Usuário. A empresa tem estoques lotados e alguns de seus funcionários já procuram recolocação no mercado. A importação não é uma saída viável, uma vez que o preço subiria consideravelmente.
Irregularidades na Mi Power Bank
Nos últimos meses, quem tentou comprar uma Mi Power Bank, bateria externa da Xiaomi, não conseguiu achar um botão de compra. A fabricante perdeu o direito de vender o produto no Brasil, uma vez que sua homologação está suspensa na Anatel. A agência constatou que os testes internos resultaram em vazamentos e explosões, segundo o veículo.
Além disso, a Xiaomi estaria enfrentando um processo na Receita Federal por classificar incorretamente a bateria no processo de importação, o que se converteu em uma multa elevada para a empresa. Os processos são sigilosos e não há meios oficiais de confirmar essa irregularidade.
Por fim, a fabricante ainda não tem perspectiva de retomar a produção local num futuro próximo, já que parou de comprar memórias e não entrega mais planejamentos sobre a linha de montagem para a Foxconn. De certo, a pequena vida da Xiaomi foi muito conturbada no país, tanto por problemas internos quanto externos, que parecem ter desestimulado a fabricante (e os consumidores) de seguir com a aposta chinesa.
O Manual do Usuário diz que o prazo para a tomada da decisão de permanecer ou não no país está bem próximo. Se a fabricante deixar o país, haverá queima de estoque e perderemos mais uma empresa estrangeira que não conseguiu se adaptar ao difícil mercado brasileiro. Durante os próximos meses, saberemos se a empresa vai resistir.
Oficialmente, a Xiaomi nega que pensa em sair do Brasil. Em nota, a empresa diz estar “expandindo os canais através dos quais vendemos nossos produtos, vide as parcerias com Walmart, CNOVA, Webfones”. O próximo produto da fabricante não seria necessariamente produzido no país, porque “os incentivos fiscais oferecidos no Brasil para a produção local ainda estão em discussão”.
Atualização às 15h13.
A Xiaomi enviou nota à imprensa na tarde desta sexta-feira (6) para negar as informações. Segundo a empresa, o Mi Power Bank “jamais apresentou qualquer falha em testes como as levianamente alegadas e tampouco a Xiaomi foi multada por quaisquer irregularidades”. Com relação à suspensão da homologação, a Xiaomi diz que não renovou a licença porque “o modelo inicialmente importado do Mi Power Bank se esgotou e, uma vez que já foi descontinuado do portfólio mundial, não será mais vendido no Brasil”.
Leia | Como entrar em contato com a assistência técnica da Xiaomi no Brasil