Review Samsung Galaxy Watch: atenção aos detalhes
Disponível nas versões de 42 mm e 46 mm, Samsung Galaxy Watch traz visor Super AMOLED e sistema operacional Tizen 4.0; preços oficiais começam em R$ 2.199
Disponível nas versões de 42 mm e 46 mm, Samsung Galaxy Watch traz visor Super AMOLED e sistema operacional Tizen 4.0; preços oficiais começam em R$ 2.199
É improvável que os smartwatches se tornem tão relevantes quanto os smartphones. Apesar disso, o mercado de relógios inteligentes existe e resiste, em parte, por conta do esforço da indústria para convencer as pessoas de que, ao olhar para o pulso, elas podem encontrar muito mais do que as horas. O Samsung Galaxy Watch é um notável resultado desse trabalho.
A marca sul-coreana lançou o relógio em agosto de 2018 no Brasil junto com o Galaxy Note 9 e, em novembro, trouxe o modelo com 4G ao país. O Galaxy Watch está disponível em duas versões, uma com caixa de 42 mm (tela de 1,2 polegada), outra com 46 mm (tela de 1,3 polegada).
Entre os recursos do smartwatch destacados pela Samsung está a longa duração da bateria, a construção robusta, a compatibilidade com quase 40 tipos de atividades físicas e a reprodução de músicas. Será que tudo isso faz o gadget valer a pena?
Eu tive a chance de testar tanto o Galaxy Watch de 42 mm quanto o de 46 mm. Conto as minhas impressões a seguir.
Não há regra: você pode ter pulsos finos e gostar de relógios grandes — cada um no seu estilo. Mas, quando o assunto é smartwatch, talvez seja melhor usar o tamanho mais apropriado para o seu o braço, por uma simples razão: como você provavelmente vai usar o relógio para fazer exercícios, quanto menos incômodo existir, melhor.
Pelo menos foi essa a sensação que eu tive ao usar o Galaxy Watch de 46 mm. Meus pulsos são finos, por isso, esse modelo ficou parecendo o relógio do Ben 10 em mim. Mais do que a desproporção visual, o peso (63 g) e o fato de ele ficar folgado no meu braço, mesmo com a pulseira bem ajustada, me incomodaram bastante.
Já o modelo de 42 mm ficou perfeito em mim, tanto pelas dimensões mais apropriadas quanto pelo peso menor, de 49 g — apesar de pequena, é uma diferença que contribui para o conforto.
Mas que fique claro: eu não estou dizendo que o relógio de 46 mm é ruim. Apenas ilustro com a minha própria experiência de uso que escolher o tamanho mais adequado às suas características físicas pode fazer diferença aqui.
Ambos os relógios são muito bem construídos. O corpo é de aço inoxidável — material leve e resistente, como você deve saber —, estando disponível na cor preta (como na unidade testada aqui) e dourado rosé para a versão de 42 mm, e prata para o Galaxy Watch de 46 mm.
Tal como outros smartwatches da Samsung — como o Gear Sport que eu testei no fim de 2017 —, o Galaxy Watch traz dois botões na lateral direita. O botão inferior serve sobretudo para ligar o visor e levar à tela inicial do relógio. Já o botão superior executa principalmente a função de “voltar”. Os dois são bem firmes e possuem ranhuras para evitar que o dedo deslize.
Essa coroa sobre a tela gira nos dois sentidos e você vai usá-la com frequência (apenas a parte externa gira; o aro com os números é fixo). Ela serve para navegar pelo sistema operacional e alternar entre as opções dos aplicativos. Admito que gosto de ouvir o “click” que ela faz a cada movimento de giro.
A coroa exerce outra função: por ser elevada, ajuda a proteger a tela. Por conta disso, imagino que as chances de uma tragédia acontecer aqui em caso de queda são bem menores do que as do Apple Watch, por exemplo.
