Review Motorola One Zoom: quatro câmeras para ver melhor?
One Zoom tem zoom óptico de 3x, lente ultrawide e câmera de 48 MP para tirar fotos melhores, mas nem sempre consegue
One Zoom tem zoom óptico de 3x, lente ultrawide e câmera de 48 MP para tirar fotos melhores, mas nem sempre consegue
O One Zoom é o primeiro smartphone da Motorola com quatro câmeras na traseira. A empresa juntou o sensor de 48 megapixels do One Vision com a lente ultrawide do One Action e adicionou uma teleobjetiva para capturar imagens com zoom óptico de 3x, mantendo ainda um sensor de profundidade. O resultado é um dominó de câmeras com direito a um logotipo que acende no escuro.
Mas será que os quatro olhos fazem o One Zoom enxergar melhor? Por R$ 2.499, vale a pena comprar um pensando em fotografia? Eu usei o lançamento da Motorola como meu celular principal e conto minhas impressões nos próximos minutos.
Apesar de causar estranhamento à primeira vista, o One Zoom é bonito pessoalmente. A parte frontal não traz nenhum segredo, com um entalhe para a câmera frontal e uma moldura relativamente fina. Já a traseira é revestida de um vidro acetinado que, além de dar um visual diferenciado, esconde um pouco as marcas de dedo, pelo menos se você resolver não utilizar a capinha transparente que a Motorola envia com o celular.
O dominó de câmeras está em um calombo que também estampa a marca da Motorola. Mas não é uma marca qualquer: ela tem um LED branco que acende quando você recebe notificações ou simplesmente está usando o aparelho, o que me fez relembrar os MacBooks antigos. É discreto e passa despercebido em ambientes iluminados, mas é claro que você pode desativar o efeito se estiver se sentindo uma propaganda ambulante.
Pela primeira vez no Brasil, a Motorola tem um celular com leitor de impressões digitais sob a tela. O sensor biométrico do One Zoom se mostrou preciso, mas não é ultrassônico como o do Galaxy S10, por isso não funcionou bem com o dedo suado ou úmido. Segundo a Motorola, ele tem aprendizagem de máquina e se torna mais rápido com o tempo, mas a velocidade de desbloqueio comigo foi boa desde a primeira vez.
A tela de 6,4 polegadas é OLED, tem resolução de 2340×1080 pixels e proporção 19:9, sendo um pouco mais larga que a do One Vision. O brilho não é fraco, mas a visibilidade sob a luz do sol não é das melhores para um painel desse tipo. E as cores de fábrica não me agradaram por serem saturadas em excesso, mas é fácil ajustar esse detalhe nas configurações de tela.
O One Zoom roda Android 9.0 Pie com a mesma interface dos outros celulares da Motorola, com ícones redondos, quase nada pré-instalado e recursos extras concentrados no aplicativo Moto, como o movimento para abrir a câmera, o toque com três dedos para tirar print, as notificações em standby e a navegação por gestos, que substitui o trio de botões virtuais por uma barra inferior que ocupa menos espaço.
O detalhe mais importante, que torna o One Zoom diferente de todos os celulares da linha Motorola One até agora, é a ausência do Android One. Esse programa do Google garante duas atualizações de Android e correções mensais de segurança por três anos. Para a Motorola, o Android One não era mais um fator decisivo de compra, por isso foi deixado de lado.
A verdade é que, embora o usuário médio não esteja muito preocupado com atualizações, a Motorola perde a chance de conquistar um nicho que gosta de rodar sempre a última versão do Android — um nicho que a própria Motorola criou no mercado brasileiro, já que os celulares Google Pixel não são vendidos por aqui. Com isso, o One Zoom não é muito diferente da linha Moto G, tendo apenas uma atualização garantida (o Android 10) e correções trimestrais de segurança até 2021.
Sem dúvida, as câmeras traseiras são o maior destaque do One Zoom. Nem sempre mais câmeras significam melhores fotos, vide o Nokia 9 PureView, que com suas cinco lentes conseguiu ser pior que celulares de 2016 nos testes. Então fica a dúvida: a Motorola conseguiu? Mais ou menos.
A câmera principal de 48 megapixels já era conhecida: é o mesmo conjunto óptico do One Vision, com estabilização óptica de imagem e uma abertura generosa de f/1,7 que tira fotos de boa qualidade. O alcance dinâmico não é tão amplo quanto nos topos de linha, o que faz alguns detalhes em sombras sumirem, mas é decente para um aparelho dessa faixa de preço. As cores não são muito saturadas, tendendo mais ao natural, mesmo com as otimizações de cena ativadas.
Mas é à noite que a câmera principal se sobressai. No modo automático, a imagem é apenas ok, com ruído perceptível e luzes estouradas. No modo noturno, todo o quadro fica equilibrado, com exposição acertada e boas cores. A Motorola continua pesando a mão no filtro de nitidez, o que chega a causar alguns serrilhados, mas esse defeito não deve ser muito perceptível em fotos compartilhadas nas redes sociais.
