Smartwatches nunca foram um fenômeno de vendas, mas também não fracassaram (ainda?). Esse tipo de gadget pode até não atrair o grande público, mas tem espaço em nichos específicos. O mais relevante deles, muito provavelmente, é o de usuários que praticam esportes. O Gear Sport é o mais recente relógio da Samsung para essa turma.
O dispositivo foi lançado no Brasil em novembro e, com preço oficial de R$ 1.899, promete ser um excelente companheiro para caminhadas, corridas, pedaladas e até algumas braçadas na piscina. Mas ele também pode exibir notificações do seu smartphone, tocar música e, olha só, mostrar as horas.
Mas a bateria do Gear Sport aguenta quanto tempo? A pulseira é confortável? Dá para enxergar bem a tela em dias claros? Como é o desempenho geral? Vale a pena desembolsar R$ 1.899 por ele? Eu testei o relógio por alguns dias e explico esses e outros pontos a partir de agora.
Em vídeo
No braço
Por causa da bateria e outros componentes, smartwatches não são exatamente dispositivos compactos. Esse aspecto sempre me deixa ressabiado porque tenho punhos finos. Bom, o Gear Sport é realmente grandinho, mesmo que notoriamente menor que o Gear S3 Frontier. Apesar disso, não ficou parecendo que eu estava usando o relógio do Ben 10. Pelo menos não muito.
Esse é um dispositivo focado em esportes, portanto, o que mais interessa é que ele fique confortável em qualquer circunstância que envolva atividade física, não deixando, por exemplo, a pele irritada por conta da combinação de calor, suor e atrito com a pulseira.
Não deixa mesmo. A pulseira, de 20 mm, é feita de um silicone suficientemente flexível para não marcar o braço, a não ser, é claro, que você prenda o relógio de modo muito apertado. Na medida certa, a pulseira tem boa aderência, mas ao mesmo tempo não gruda, deixando a pele “respirar”.
Eu precisaria de muito mais tempo para avaliar este detalhe, mas a pulseira também me pareceu bastante resistente, suportando suor, sol e água sem ressecar ou dar sinais prematuros de desgaste — o que não significa que, após algum tempo de uso, você não tenha que trocá-la.
Se “sobrar” pulseira no seu braço, tudo bem: na embalagem do produto há uma unidade em tamanho menor da parte com furinhos, então é só fazer a troca. Leve em conta também que a Samsung usa no dispositivo um encaixe que é comum no mercado, assim, não deve ser difícil achar pulseiras de terceiros por aí.
O relógio em si (a caixa) é feito de um aço leve, com bastante durabilidade e resistente a oxidações. Talvez você já tenha imaginado, mas esse aro sobre a tela é uma espécie de catraca ou coroa giratória bidirecional. Você vai usá-la bastante para alternar entre apps e funções ou para configurar determinados parâmetros. É bem prático e não demora muito para você pegar o jeito.
No lado direito há dois botões. Em suas funções mais básicas, o inferior liga o visor e leva à tela inicial. Já o superior serve como “voltar”. Eles são firmes e têm umas ranhuras que evitam que o dedo deslize. Pode parecer um detalhe bobo, mas faz diferença quando você está correndo, por exemplo, e manipula o smartwatch com a mão suada.
De modo geral, o Gear Sport é bem-acabado e, sobretudo, confortável. Fica uma ressalva, porém: sei bem que há questões técnicas envolvidas, mas eu ficaria mais satisfeito se ele fosse um pouquinho mais fino.
Visor
Dá até para visualizar fotos com ótimos níveis de nitidez e coloração sem que você consiga distinguir um único pixel. Não que essas características sejam obrigatórias em smartwatches esportivos, mas é para você ter ideia do quão caprichada é a tela do Samsung Gear Sport.
Isso porque o visor tem 1,2 polegada de tamanho, exibe 16 milhões de cores e possui resolução de 360×360 pixels. Por ser Super AMOLED, as cores são profundas, mas sem exageros na saturação, e é possível enxergar as informações do display corretamente nos mais diversos ângulos de visão.
Como esse é um smartwatch com fins esportivos, é imprescindível que o brilho do visor seja forte para visualização em dias ensolarados. Não tive problemas com isso. O dispositivo tem sensor de luminosidade, portanto, consegue fazer ajuste automático de brilho. Funciona bem. Tive alguma dificuldade para enxergar a tela ao usar óculos escuros, mas nada comprometedor. De qualquer forma, você pode definir a intensidade nas configurações do relógio.
Eu passei a maior parte do tempo usando a coroa e os botões do Gear Sport para alternar entre as opções. Mas é preciso tocar na tela para dar play na música ou ativar a medição de batimentos cardíacos, por exemplo. Novamente, tudo nos conformes aqui. A sensibilidade a toques é precisa e rápida como tem que ser, ainda que seja meio estranho (no início, pelo menos) dar comandos tocando em um display tão diminuto.
Software
O Tizen 3.0, sistema operacional do Gear Sport, é um software maduro, definitivamente. Ele não é livre de imperfeições, porém. Não gosto, por exemplo, da “mania” do Tizen de voltar para a tela inicial após um período de standby, o que te obriga a procurar o aplicativo que você estava usando. Mas, no geral, o sistema é estável, intuitivo e repleto de funções.
Você só vai conseguir aproveitar tudo se sincronizar o relógio ao seu smartphone, é óbvio. Há dois apps principais nessa integração: o Samsung Gear, que você usará para configurar e consultar o status do relógio (nível de bateria e quantidade de RAM em uso, por exemplo) e o Samsung Health, para você mensurar as atividades físicas. Ambos estão disponíveis para Android (o aparelho não precisa ser Samsung) e iOS.
Feita via Bluetooth 4.2, a sincronização é tranquila. A partir dela também é feita a sincronização de rede Wi-Fi para que você possa instalar um app, por exemplo. Por meio do Samsung Gear, você também pode enviar fotos ou músicas do smartphone para o relógio. