Rio de Janeiro deixa pagar metrô, trem e barca por aproximação – então eu fui testar
Transporte público do RJ permite pagar passagem com o cartão, celular ou smartwatch por aproximação via NFC; tecnologia já tem vários adeptos e traz vantagens
Transporte público do RJ permite pagar passagem com o cartão, celular ou smartwatch por aproximação via NFC; tecnologia já tem vários adeptos e traz vantagens
O NFC é uma tecnologia para lá de ampla e bastante conhecida devido ao pagamento por aproximação. Com ela, os usuários podem usar o cartão, celular ou smartwatch para fazer transações financeiras em lojas e restaurantes, por exemplo. Mas este não é o único fim: em cidades como o Rio de Janeiro (RJ), a solução também está presente nas catracas das barcas, metrô e trem, inclusive em pedágios, para pagá-los com o cartão de débito ou crédito.
Mas como tudo isso funciona na prática?
Minha primeira oportunidade de usar o NFC do relógio no transporte público do Rio de Janeiro (RJ) aconteceu no fim de 2021. Após mais de um ano sem recarregá-lo devido à pandemia, o meu cartão RioCard Mais – o bilhete eletrônico da região – tinha saldo apenas para pegar um ônibus até a estação do metrô. A ideia era comprar mais crédito ao chegar lá. A fila, no entanto, não estava nada pequena.
A pressa me fez caminhar diretamente para uma das catracas com pagamento por aproximação. O restante aconteceu como mágica: acionei o Apple Pay no Apple Watch, aproximei o relógio do validador e o meu acesso foi liberado. Tudo isso em questão de segundos e sem sequer precisar digitar qualquer senha – afinal, no Brasil, a credencial não é exigida em compras por aproximação que custem até R$ 200.
A conclusão do pagamento também ocorreu de maneira prática. Não bateu imediatamente na fatura; a notificação do banco informando a transação chegou algumas horas depois. Todavia, há um lado positivo nessa “demora”: uma vez, peguei o metrô duas vezes seguidas em pouco tempo. Em vez de emitir duas cobranças de R$ 5,80 no extrato, o sistema registrou apenas uma somando as duas passagens.
Vale lembrar que a tecnologia pode ser usada em outras plataformas além do Apple Pay via Apple Watch ou iPhone. Em alguns momentos, fiz a transação através de um Galaxy Watch via Samsung Pay. Também paguei a passagem diversas vezes por cartões físicos com NFC, inclusive com um cartão múltiplo. No segundo caso, as cobranças sempre foram validadas na opção crédito.
Apesar de parecer uma ideia para lá de futurista, ela não é tão recente assim. Ao Tecnoblog, a Mastercard afirmou que os cartões e dispositivos por aproximação com a bandeira são aceitos em trens do estado desde 2018. Hoje em dia, a Supervia também oferece pagamento via NFC para as bandeiras Elo e Visa. Ainda assim, não são todas as estações que têm o recurso:
A MetrôRio, concessionária que opera as três linhas de metrô do estado, é mais aberta neste quesito. A tecnologia começou a ser implementada em 2019 com o auxílio do Visa Secure Access Module (VSAM), solução que permite incluir a forma de pagamento sem precisar trocar a infraestrutura dos validadores. É o que explica o diretor-executivo de soluções da Visa, Marcelo Sarralha, ao Tecnoblog; ele diz:
“Ao usar a credencial de pagamento por aproximação em um validador com a tecnologia VSAM, o sistema identifica a transação bancária, passa por todas as etapas de segurança de forma criptografada e seguindo padrões da indústria de pagamentos digitais, permitindo finalizar o processo em questão de milissegundos. A cobrança da tarifa é debitada diretamente na conta corrente ou na fatura do cartão, sem custo adicional ou taxas.”
Marcelo Sarralha, diretor-executivo da Visa
Atualmente, além das 41 estações, os ônibus do Metrô na Superfície também podem pagos com via NFC com cartões de crédito e débito da Elo, Mastercard e Visa.
Outros serviços do Rio de Janeiro aderiram à novidade. É o caso das barcas: em 2020, a CCR Barcas iniciou um programa piloto de pagamento por aproximação à linha Praça XV-Niterói e oferece suporte somente aos cartões Elo e Visa. O pedágio da Linha Amarela, via expressa que liga a Barra da Tijuca à Ilha do Fundão, também oferece suporte às transações via NFC com as três bandeiras.
A Secretaria Municipal de Transportes (SMTR) do Rio de Janeiro também pretende expandir a presença da tecnologia na cidade. “Na nova licitação da Bilhetagem Digital, prevista para abril, a SMTR prevê o pagamento via celular e cartões bancários NFC em todos os sistemas de transporte público da cidade do Rio de Janeiro”, afirmaram ao Tecnoblog. “Será uma exigência do edital que haja esta parceria entre a concessionária do SBD [Serviço de Bilhetagem Digital] e bandeiras de cartão para viabilizar a nova forma de pagamento.”