A questão é que as câmeras ultrawide e teleobjetiva são apenas medianas. Isso não seria um problema em um celular qualquer, mas minha régua é diferente para um produto com foco claro em fotografia. Para começar, essas duas câmeras não têm modo noturno, por isso, a definição e a exposição sofrem bastante com pouca luz. Na ultrawide, o ruído alto incomoda.
Mesmo em ambientes bem iluminados, eu não classificaria as câmeras auxiliares como “boas”. A teleobjetiva tem 3x de zoom óptico, o que é melhor do que muitos celulares mais caros, que ficam em 2x, mas a definição claramente poderia ser melhor. E, na ultrawide, o maior problema é que as fotos tendem a ficar subexpostas, acabando com os detalhes em áreas de sombra.
Na câmera de selfie de 25 megapixels, os resultados são bons. Como a lente é de foco fixo, não dá para esperar a última gota de definição, mas as fotos têm cores equilibradas e pouco ruído. O calcanhar de Aquiles da Motorola continua sendo o software: o recorte no modo retrato é muito falho, o que impossibilita uma qualidade realmente boa nos desfoques de fundo e destaques de cores.
Quer mais uma limitação estranhíssima? Não tem como filmar em 4K com a câmera frontal, algo que o Moto G7 Plus e o Motorola One Action fazem (e ambos são mais baratos).
Faz tempo que a Motorola não traz um celular com processador mais potente ao Brasil: o último foi o Moto Z2 Force, com Snapdragon 835, em 2017. Os lançamentos que se seguiram foram equipados principalmente com os chips da antiga série 600 da Qualcomm, sem otimizações muito elaboradas de microarquitetura ou chips gráficos caprichados.
Isso muda com o One Zoom, que chega com Snapdragon 675. Ele tem pouca coisa a ver com os velhos Snapdragon 625, 630 ou 636, porque traz uma GPU mais potente para jogos, a Adreno 612, além de uma microarquitetura Kryo 460, com dois núcleos de altíssimo desempenho (Cortex-A76) e outros seis de economia de energia.
O que essa sopa de letrinhas quer dizer é que o desempenho do One Zoom é irretocável para um intermediário premium. Eu não presenciei nenhum engasgo ou demora na abertura de aplicativos no dia a dia. Todas as animações da interface sempre se mostraram muito fluidas. E os jogos rodaram bem, com qualidade gráfica acima da média e taxa de quadros constante.
O hardware também se mostrou eficiente em consumo de energia. A bateria de 4.000 mAh deve durar o dia inteiro com folga para a maioria das pessoas. Nos meus dias de teste, com duas horas de streaming pelo 4G e 1h30min de navegação, entre e-mails, redes sociais e sites, também pela rede móvel, sempre com brilho no automático, eu constantemente chegava à noite com mais de 50% de carga.
O One Zoom não é um celular ruim, muito pelo contrário: talvez seja o melhor aparelho lançado pela Motorola este ano. A questão é o foco: você quer um bom smartphone, ou quer um bom smartphone para fotografia? Se for a segunda opção, certamente o One Zoom não é a escolha ideal por R$ 2.499.
A câmera traseira principal é boa, já que é a mesma do One Vision, que custa 500 reais a menos. Mas a ultrawide e a teleobjetiva não acrescentam tanto: embora a Motorola tenha se esforçado em colocar até estabilização óptica de imagem na lente com zoom, na prática os resultados são apenas ok. Conhecendo o histórico da Motorola, eu diria que é mais provável que o problema esteja no software do que nas câmeras propriamente ditas, mas não tenho como prever se uma atualização melhoraria isso.
Mas o conjunto da obra é bom. O desempenho é excelente e a bateria dura muito, então o One Zoom pode ser uma opção interessante de upgrade para quem está com um Moto Z Play ou Moto Z2 Play, por exemplo. Alguns concorrentes diretos, como o Samsung Galaxy A70, começaram a chegar com 6 GB de RAM pelo mesmo preço, mas os 4 GB do One Zoom deram conta do recado muito bem.
Os preços da Motorola costumam demorar mais para cair no varejo, o que abre espaço para os topos de linha da geração passada. O Samsung Galaxy S9+, que pode ser encontrado na faixa dos R$ 2,3 mil enquanto faço este review, seria a alternativa mais óbvia: você perde em bateria, mas a tela, as câmeras e o desempenho são melhores.
No final das contas, o One Zoom me parece um celular que seria comprado por quem é fã da Motorola e já está acostumado com o software limpo e atualizado, a bateria grande com carregamento rápido e a construção sólida. Justamente por isso, a remoção do Android One é um dos grandes defeitos para mim.
Leia | O que é o sensor de profundidade na câmera do celular?