Review: Eu compraria um Chromebook
Samsung Chromebook 3 é um notebook barato e compacto com muita bateria
Samsung Chromebook 3 é um notebook barato e compacto com muita bateria
Os Chromebooks chegaram ao Brasil em 2014, mas ainda têm presença tímida. Enquanto os norte-americanos possuem acesso a mais de vinte modelos, por aqui apenas dois são vendidos nas lojas, ambos da Samsung. O mais recente é o Chromebook 3, um notebook básico que custa em torno de 1.000 reais e promete aguentar muito tempo fora da tomada.
Com hardware simples, o Chromebook 3 é uma máquina compacta, com peso de apenas 1,1 kg e tela de 11,6 polegadas. Será que é uma boa opção de compra?
O Chromebook 3 é um notebook acessível e não foge do padrão da categoria. Com plástico rígido por todo canto, ele possui uma textura na tampa que me lembra os laptops da Acer e uma moldura em volta da tela que adora impressões digitais. Nesse sentido, o design parece um retrocesso em comparação com o antecessor que, acusações de cópias à parte, tinha um visual bem agradável.
Mas é importante ressaltar a mobilidade: é difícil encontrar um notebook mais leve na mesma faixa de preço. Parece besteira, mas quando troquei uma máquina de 1,35 kg por uma de 2,06 kg, senti muita diferença — a verdade é que, quando se carrega não apenas um laptop, mas também câmera, fones de ouvido, cabos, fonte de alimentação e vários outros itens, qualquer grama a mais é sentido nas costas.
Um dos itens mais afetados nos notebooks mais simples é a tela, e a Samsung realmente economizou no Chromebook 3. Com proteção antirreflexo, a definição é ok, com 1366×768 pixels distribuídos em 11,6 polegadas, mas a qualidade do painel deixa muito a desejar: as cores são lavadas demais, o preto é quase cinza e o ângulo de visão é tão limitado que qualquer mexida na tela é suficiente para causar grandes variações nas cores.
É claro que não dá para esperar uma tela de altíssima qualidade num notebook de entrada, mas a Samsung deveria colocar uma tela minimamente apresentável. Em várias situações, o Chromebook 3 foi ruim até para digitar textos, já que o baixo contraste do painel dificultava a visualização de letras mais claras. Como o Chrome OS não permite ajustes mais finos na tela, não dá muito para fugir do problema.
Embora tenha algumas escolhas questionáveis, como o estreito botão Enter e os sinais de barra e ponto de interrogação nas teclas Q e W (sério, quem inventou isso?), o teclado do Chromebook 3 cumpre bem a proposta: a digitação é um pouco ruidosa, mas confortável, e bastam algumas horas para se acostumar com as teclas baixinhas.
Ele tem layout ABNT2 e a típica disposição dos Chromebooks, com botões dedicados para navegação em vez das teclas F1 a F12. Não existe a tecla Caps Lock, então ele pode ser uma opção interessante para aquele parente que ainda não se acostumou com a internet e fica GRITANDO no Facebook — no lugar dela, há uma tecla de busca, que abre um pop-up para fazer uma pesquisa ou abrir um aplicativo.
O Chrome OS não é muito mais do que um sistema operacional que só roda um navegador, mas não há problema nisso — e a intenção do Google não parece ser substituir seu notebook com Windows, macOS ou Linux. Ele supriu muito bem minhas necessidades básicas como “segundo notebook” na faculdade e no trabalho, já que a maioria das minhas tarefas, de qualquer forma, é feita no navegador.
A simplicidade significa que você não se distrairá com aplicativos roubando sua atenção e contribui muito com a duração da bateria, como explicarei adiante. Ainda assim, o Chrome OS é capaz de rodar alguns softwares portados do Android, como o Evernote e o cliente de e-mail CloudMagic. Isso também significa que o Chrome OS continua bastante funcional mesmo sem acesso à internet: além dos aplicativos de Android, dá para editar textos ou planilhas na suíte offline do Google Drive.