O NFC como ponte para fazer pagamentos busca oferecer mais agilidade e praticidade aos usuários. Afinal, você não precisa mais ir ao guichê ou recorrer a um terminal de autoatendimento para comprar um bilhete, ter dinheiro em mãos e, só depois disso tudo, embarcar. Basta ir diretamente a uma catraca e, com seu celular, cartão ou relógio, fazer o pagamento por aproximação e seguir viagem.
As vantagens são ressaltadas pelas empresas que participam desse tipo de operação no Rio de Janeiro. Segundo a Supervia, estima-se que o pagamento por aproximação “represente uma economia de tempo de 15 minutos ao passageiro, que antes precisava tirar dinheiro em caixas eletrônicos e depois comprar a passagem na bilheteria”. A concessionária também ressalta a “segurança, eficiência para o sistema de transporte e inteligência para a mobilidade urbana”.
O diretor de produtos e inovação da Elo, Felipe Maffei, fala ao Tecnoblog sobre a flexibilidade ao fazer compras com a tecnologia. O executivo ainda lembra que o pagamento via NFC evita o contato físico, preocupação que se tornou frequente no cotidiano devido à pandemia de COVID-19. Além disso, a Mastercard afirma que a alternativa consegue ajudar turistas estrangeiros, já que também é possível usar cartões emitidos fora do país com a sua bandeira no metrô do Rio de Janeiro, por exemplo.
“Em junho do ano passado, chegamos aos pedágios. A Linha Amarela, concessionária da Lamsa, passou a aceitar o pagamento por aproximação”, disse o diretor da Visa, Marcelo Sarralha. “Com a implementação, os motoristas da via expressa contam com mais um meio para pagar, que oferece agilidade, segurança, além de garantir fluidez ao trânsito”. O executivo ainda afirmou que a via foi a primeira do país a adotar um sistema desenvolvido exclusivamente para pedágios capaz de acionar as cancelas sem depender da intervenção dos operadores da praça.
A modalidade vem ganhando adeptos pelos modais de transporte público do Rio de Janeiro. Segundo a MetrôRio, desde a implantação até o fim de dezembro de 2021, foram contabilizados mais de 3,9 milhões de pagamentos por aproximação no metrô fluminense. “A solução vem aumentando a sua participação nas transações e, nos últimos seis meses, cresceu 119,5%”, afirma a nota enviada ao Tecnoblog.
A Supervia, concessionária que opera os trens da região, também observou movimento similar: “em 2021 houve um aumento de aproximadamente 300% no uso dessa modalidade de pagamento, com uma utilização média de 800 viagens por dia”.
Nas barcas, 0,5% dos usuários utilizaram o NFC no embarque ao longo do ano passado, segundo a CCR Barcas. E o uso da tecnologia na Linha Amarela já representa 13% dos pagamentos da via expressa.
Um levantamento da Abecs (Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços) sobre o setor no segundo trimestre de 2021 aponta que o uso da modalidade em pedágios vem crescendo no país na totalidade. De acordo com a entidade, entre os primeiros semestres de 2020 e 2021, a utilização aumentou 170%.
“Pagamento por aproximação melhora a experiência do usuário, gerando maior fluidez no trânsito e reduzindo o tempo de viagem”, ressaltou a Abecs no relatório.
O pagamento por aproximação, no entanto, ainda não é bem uma unanimidade entre os brasileiros. O Mapa dos Pagamentos por Aproximação do Brasil feito pela consultoria Visa Consulting & Analytics indica que esse meio representou 20% do total de transações realizadas presencialmente com a bandeira no país em setembro.
Ainda assim, o diretor da operadora ressalta que a modalidade vem apresentando um crescimento expressivo nos últimos anos:
“O grande impulsionador da adesão dos consumidores vem sendo o trabalho intenso da indústria junto aos bancos e credenciadores para emissão de credenciais e maior aceitação da tecnologia NFC, que oferece comodidade, agilidade e segurança.”
Marcelo Sarralha, diretor-executivo da Visa
A Mastercard segue a mesma nota. Com base em dados da Abecs de setembro de 2021, a companhia citou que as transações contactless (pagamentos por aproximação) já representavam cerca de 20% das transações presenciais com cartão no Brasil.
“Esse percentual em dezembro de 2019 era de 1,2% e em dezembro de 2020 foi de em média 5%”, afirmou a Mastercard em nota ao Tecnoblog. “Isso reforça que, durante a pandemia, os brasileiros adotaram mais rapidamente essa modalidade de pagamento.”
O relatório do terceiro trimestre de 2021 da Abecs demonstra essa expressão com cifras. Ao levar o valor movimentado com a modalidade em consideração, houve um crescimento de 300% em relação ao mesmo período do ano anterior, cuja quantia subiu de R$ 14,4 bilhões para R$ 57,5 bilhões. Desse montante, R$ 32,1 bilhões foram gastos no crédito, R$ 16,9 bilhões no débito e R$ 8,5 bilhões com cartões pré-pago.
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