Entenda a polêmica sobre o Freedom 251, o smartphone mais barato do mundo

Matheus Gonçalves
• Atualizado há 8 meses

Talvez você não tenha ouvido falar ainda, mas essa semana uma pequena empresa indiana chamada Ringing Bells apresentou ao mundo seu Freedom 251, um smartphone que custa ₹ 251, ou algo em torno de R$ 15, o que causou enorme burburinho no mercado.

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Para dar uma ideia do que estamos falando aqui, trata-se de um aparelho com sistema operacional Android Lollipop 5.1 customizado, tela de 4 polegadas, processador quad-core de 1,3 GHz, 8 GB de armazenamento interno (expandível a até 32 GB), 1 GB de memória, câmeras frontal e traseira, alimentados por uma bateria de 1.450 mAh.

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Isso tudo e ainda conta com fantásticos aplicativos pré instalados para segurança da mulher, pescador, fazendeiro e outros softwares sem tanta importância.

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Nada mal para um modelo de entrada, ainda mais com esse preço extremamente convidativo, certo? Então… aparentemente, tem gato na tuba.

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Vamos fazer uso aqui do nosso costumeiro e sempre providencial ceticismo e ir um pouco mais a fundo dessa história.

Como um equipamento com esse hardware pode custar tão pouco?

Talvez essa tenha sido sua primeira pergunta. Se foi, toca aqui! Estamos no mesmo grupo de pessoas que Ravi Shankar Prasad, Ministro de Tecnologia da Informação e Comunicações da Índia. Ele pediu ao secretário Aruna Sharm, do Departamento de Eletrônica e TI do país, para investigar como isso é possível.

Isso porque a Associação Indiana de Celular (ICA) escreveu uma carta ao ministro, informando que o valor mínimo de produção de tal aparelho, mesmo com subsídios, deveria ser de ₹ 3.500, ou algo em torno de R$ 200. Se meus professores de matemática não estão enganados, isso dá mais de 10 vezes o valor pedido pela Ringing Bells.

Se a gente colocar aí os custos da revendedora, impostos, logística e margem de lucro, esse valor sobe para R$ 240. Uma diferença de R$ 225! Esse processo de investigação ainda está em andamento.

Outro ponto confuso: a empresa teria convencido Manohar Parrikar, Ministro da Defesa do país, a lançar o produto durante a apresentação mundial, mas ele desistiu no último instante por razões que não foram explicadas.

Tirando o disparate óbvio, alguns usuários do Twitter começaram a encontrar falhas nessa equação. Por exemplo, esse celular não é feito na Índia. É feito na China. Nossa, que surpresa!

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É exatamente isso. O Freedom 251 é, na verdade, o Adcom Ikon 4. Com a marca coberta por corretivo branco:

Adcom

A pequena empresa Chinesa não faz ideia dos motivos que levaram os indianos a usarem seu aparelho para promover essa campanha, e disse que vai iniciar uma investigação por conta própria. E mais, veja a diferença no design do aparelho, em duas imagens diferentes retiradas do site oficial do produto:

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Pois bem, como somos todos humanos e o valor é pra lá de atraente, muitos usuários ainda assim tentaram comprar o Freedom 251. Alguns poucos sortudos conseguiram. Para a maioria dos outros, isso se tornou um inferno:

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Se você ainda assim tentar acessar seu carrinho de compras no site agora, a única coisa que verá é a seguinte mensagem:

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Que pode ser traduzida da seguinte maneira: “Querido e respeitado consumidor” — ok, eu tive que parar aqui para um adendo: um dos programadores da minha equipe da Índia me chama até hoje de Dear, ou “querido”, apesar dos meus protestos e recomendações. O que sempre gera desconforto em nossas reuniões e que já levou alguns dos colegas americanos e fazer piadinhas sobre minha relação estreita e carinhosa com o rapaz. Por favor não ria, isso é sério!

Mas voltando:

“Querido e respeitado consumidor, nós estamos humildemente e extremamente gratos por sua avassaladora resposta e confiança. Essa mensagem é para, respeitosamente, avisar que os acessos ultrapassam os números que nós estávamos esperando e, sendo assim, estamos fechando essa primeira fase de convites para aquisição do aparelho” — sim, era feito por convite, veja que inovador.

A mensagem continua: “Nós agradecemos e temos ciência que podemos não ser capazes de atender as necessidades de todos, mas definitivamente estamos ansiosos para serví-los novamente na próxima fase. Muito obrigado novamente.”

Segundo informações oficiais da empresa, essa pré-venda aconteceu entre os dias 18 e 21 de fevereiro somente, e os celulares devem ser entregues até o dia 30 de junho deste ano, com direito a 1 ano de garantia. Se eles vão cumprir o prometido, só o tempo dirá.

Mas, lembro que em meados de 2011 o próprio governo indiano lançou seu famigerado Aakash, um tablet de baixo custo, cujo projeto foi extinto no ano passado, sem previsão alguma de ser continuado. Ah: tratava-se de um produto focado em universitários, rodavam Android e custavam pouco mais de R$ 140.

Nossa, Apple, eu não deixava!!

Outro fator controverso sobre o Freedom 251, é que a customização do Android possui ícones e usabilidade idêntica à do iOS. Ouvi alguém aí murmurar: “ué… se a Samsung pode…”? Maldade, não façam uma coisa dessas, amiguinhos.

Mas fato é que o dispositivo testado pela mídia especializada durante o evento tinha uma interface extremamente “inspirada” no sistema operacional da maçã. E isso não costuma terminar bem.

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Aos jornalistas, os representantes da Ringing Bells estão dizendo: “não se preocupem, o aparelho apresentado é só um modelo beta, uma versão para preview” — como se isso explicasse alguma coisa.

Conclusão

A gente ainda vai ter que esperar pra saber o que o governo da Índia vai decidir sobre essa situação. Cenas dos próximos capítulos.

Alguns dias, espertalhões desconhecidos criam páginas no Facebook para “sortear” iPhones aos desavisados que ainda acham que isso é possível.

Outros dias, empresas espertalhonas tentam tapear o mundo todo ao oferecer algo que, evidentemente, é impossível de ser feito. A trapalhada deixaria Didi, Dedé, Mussum e Zacarias orgulhosos.

Rumores afirmam que, assim que esse imbrólio todo chegar ao fim, a Ringing Bells deve oferecer ao mercado lotes de terrenos na Lua, propriedade da ponte do Brooklin e esquemas certeiros da TelexFree. Não perdam!

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Matheus Gonçalves

Matheus Gonçalves

Ex-redator

Matheus Gonçalves é formado em Ciências da Computação pelo Centro Universitário FEI. Com mais de 20 anos de experiência em tecnologia e especialização em usabilidade e game development, atuou no Tecnoblog entre 2015 e 2017 abordando assuntos relacionados à sua área. Passou por empresas como Itaú, Bradesco, Amazon Web Services e Salesforce. É criador da Start Game App e podcaster do Toad Cast.