Review Moto E (2ª geração): uma boa atualização, mas…
Smartphone de entrada da Motorola recebeu grandes melhorias, mas pecou no custo-benefício.
Nova geração do Moto E com conexão 4G custa entre 649 e 729 reais.
Smartphone de entrada da Motorola recebeu grandes melhorias, mas pecou no custo-benefício.
Nova geração do Moto E com conexão 4G custa entre 649 e 729 reais.
O primeiro smartphone. É com essa ideia que a Motorola quer vender o Moto E, smartphone de entrada que chegou à segunda geração com importantes mudanças por dentro e por fora. Custando entre 569 e 729 reais, no entanto, ele mudou de faixa de preço e ganhou novas responsabilidades: antes um aparelho de baixo custo, o Moto E passou a ocupar parte do terreno do intermediário Moto G.
O que você perde ao economizar alguns reais em relação ao Moto G? A economia vale a pena? O Moto E é um bom smartphone para quem deseja fazer o básico? Depois de alguns dias usando o Moto E como meu smartphone principal, conto minhas impressões nos próximos parágrafos.
Não fosse uma curiosa solução de design da Motorola, o Moto E apenas seguiria o formato padrão dos smartphones da fabricante de Chicago: uma traseira curvada, confortável de segurar; o logotipo da Motorola em baixo relevo, justamente no local onde apoiamos o dedo; a grade prateada ou acinzentada para o alto-falante, que divide opiniões; e componentes como câmera e conector do fone de ouvido centralizados.
Onde colocar o slot para os chips de operadoras e microSD? Em vez de manter a bateria removível, a Motorola tornou apenas a borda removível. A band, como é chamada, é uma moldura de plástico que envolve as laterais do Moto E e está disponível em três cores (preto, verde e roxo). É embaixo da band que estão localizadas as entradas e os contatos dos botões de volume e liga/desliga.
Um inconveniente do Moto E é que as bordas em volta da tela continuam maiores que o desejável e a espessura está acima da média (12,3 mm). Entretanto, isso não é um problema tão sério em um smartphone com tela de 4,5 polegadas: a pegada está boa, e é possível alcançar todos os cantos sem fazer nenhum esforço. O único defeito fica por conta do impacto visual negativo.
A tela aumentou de 4,3 para 4,5 polegadas, mas a resolução foi mantida em 960×540 pixels, com uma definição de 245 pixels por polegada. O display poderia ser mais brilhante, o ângulo de visão é apenas satisfatório e as cores possuem saturação na medida, embora possam parecer “lavadas”, dependendo das suas experiências anteriores. É uma tela excelente? Não. Mas está dentro do que esperamos para um aparelho básico, e não há nada muito melhor nessa faixa de preço.
O painel IPS LCD do Moto E é revestido com Gorilla Glass 3, para proteção maior contra arranhões. A Motorola também trouxe seu revestimento repelente a água para o smartphone de entrada. Em outras palavras, você não precisará se preocupar em usar o Moto E durante uma chuva leve, mas não poderá tomar banho com o aparelho ou usá-lo na piscina. De qualquer maneira, é bem provável que o revestimento evite um desastre maior caso aconteça algum desastre.
Finalmente estamos vendo um smartphone com Android 5.0 Lollipop de fábrica (e justamente um aparelho de entrada). Não há nenhuma grande interferência no Lollipop por parte da Motorola: o launcher é o padrão, a central de notificações está intacta e há poucos aplicativos pré-instalados além dos que o Google coloca no Android, um fator que particularmente me agrada bastante — especialmente em aparelhos básicos, onde cada pedaço de armazenamento e processamento conta.
As boas adições ficam por conta de alguns recursos portados do Moto X. Com o Moto Tela, é possível visualizar prévias de notificações mesmo com o aparelho em standby: basta movimentar o Moto E e os sensores se encarregarão de ligar a tela, que exibirá o horário e os ícones dos aplicativos que possuem notificações não lidas. O útil movimento de abrir o aplicativo da câmera ao girar o pulso também chegou ao Moto E.
