Enquanto você caminha pela calçada, automóveis passam ao seu lado levando um ou mais passageiros. Nenhum deles dirige, porém. Os carros são autônomos. Esse cenário futurista virará realidade mais cedo ou mais tarde, não duvido. Mas, muitos antes disso, veículos que dispensam motoristas atenderão a necessidades específicas. Eis um exemplo atual: os caminhões autônomos das minas de Yandicoogina e Nammuldi em Pilbara, na Austrália.
Se muitas pessoas pensariam duas vezes antes de entrar no simpático carrinho autônomo do Google, imagine se elas recebessem um convite para dar uma volta nesses caminhões: estamos falando de veículos tão grandes que, se passassem pelas ruas do seu bairro, certamente deixariam um longo rastro de destruição.
Caminhões de mineração (mining trucks) têm dimensões colossais e são bastante robustos por uma razão óbvia: precisam transportar grandes volumes (até centenas de toneladas) de terra, pedra, minério e outros materiais, muitas vezes em áreas com terreno irregular.
A condução de um veículo desse porte exige, portanto, bastante destreza do motorista, não só para evitar acidentes — que, dado o tamanho do caminhão, podem alcançar grandes proporções facilmente — como também para combater ocorrências que atrasam o trabalho de transporte (uma manobra mal calculada que exige o reposicionamento do veículo, por exemplo).
Essas foram as principais razões para a Rio Tinto, a companhia que controla as minas de Yandicoogina e Nammuldi, adotar caminhões mineradores autônomos. A empresa afirma que, desde 2012, quando as primeiras unidades entraram em operação, a produtividade no transporte melhorou 12%.
Automatizar os controles de direção dos carros já não é um grande desafio. Tecnologia para isso existe há tempos. As pesquisas atuais visam principalmente desenvolver sistemas que façam o veículo lidar com situações que, dos humanos, exigem reflexo: frear diante de uma fechada inesperada, evitar o atropelamento de um pedestre distraído e por aí vai.
Esse aspecto ajuda a explicar o sucesso que a Rio Tinto está tendo com o programa. Os caminhões mineradores não precisam lidar com esses obstáculos. De modo complementar, os funcionários das minas são orientados para deixar as rotas dos caminhões livres. Com essas e outras medidas, os veículos trafegam com risco mínimo de intercorrências.
O ganho de produtividade se dá pela diminuição das interrupções. Motoristas “de verdade” precisam de pausas para descanso ou para mudar de turno, por exemplo. Com a automação, essas etapas simplesmente foram eliminadas. Os caminhões só param, essencialmente, para reabastecimento e manutenção.
Há mais vantagens aí: as atividades de transporte acabam ficando menos sujeitas a falhas humanas. A companhia não dá números, mas sinaliza que a quantidade de acidentes diminuiu consideravelmente com o novo sistema. Além disso, a mineradora pôde reduzir a necessidade de enviar trabalhadores para regiões inóspitas.
É verdade que, em contrapartida, esse tipo de tecnologia colabora para a diminuição de empregos. Mas, pelo menos em relação aos caminhões da mineradora, esse “efeito colateral” não é tão presente assim: a Rio Tinto explica que os veículos são autônomos na direção, mas são monitorados à distância por equipes de operadores.
Por meio de um sistema que inclui rastreamento por GPS, os funcionários podem acompanhar o cumprimento das viagens, estabelecer novas rotas, paralisar os caminhões quando a situação exigir, aumentar ou diminuir a frota em operação e assim por diante. A diferença é que tudo é feito remotamente a partir de um ambiente mais seguro e confortável. E bota “remotamente” nisso: a central de controle fica a 1,2 mil quilômetros das minas.
O programa tem apresentado resultados tão interessantes que a Rio Tinto já estuda a possibilidade de colocar caminhões autônomos em outras minas. Em Yandicoogina e Nammuldi, há 69 unidades em operação que, juntas, transportam uma média de 20 milhões de toneladas de minério por mês. Também está nos planos da companhia automatizar os trens de transporte de minério que atuam nessas regiões.
Tudo indica que esse é só o começo. Por conta de questões de segurança, legislação e ética, as ruas devem ser o último lugar em que veremos carros autônomos trafegando livremente. Mas em áreas privadas — como é o caso das minas da Rio Tinto — ou que tenham acesso controlado os impeditivos são muito menores.
Nesse sentido, a gente pode esperar por veículos autônomos atuando em regiões agrícolas, pátios de aeroportos e até em transporte público — já há projetos para ônibus sem motoristas que, teoricamente, podem trafegar em corredores exclusivos de maneira segura e ágil.