O que se sabe até agora sobre a atiradora que invadiu o prédio do YouTube
Com possível exceção para policiais, militares e seguranças, ninguém espera ter que fugir de tiros no meio do expediente. Mas essa foi a experiência vivida por funcionários do YouTube na terça-feira (3): uma mulher invadiu o prédio da companhia, abriu fogo contra várias pessoas, feriu pelo menos três e, logo depois, foi encontrada morta, aparentemente por suicídio.
Enquanto todo mundo tenta se recuperar do susto, surgem as perguntas: por quê? O que levou a mulher a agir com tamanha violência? Quem era a atiradora, afinal?
Ainda que muitos detalhes tenham que ser apurados, as autoridades já sabem que a mulher se chamava Nasim Aghdam, tinha 38 anos de idade (e faria 39 amanhã), possuía origem iraniana e morava em San Diego.
Nasim Aghdam tinha pelo menos quatro canais no YouTube, todos agora fechados. Em um deles, ela se descrevia como atleta, vegana, incentivadora do estilo de vida saudável e defensora dos animais. Juntos, os canais não apresentavam mais do que 100 mil inscritos. Mesmo assim, tudo indica que publicar vídeos era a atividade principal de Aghdam.
Alguns vídeos registravam centenas de milhares de acessos e, graças a isso, ela teria conseguido remunerações significativas. Porém, em publicações mais recentes, Aghdam se queixava da desmonetização de alguns vídeos e da redução sistêmica do alcance deles.
De fato, o YouTube tem promovido mudanças em sua plataforma nos últimos meses para evitar perda de anunciantes — muitos não querem que suas marcas sejam associadas a vídeos polêmicos — e escândalos como a do youtuber Logan Paul, que publicou um vídeo de uma pessoa morta em Aokigahara, a “floresta dos suicídios” do Japão.
Aghdam sabia da existência das mudanças, mas se dizia discriminada porque canais de artistas como Nicki Minaj e Miley Cyrus publicavam vídeos com conteúdo explícito, mas não sofriam consequências por isso. Em um dos vídeos, ele diz que seu canal persa foi “atacado”: as publicações mais recentes não estariam sendo monetizadas enquanto as antigas passavam por redução de acessos.
Embora os canais de Nasim Aghdam no YouTube tenham sido eliminados, é possível encontrar publicações no site dela com queixas sobre o YouTube e queda de remuneração. Em uma captura de tela, ela reclama de ter recebido apenas US$ 0,10 por mais de 350 mil visualizações de vídeos em seu canal no período de 28 dias.
Na mesma página é possível encontrar links para alguns poucos vídeos que Nasim Aghdam publicou no Dailymotion (os vídeos foram bloqueados enquanto este post era feito). De modo geral, essas publicações tinham baixa qualidade de imagem, edição amadora e muita excentricidade.
O crescente desgosto de Nasim Aghdam com o YouTube também era percebido por pessoas próximas. Ismail Aghdam, pai dela, disse às autoridades que a filha estava com raiva da plataforma por conta da queda de remuneração.
Há sinais que apontam que o pai já estava preocupado com uma possível atitude drástica de Nasim. Na segunda-feira (2), Ismail Aghdam acionou a polícia para comunicar o desaparecimento da filha após dois dias sem conseguir contatá-la por telefone. Horas depois, policiais a encontraram dormindo em um carro estacionado na região de Mountain View, na Califórnia.
Quando a família se deu conta de que Nasim Aghdam estava próxima do prédio do YouTube, em San Bruno (mais ou menos 25 km de distância), eles teriam acionado novamente a polícia, mas para alertar que ela poderia ir até a empresa e fazer algo ruim. “Vocês deveriam ficar de olho nela”, teria dito Ismail Aghdam.
Se a polícia foi realmente alertada ou se o suposto aviso foi levado a sério são detalhes que ainda estão sendo apurados, mas o fato é que Nasim Aghdam se dirigiu mesmo à sede YouTube. Ela teria feito os disparos em um café no térreo do prédio, ponto com pouca restrição de acesso.
As vítimas estão internadas em um hospital de San Francisco. Uma delas, um homem de 36 anos, está em estado crítico, de acordo com as últimas informações.