O fato do painel ser IPS LCD, não AMOLED, me deixou receoso quanto ao impacto na duração da bateria. É possível ver claramente que, ao exibir as notificações do Moto Tela, a tela inteira é ativada — em um painel AMOLED, apenas os pixels necessários são ligados, o que ajuda a economizar energia. No entanto, como você verá nos próximos parágrafos, a autonomia parece não ter sido afetada.
Nas versões mais caras, o Moto E inclui o aplicativo de TV digital, que exige o fone de ouvido (ou um rabicho) conectado ao aparelho para sintonizar os canais. O aplicativo faz o básico: além de exibir os canais, mostra a grade de programação e permite gravar os programas, inclusive com agendamento. Infelizmente, a resolução da imagem é de 320×240 pixels (1-Seg), fazendo com que a definição fique muito aquém da desejada.
O padrão 1-Seg foi desenvolvido justamente para dispositivos móveis, então é compreensível que os fabricantes adotem essa tecnologia de baixa resolução. No entanto, como alguns concorrentes, como a Samsung, oferecem TV digital de alta definição mesmo em aparelhos mais simples, como o Galaxy Win 2, a Motorola poderia ter caprichado mais.
Como é de costume nos smartphones mais simples, o Moto E acompanha rádio FM. O aplicativo, que também exige um fone de ouvido conectado, deixa você salvar estações de rádio como favoritas e suporta RDS, para exibir o nome da música e outras informações na tela do aparelho. Tanto para ouvir música quanto para assistir a vídeos, o alto-falante fornece uma boa experiência, com volume alto e sem distorções.
Ok, chegamos a um ponto crítico. A primeira geração do Moto E tinha uma das piores câmeras que já havia visto em um smartphone, em parte por causa do foco fixo, que impossibilitava o usuário de fazer qualquer foto minimamente decente de objetos mais próximos da lente da câmera. E a segunda geração? Tenho sensações mistas.
O Moto E de 2ª geração subiu de nível no poder de processamento, mas continua sendo um smartphone básico em câmera. O sensor de 5 MP consegue capturar fotos com nível de definição e ruído razoáveis em ambientes com luz artificial. Quando a iluminação está mais prejudicada, o ruído aumenta significativamente e a velocidade do obturador fica muito baixa; é difícil não fazer uma foto tremida nessas condições.
Mais uma vez, vale menção a ausência do flash LED na traseira do Moto E. Não é como se uma luzinha resolvesse o problema de uma câmera ruim, mas trata-se de uma economia muito estranha: quase todos os smartphones da mesma faixa de preço trazem o flash LED. É um componente que pode não melhorar as fotos, mas pelo menos serve como lanterna.
Nessa época da febre das selfies, a adição da câmera frontal foi muito bem-vinda. No entanto, o sensor é péssimo e captura apenas imagens com resolução VGA (640×480 pixels). O nível de detalhes da foto é muito baixo em razão do pesado pós-processamento por software para compensar os ruídos gerados pelo sensor. Dá para arriscar uma chamada em vídeo e até tirar uma selfie em baixa resolução para compartilhar com amigos no WhatsApp, mas nada mais que isso.
Vamos com calma aqui: nem todo Moto E é igual. Duas versões estão disponíveis no mercado: o Moto E com 3G possui chip Snapdragon 200, enquanto o Moto E com 4G traz o novo Snapdragon 410. Eu não tive contato com o modelo mais simples, mas na teoria a diferença é relevante. O Snapdragon 200 é formado por quatro núcleos Cortex-A7 de 1,2 GHz e GPU Adreno 302, enquanto o Snapdragon 410 traz os modernos Cortex-A53 de 1,2 GHz (64 bits) e a nova Adreno 306.
Quão grande é a diferença do Cortex-A7 para o Cortex-A53? Quando a ARM divulgou o novo núcleo, os números davam conta de um aumento de 50% de desempenho nas mesmas condições e no mesmo processo de fabricação (na época, de 28 nanômetros). Portanto, mesmo custando menos que as versões com 4G, eu não recomendaria o Moto E com 3G para a maioria das pessoas — especialmente para quem está saindo do Moto E de 1ª geração, já que o ganho seria muito pequeno.