Só senti falta de um editor de imagens melhorzinho; a Adobe fez alguns testes rodando o Photoshop por streaming nos Chromebooks, mas aparentemente o projeto não avançou. O jeito foi recorrer às opções limitadas da Chrome Web Store ou apelar para webapps, como o Pixlr Editor, que permite fazer somente ajustes simples nas fotos.
De forma geral, o sistema operacional do Google me acompanhou muito bem durante a semana de testes. Se eu utilizasse o Chromebook 3 como único notebook, os poucos problemas se limitariam às transações no internet banking (não é possível instalar o plugin de segurança do banco) e burocracias do governo baseadas em Java, não disponível para Chrome OS.
A primeira impressão do Chromebook 3 engana. Por ter um sistema operacional simples e armazenamento em flash, tudo parece muito rápido nos primeiros minutos. O Chrome abre rapidamente e os aplicativos não demoram para aparecer na tela. Só que, depois de abrir algumas abas no navegador, os 2 GB de RAM começam a mostrar suas limitações.
Por várias vezes, eu tive que fechar abas para conseguir abrir outras — ou pior, matar processos travados que estavam consumindo memória demais, algo que nunca se deveria exigir do usuário. Fica a impressão de que os problemas não aconteceriam num modelo com 4 GB de RAM (que, aliás, é vendido nos Estados Unidos). Afinal, se o Chrome é inutilizável numa máquina com Windows e 2 GB de memória, no Chrome OS ele até quebra o galho.
Além disso, o processador dual-core Intel Celeron N3050 de 1,6 GHz causou algumas lentidões chatas, embora esperadas, ao acessar páginas mais complexas ou reproduzir vídeos mais pesados, como arquivos *.mkv em 1080p, o que é uma pena, já que a qualidade do alto-falante é bem decente.
Se o desempenho é frustrante, a bateria foi uma grata surpresa. O Chrome é bastante conhecido por chupar a bateria do notebook de canudinho, mas por algum motivo isso não ocorreu no Chromebook 3. Com brilho em torno de 60% e acesso a redes sociais, e-mails, digitação de textos e edição de imagens, sempre com cinco ou seis abas abertas, a bateria sempre durou entre 7 e 9 horas, uma marca bem impressionante para um notebook de baixo custo — e suficiente para um dia de trabalho.
A maioria dos Chromebooks foca na portabilidade, na simplicidade, na duração de bateria e no preço acessível. Eles não vão atender todo mundo, mas são máquinas extremamente interessantes para alguns grupos.
De cabeça, posso citar jornalistas (quase nunca existe uma tomada por perto em coletivas) e estudantes (a bateria é suficiente para dois dias de aula e você leva um teclado decente, um navegador completo e tudo o que precisa para tomar notas). Há quem defenda a compra de um tablet, mas você teria uma tela pequena e um desempenho tão limitado quanto; ou um notebook comum, mas você carregaria um trambolho de 15 polegadas e mais de 2 kg. E também há quem cite a fala de Steve Jobs sobre netbooks, desconsiderando que existe uma diferença entre 1.000 e 7.000 reais.
Infelizmente, o Chromebook 3 tem problemas que prejudicam bastante o uso, notavelmente a tela de baixa qualidade (que pode dificultar tarefas como edição de imagens) e o desempenho limitado pela RAM, que exige que o usuário gerencie as abas abertas a todo instante. Ainda assim, para tarefas básicas, é uma máquina que serve muito bem e pode ser uma compra a se considerar — especialmente com a alta nos preços dos notebooks com Windows.
Esta foi minha primeira experiência longa com um Chromebook; até então, eu tive apenas contatos rápidos com o Chrome OS, que não duraram mais que um dia. E o que mais me impressionou é que os pontos positivos me despertaram um grande interesse pela plataforma. Penso seriamente em ter uma máquina simples, leve e com bateria decente para me acompanhar no trabalho e na faculdade, e um Chromebook parece a solução mais próxima da ideal.
Eu compraria um Chromebook. Não esse, mas compraria.
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