Olhando o relógio por baixo, nos deparamos com uma tampa de plástico, não de metal. Acho que foi uma boa escolha. Comparando com os relógios convencionais de metal que tenho aqui, esse material me pareceu mais confortável. E, sim, nesse círculo ao centro encontramos o sensor de batimentos cardíacos.
Não menos importantes são os cuidados com as pulseiras. Elas são de silicone e, além de confortáveis, têm flexibilidade e ranhuras que deixam a pele “respirar”, característica deveras relevante, afinal, se você praticar exercícios, vai transpirar. Elas parecem ser bastante resistentes a líquidos e à incidência de luz solar, mas só com uso prolongado eu poderia confirmar isso.
De todo modo, se você quiser trocá-las, não deverá ter dificuldades para isso: as pulseiras do Galaxy Watch seguem os padrões universais de 20 mm (versão menor) e 22 mm (versão maior).
Já parou para pensar em como as telas dos smartwatches são paradoxais? Sem levar em conta os desafios técnicos que os desenvolvedores precisam encarar, esperamos que esses visores minúsculos nos entreguem uma ampla variedade de informações.
Para isso, a tela necessita receber um cuidado especial. Nesse aspecto, o relógio da Samsung não decepciona: ele traz um painel de 1,2 polegada (42 mm) ou 1,3 polegada (46 mm) com resolução de 360×360 pixels que é capaz de exibir uma quantidade considerável de informações (para um relógio).
Por ser Super AMOLED, a tela do Galaxy Watch exibe cores vibrantes e preto profundo, mas sem excessos na saturação. A visualização sob ângulos variados é excelente. Leve em conta também que o brilho máximo é bem forte e tem um ajuste automático que funciona de modo rápido e preciso.
Esse detalhe é importante ao extremo, pois, se você usar o relógio para monitorar exercícios físicos em áreas externas, não pode ter dificuldades para enxergar o conteúdo da tela. Eu fiz alguns testes em dias ensolarados e, de fato, não tive dificuldades para isso, nem mesmo usando óculos escuros.
Outra característica importante é a sensibilidade a toques. Muitas tarefas, como iniciar um exercício, precisam ser acionadas com toques no visor. O tempo de resposta é rápido e os toques são precisos, embora seja estranho ficar passando o dedo sobre o mostrador, ainda mais quando as suas mãos estão suadas. É um ritual com o qual você se acostuma rapidamente, porém.
Olhando em retrospecto, percebemos que a Samsung normalmente só nomeia como Galaxy dispositivos baseados no Android. Mas, talvez motivada pela força que o nome tem, a companhia decidiu abrir uma exceção: em vez de Wear OS (outrora, Android Wear), o Galaxy Watch tem o Tizen 4.0 como sistema operacional.
Trata-se de um software bastante otimizado, tanto no desempenho quanto na usabilidade. É interessante como, com apenas alguns minutos de uso, você já consegue dominar toda a dinâmica da interface.
Basicamente, você tem a tela inicial, que pode ser ativada com os botões ou com o simples movimento de levantar o braço para olhar o relógio. Depois é só ir girando a coroa ou arrastar o dedo sobre o mostrador para acessar os vários widgets disponíveis: metas de passos, previsão do tempo, apps principais, monitor de saúde (inclusive as medidas dos batimentos cardíacos), contatos e assim por diante.
Se você tocar no topo da tela e arrastar o dedo para baixo, vai acessar uma área de configurações. Ali é possível, por exemplo, mudar o mostrador. Há 13 opções disponíveis, sendo que em uma delas você pode escolher uma foto para servir de background. Há outras trocentas opções para download em uma espécie de loja de visores que você pode acessar via smartphone.
Este é um ponto importante: embora você possa usar o smartwatch isoladamente, é expressamente recomendável sincronizá-lo com o seu smartphone. O relógio é compatível com Android (incluindo os aparelhos que não são da Samsung) e, olha só, iPhone.
