Nothing Phone cancela home office e sugere que descontentes deixem empresa

Startup britânica diz que trabalho remoto não combina com suas ambições de se tornar uma "companhia marcante para a geração"

Giovanni Santa Rosa
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Homem trabalhando em home office (Imagem: Free-Photos/Pixabay)
Nothing admite que trabalho presencial não agrada todo mundo, mas sugere procurar outro emprego (Imagem: Free-Photos / Pixabay)

A empresa britânica de celulares Nothing Phone decidiu que seus 450 funcionários devem deixar o home office e ir para o escritório cinco dias por semana. Para Carl Pei, CEO e fundador da empresa, “o trabalho remoto não é compatível com um alto nível de ambição e alta velocidade”.

A frase está em um email enviado aos trabalhadores e obtido pela Fortune. Pei, fundador da Nothing, também é um dos cofundadores da OnePlus. A empresa fabrica smartphones e fones de ouvido, com ênfase no estilo baseado em materiais transparentes. Ela também criou sua própria cerveja, a Beer (5.1%).

A Nothing foi criada em 2020, durante a pandemia de COVID-19, e trabalhou de modo remoto inicialmente. Passada a pior fase da crise, a companhia adotou um esquema híbrido em Londres e outros locais.

Nothing quer definir geração

Pei deu três motivos para a decisão. O primeiro deles é que a logística de desenvolvimento de smartphones não combina com o trabalho remoto, porque os departamentos de design, engenharia e fabricação precisam colaborar.

Nothing Phone (1)
Phone (1), o primeiro celular da Nothing, lançado em 2022 (Imagem: Divulgaçaão / Nothing)

A segunda explicação é que a criatividade e a inovação funcionariam melhor presencialmente, permitindo fazer mais com menos. Por fim, Pei argumenta que as ambições da empresa, que quer se tornar uma “companhia que defina uma geração”, não podem ser alcançadas no home office.

As novas regras começam a valer daqui a dois meses. Pei fará uma reunião para tirar dúvidas dos funcionários e diz que haverá flexibilidade para resolver problemas pessoais fora do escritório, quando necessário.

Mesmo assim, o recado é claro: quem quer trabalhar de casa vai ter que sair.

“Nós sabemos que este não é o esquema certo para todo mundo, e tudo bem”, diz o email. “Nós devemos procurar um ajuste para ambas as partes. Você deve encontrar um ambiente onde possa ter sucesso, e nós precisamos achar as pessoas que queiram se comprometer conosco para as próximas décadas.”

Home office vai chegando ao fim

Adotado por praticamente todas as empresas de tecnologia durante a pandemia de COVID-19, o trabalho remoto está sendo revertido em muitas das big techs. Algumas adotaram um esquema híbrido, e poucas liberaram seus funcionários para continuar trabalhando de casa.

Um exemplo curioso é o da Zoom. A empresa, que virou sinônimo de reuniões por vídeo durante o isolamento, considerou que discussões remotas não são tão produtivas. Com isso, quem mora a menos de 80 km de um escritório passou a ir duas vezes por semana ao trabalho.

Escrivaninha em casa, com notebook, mouse, plantinha e garrafa
Um dos funcionários da Dell disse que home office trouxe mais tempo para se dedicar a família e hobbies (Imagem: Mikey Harris / Unsplash)

Medidas do tipo encontram resistência de funcionários. Segundo relatos internos da Dell, 50% dos trabalhadores dos Estados Unidos e um terço dos outros países preferiram continuar no home office, mesmo que isso signifique renunciar a promoções na carreira.

Quem contrariou a tendência foi a Nvidia. A fabricante de chips tem escritórios, mas não obriga ninguém a ir.

Para Beau Davidson, vice-presidente de experiência dos funcionários, o esquema flexível “é uma maneira para os trabalhadores encontrarem um equilíbrio entre obrigações pessoais e profissionais enquanto se preparam para o futuro, para que possam se concentrar no trabalho de suas vidas”.

Com informações: Fortune

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Giovanni Santa Rosa

Giovanni Santa Rosa

Repórter

Giovanni Santa Rosa é formado em jornalismo pela ECA-USP e cobre ciência e tecnologia desde 2012. Foi editor-assistente do Gizmodo Brasil e escreveu para o UOL Tilt e para o Jornal da USP. Cobriu o Snapdragon Tech Summit, em Maui (EUA), o Fórum Internacional de Software Livre, em Porto Alegre (RS), e a Campus Party, em São Paulo (SP). Atualmente, é autor no Tecnoblog.