Qualcomm mostra o que chegou antes no Android que nos iPhones, mas…
Hoje a Apple vai anunciar novos iPhones, e suas concorrentes estão reagindo de formas bem incomuns. A Samsung decidiu comentar planos futuros sobre smartphones dobráveis; enquanto a Qualcomm relembra o passado, dizendo que dispositivos Android sempre saem na frente ao adotar novas tecnologias.
É uma comparação bastante esforçada, com 20 itens na lista. De fato, o iPhone não foi o primeiro a ter câmeras duplas: o HTC One M8 e o LG G5 implementaram isso antes. Ele não será o primeiro a adotar reconhecimento facial, algo presente no Android puro desde 2011.
O iOS 11 enfim permitirá que desenvolvedores tenham acesso ao chip NFC, antes restrito apenas ao Apple Pay. E eu nem vou comentar a ausência de carregamento rápido.
Outros pontos são meio questionáveis. O iPhone ainda não adotou o Bluetooth 5 porque a especificação só foi finalizada em dezembro. O Lenovo Phab Pro 2 foi o primeiro smartphone com câmeras para realidade aumentada, mas a abordagem da Apple — focar no software e difundir o ARKit para centenas de milhões de dispositivos — está sendo seguida pelo próprio Google com seu ARCore.
E duas das categorias são ocupadas por um “design de referência da Qualcomm”, em vez de um produto fabricado em massa. Isso inclui um leitor de digitais abaixo da tela; é algo que a Samsung tentou, sem sucesso, embutir no Galaxy S8.
O maior problema, no entanto, é que a lista da Qualcomm ignora o que todos deveriam saber há anos: o iPhone dificilmente é o primeiro a adotar novas tecnologias.
Isso aconteceu, por exemplo, com o leitor de digitais. O Motorola Atrix tinha isso em 2011, ainda que de forma menos prática (você deslizava o dedo em um sensor na traseira). A Apple comprou a empresa responsável por esse recurso, e o embutiu no iPhone 5S. Desde então, leitores de digitais se tornaram um requerimento básico em smartphones high-end; ganharam suporte nativo no Android; e chegaram a modelos intermediários.
A câmera dupla do iPhone 7 Plus também não foi pioneira. No entanto, vemos cada vez mais fabricantes adotando esse recurso desde então, como Samsung e Motorola. A resistência IP67 à água e poeira já existia antes nos smartphones, claro, mas sua presença se tornou mais exigida em dispositivos high-end depois de ser implementada pela Apple.
O iPhone ainda tem uma influência enorme no mercado de smartphones, não por adotar tecnologias primeiro — nem por necessariamente adotá-las melhor — mas por difundi-las melhor. Ele continua sendo um smartphone aspiracional, e segue vendendo centenas de milhões de unidades.
Mas imagino que isso não importe muito para a Qualcomm, cujo instinto de gritar “first!” falou mais alto. Ela anda bem irritada com a Apple; elas se envolveram em uma complexa disputa judicial sobre pagamento de royalties que não vai terminar tão cedo.