A sincronização é feita via Bluetooth e tem como base o aplicativo Samsung Wearable, que exibe no celular dados do relógio (como status da bateria e memória), dá acesso a mais opções de visores e permite que você configure vários parâmetros do Galaxy Watch.
Também é recomendável que você instale o Samsung Health (que, normalmente, já vem instalado nos smartphones da marca). O app dá acesso a várias informações de saúde monitoradas pelo smartwatch, como relatórios de atividades físicas, medições de batimentos cardíacos, nível de estresse e qualidade do sono.
Voltando ao smartwatch, não posso deixar de dizer que o Tizen tem um universo de aplicativos muito mais limitado do que o Wear OS. Apps como Google Maps e Runkeeper não estão disponíveis aqui, só para dar alguns exemplos.
Algumas parcerias foram fechadas para amenizar essa situação. Uma delas é com o Spotify, cujo app para o Galaxy Watch permite até que músicas sejam baixadas no relógio. O problema é que, por ora, esse app está cheio de falhas. A mais bizarra faz músicas aleatórias serem reproduzidas do nada (não, água benta não resolveu).
Em contrapartida, os apps próprios do smartwatch são muito bons, especialmente no que diz respeito a atividades esportivas. O software do relógio é capaz de monitorar 39 modalidades diferentes e pode identificar seis tipos de exercícios automaticamente. Fiquei bastante surpreso quando, ao iniciar uma caminhada, o vi reconhecer essa atividade após eu ter avançado apenas uns 30 metros.
O Galaxy Watch ainda traz player de música, widget para exercícios de respiração, calendário, notificações de incentivo para atividades físicas, entre outros.
O Tizen 4.0 pode até ser bem otimizado, mas isso não livra o relógio de ter um hardware decente para conseguir desenvoltura. O Galaxy Watch tem: o processador é um dual-core Exynos 9110 de 1,15 GHz acompanhado de 768 MB de RAM (1,5 GB de RAM nas versões com 4G), 4 GB de espaço interno para dados (cerca de 1,5 GB é livre para o usuário).
Eu não notei problemas de desempenho aqui. Os apps abriram rapidamente e responderam sem apresentar lentidão ou travamentos. As medições também me pareceram precisas ou, ao menos, bem próximas da realidade: comparei os batimentos cardíacos com uma medição feita manualmente, por exemplo, e os resultados foram praticamente os mesmos.
Ambos os relógios têm o mesmo hardware básico, exceto pela bateria. Na versão de 42 mm, o Galaxy Watch conta com bateria de 270 mAh. Na versão de 46 mm, o componente oferece 472 mAh.
Eu fiquei impressionado com a autonomia. Na versão de 42 mm, a bateria pode chegar a quatro dias de duração — no meu caso, a carga estava em 4% no meio do quarto dia. Para os testes, usei o relógio durante cerca de cinco horas diárias. Depois usei o modelo de 46 mm também por cinco horas. No fim do quarto dia, o relógio maior ainda tinha 8% de carga, ou seja, é pouca coisa superior em relação à unidade de 42 mm.
Mas não deixa de ser interessante, né? Só para fins de comparação, o já mencionado Samsung Gear Sport que eu testei no fim de 2017 tem bateria de 300 mAh e, de acordo com os testes que eu fiz na época, autonomia de dois dias.
Já o tempo de recarga não é dos mais impressionantes, provavelmente porque o processo é feito por indução (sem fio). No relógio de 42 mm, precisei de 2h45min para fazer a bateria ir de 15% para 100% de carga. Na unidade de 46 mm, esse tempo foi de 3h10min, aproximadamente.
Além de bateria maior, a unidade de 46 mm testada aqui veio dotada de 4G. Talvez isso explique a autonomia similar à do modelo de 42 mm. A conexão à rede móvel não é feita a partir de um SIM card, mas por meio da tecnologia eSIM, a exemplo do Apple Watch.
O grande benefício dessa opção é que você pode sair por aí só com o Galaxy Watch, sem depender do celular por perto para receber notificações, ouvir música por streaming ou até mesmo atender a ligações — um redirecionamento de chamadas é feito para o smartwatch.
