Os planos do Facebook para conquistar o público de 18 a 29 anos

Exclusivo • Vice-presidente global diz que as áreas de grupos e marketplace do Facebook são muito utilizadas, inclusive no Brasil.

Thássius Veloso
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• Atualizado hoje às 07:11
Tom Alison é vice-presidente global do Facebook (imagem: Vitor Pádua/Tecnoblog)
Resumo
  • O Facebook busca atrair jovens de 18 a 29 anos, de acordo com o vice-presidente global da empresa, Tom Alison, em entrevista exclusiva ao Tecnoblog.
  • Já são 40 milhões de usuários diários nessa faixa etária nos EUA e Canadá.
  • Grupos, marketplace e descoberta de novos interesses são áreas muito utilizadas na plataforma, mesmo que os usuários não percebam.
  • A Meta utiliza inteligência artificial para melhorar a experiência do usuário, personalizar conteúdo e garantir segurança na plataforma.

Quando você pensa em Facebook, vem à sua mente um feed abandonado e postagens com pouca interação? Esta também era a minha impressão. De acordo com o vice-presidente global da plataforma, porém, as coisas não são assim: o Facebook segue crescendo e faz planos para os próximos 20 anos.

Tom Alison explica com exclusividade ao Tecnoblog que as áreas de grupos de de marketplace ainda são muito utilizadas, ao contrário das nossas principais suspeitas. Em outras palavras, as pessoas continuam entrando na rede que deu origem ao conglomerado Meta, mas às vezes não percebem que estão no império de Mark Zuckerberg.

Onde o Facebook quer chegar?

Dado que as gerações passadas (em especial os millenials) cresceram com o Facebook, a meta da Meta agora é atrair públicos mais jovens. Alison conta que a empresa tem foco total nos usuários entre 18 e 29 anos. Somente nos Estados Unidos e no Canadá, cerca de 40 milhões de jovens acessam diariamente a plataforma.

Eu bem que tentei, mas a empresa faz mistério sobre o desempenho no Brasil. Por aqui, uma pesquisa encomendada pela Meta mostra que o Facebook se tornou um local para explorar interesses e hobbies – tanto que 95% dos jovens afirmam ter descoberto coisas novas por meio da rede social.

Dá para chamar de rede social?

Aliás, “rede social” seria o termo correto? Alguns especialistas em comunicação digital defendem que as plataformas atuais mais se parecem com redes de entretenimento. O exemplo máximo disso seria o TikTok. “Fundamentalmente, ainda somos uma rede social”, diz Alison, que ainda explica que os usuários evoluíram e a plataforma seguiu o mesmo caminho.

Você deve se lembrar: no começo, o Facebook te conectava a pessoas que você já conhecia. “Agora, ele tem a proposta de te ajudar a descobrir pessoas que você gostaria ou deveria conhecer”, complementa Alison. “Queremos que o Facebook seja o lugar para explorar os seus interesses.”

App Store, Facebook e Google (imagem: Emerson Alecrim/Tecnoblog)
Numa pesquisa, 95% dos brasileiros disseram que aprenderam algo novo pelo Facebook (imagem: Emerson Alecrim/Tecnoblog)

E como ficam os demais públicos?

Na única conversa do executivo com um jornalista brasileiro, aproveitei para perguntar se os usuários 30+ ficariam em segundo plano. Ele diz que não: “a estratégia é global e temos visto que as melhorias de produto melhoram a experiência para todos os nossos usuários”.

Alison afirma que todos se beneficiam do que chama de social discovery. Por exemplo, o sistema de recomendação de vídeos curtos (os reels). “Todo mundo gosta de encontrar bom conteúdo”, afirma Alison.

As mudanças começaram a ser feitas tanto na interface quanto no código por trás do Facebook. Hoje em dia, o algoritmo leva em consideração os conteúdos que mais interessaram o usuário num grupo específico. Digamos que você interaja com postagens sobre motos. A partir daí, verá sugestões de reels de motociclismo no seu feed. Esta inteligência adicional também pode impactar a navegação no Instagram.

Também há alterações no comportamento das pessoas. Segundo a empresa, o compartilhamento privado de conteúdo (quando você encaminha um post para um grupo do Insta, por exemplo) cresce cerca de 80% ao ano no planeta. “Os públicos jovens usam conteúdo para iniciar conversas”, diz Alison.

Inteligência artificial

Ilustração com os ícones de WhatsApp, Instagram e Facebook inseridos numa caixa com a marca da Meta
Meta é dona de WhatsApp, Instagram e Facebook (Ilustração: Vitor Pádua/Tecnoblog)

O executivo conta que a Meta está empregando inteligência artificial para compreender melhor os textos e as fotos das pessoas na rede social, de modo que o algoritmo possa exibi-los para os seguidores certos. O modelo de linguagem Llama, que recentemente foi atualizado, faz parte deste processo, apesar de não ser o único LLM em uso pela companhia.

A presença da IA também melhora a segurança da plataforma, já que, segundo Alison, é possível detectar conteúdos problemáticos com mais facilidade.

A empresa planeja oferecer uma experiência mais robusta de IA no futuro. Alison dá o exemplo de uma receita visualizada num grupo. Digamos que o usuário seja vegetariano: ele poderá pedir uma versão sem carne para a Meta AI. Uma tecnologia similar permitirá que os criadores de conteúdo “interajam” com os fãs via internet.

Cabe lembrar, porém, que o chatbot da Meta está travado no Brasil devido a uma ação judicial iniciada pelo instituto de defesa do consumidor Idec. A Meta optou por não lançar a ferramenta no Facebook, Instagram e WhatsApp enquanto se acerta com ANPD, Cade e Senacon.

Resta saber se os muitos gestos do Facebook para atrair os usuários 18+ darão certo.

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Thássius Veloso

Thássius Veloso

Editor

Thássius Veloso é jornalista especializado em tecnologia e editor do Tecnoblog. Desde 2008, participa das principais feiras de eletrônicos, TI e inovação. Também atua como comentarista da CBN, palestrante e apresentador. Já colaborou com diversos veículos, entre eles TV Globo, GloboNews e O Globo. Ganhou o Prêmio Especialistas em duas ocasiões e foi indicado diversas vezes ao Prêmio Comunique-se.