Na teoria, o modelo testado do Moto E não faz feio. O Snapdragon 410, claro, é um chip superior ao Snapdragon 400 usado na maioria dos smartphones intermediários, alguns inclusive mais caros que o Moto E. Tanto em CPU quanto em GPU, o smartphone básico da Motorola se saiu muito bem nos benchmarks sintéticos, acima do irmão mais caro. Foram 13.888 pontos no Quadrant e 23.175 pontos no AnTuTu. O Moto G de 2ª geração alcançava 8.823 e 18.249, respectivamente.
Na prática, eu presenciei um pouco da sensação que tive com o Moto E de 1ª geração. O hardware está significativamente mais potente, mas o Android 5.0 Lollipop parece consumir bem mais recursos, ou talvez tenha havido algum problema de otimização por parte da Motorola.
Em aplicativos como Chrome e Facebook, as várias engasgadas nas animações podem incomodar e o desempenho do sistema parece piorar bastante após algumas horas de uso: os aplicativos começam a demorar para abrir, o launcher reinicia constantemente, as belas animações do Lollipop são exibidas com travadinhas chatas e a tarefa de alternar entre aplicativos expõe as limitações do hardware do Moto E.
Isso pode ser um sinal de que o Moto E veio com hardware mais poderoso que seu irmão Moto G porque, talvez, um processador mais modesto não daria conta de oferecer uma experiência minimamente decente com o Lollipop. Eu diria que o Moto E é suficiente para fazer o básico: dá para navegar no Facebook, responder a uma mensagem no WhatsApp e arriscar alguns jogos (Real Racing 3 e Dead Trigger rodam bem no Moto E, embora com qualidade gráfica apenas razoável), desde que você não seja muito exigente.
A bateria de 2.390 mAh dá conta do recado. Em um dia relativamente intenso, tirei o Moto E da tomada às 7h50, ouvi 1h10min de música por streaming no 4G, naveguei na web por 1h40min (entre emails, sites e redes sociais) e tirei cerca de dez fotos. O aparelho permaneceu com brilho no automático e 4G conectado durante todo o tempo. A tela ficou ligada por exatamente 1h54min. Às 23h50, o nível de bateria chegou a 33%.
O resumo da obra é que a bateria do Moto E provavelmente conseguirá durar um dia inteiro para boa parte dos usuários. Dependendo do uso, não duvido que a autonomia possa chegar a dois dias. É curioso saber que o Moto E é atualmente o smartphone com a segunda maior capacidade de bateria da Motorola — perde apenas do Moto Maxx, com os impressionantes 3.900 mAh.
É difícil entender o posicionamento do Moto E na linha atual da Motorola, porque os preços acabam se confundindo com os do Moto G, de tão próximos. Vamos colocar isso no papel?
O Moto E é vendido nos seguintes modelos (os preços são os sugeridos pela Motorola e podem ser menores com as promoções do varejo):
Já o Moto G está disponível nas seguintes variações (uma vantagem: por estar há mais tempo no mercado, o Moto G pode ser encontrado com descontos mais agressivos no varejo):
Em plano ano de 2015, eu recomendaria um smartphone com 16 GB de armazenamento interno para a maioria das pessoas, já considerando que o sistema operacional irá “roubar” três ou quatro gigabytes. O espaço restante é suficiente para instalar todos os aplicativos necessários, alguns jogos e uma pequena coleção de músicas, sem depender da velocidade mais lenta de um cartão de memória.
Considerando os modelos equivalentes, a economia do Moto E para o Moto G seria de R$ 120 no preço de tabela. Vale a pena? Mesmo com processador mais antigo e sem 4G na versão escolhida, o Moto G ainda traz um conjunto mais interessante: uma câmera traseira melhor, de 8 MP, com flash LED (e uma câmera frontal realmente útil); uma tela de 5 polegadas significativamente superior, com resolução de 1280×720 pixels; e um design mais caprichado, inclusive com alto-falantes duplos.
O novo Moto E, portanto, só é uma compra interessante se o dinheiro realmente estiver apertado ou se, no momento em que você estiver lendo esta análise, a diferença de preço para o Moto G for muito grande. Caso contrário, o Moto G ainda é uma compra mais inteligente.