Os modelos com 4G são particularmente interessantes para quem pratica exercícios regularmente. Nessas circunstâncias, usar o smartphone pode não ser uma boa ideia: o peso do aparelho pode te atrapalhar e, mesmo tomando todos os cuidados, as chances de você deixar o dispositivo cair aumentam.
Funciona, viu? Confesso que foi uma experiência bastante inusitada discar um número no visor do relógio e a ligação ser realizada normalmente, sem que o smartphone estivesse por perto.
A qualidade da chamada é equivalente ao viva-voz dos smartphones. O microfone acaba pegando ruído de fundo (como barulho de carros), mas você consegue entender a pessoa do outro e ser entendido.
Só que é preciso ponderar bastante sobre o real benefício das versões com 4G. Primeiro porque elas são, oficialmente, R$ 400 mais caras que as unidades que só contam com Wi-Fi.
Segundo porque, pelo menos por enquanto, é necessário assinar um plano pós-pago da Vivo e então habilitar o Vivo Sync para o eSIM funcionar. Esse serviço custa R$ 19,99 por mês, se bem que, para quem assiná-lo até o fim de 2018, haverá um ano de acesso gratuito.
Os smartwatches com 4G têm 1,5 GB de memória RAM, tanto na versão de 42 mm quanto na de 46 mm, mas eu não notei ganho de desempenho em função disso.
Reparou que, durante todo o review, eu me referi ao Galaxy Watch quase que exclusivamente como um dispositivo para monitorar atividades esportivas? Você já ter deduzido o motivo: apesar de não levar “Sport” ou algo similar no nome, o relógio não vai muito além disso.
Se não for para monitorar exercícios físicos e alguns parâmetros de saúde (como qualidade de sono), dificilmente um dispositivo como este fará sentido. Essa é a realidade de quase todo o segmento de smartwatches, mas ganha força no Galaxy Watch por conta das limitações do Tizen: a grande maioria dos apps disponíveis na plataforma são pouco ou nada úteis, o que diminui as possibilidades de uso do relógio.
Agora, se você busca aqui um dispositivo para ajudar com prática de esportes, o Galaxy Watch pode realmente ser uma escolha interessante, principalmente porque é perceptível que, na comparação com relógios anteriores da Samsung, a detecção de atividades está mais refinada.
Relembrando, o smartwatch consegue monitorar até 39 atividades, seis das quais são detectadas automaticamente: caminhada, corrida, ciclismo, elíptico (aparelho que simula uma caminhada), remada e treino dinâmico.
Também é perceptível que, no Galaxy Watch, a Samsung trabalhou nos detalhes. Até um “tic tac” é executado quando um mostrador que simula um relógio analógico é ativado. Tem mais: o Tizen 4.0 está mais lapidado, o dispositivo tem boa construção, a tela é excelente para uso externo, as pulseiras são confortáveis e não há gargalos no desempenho.
Só é essencial parar para pensar se um relógio como esse pode fazer diferença no seu dia a dia. Eu acredito que, se você for do tipo que só pratica esportes de vez em quando, o Galaxy Watch não vai ser de grande valia.
Se, por outro lado, você mantém ou quer manter uma rotina de atividades físicas, o smartwatch pode ser um bom companheiro para isso, não só pela possibilidade de acompanhar o seu progresso, mas também porque essas informações acabam servindo de incentivo para você não desistir de se exercitar regularmente.
Mas, pondere bem, pois os preços para contar com todos os atributos do Galaxy Watch não são dos mais amigáveis: oficialmente, o relógio custa R$ 2.199 na versão de 42 mm e R$ 2.399 no modelo de 46 mm. Ah, e não se esqueça de adicionar mais R$ 400 a esses valores nas unidades com 4G e os gastos com a operadora.
Pois é, ser tecnologicamente fitness custa caro, pelo menos no Brasil.
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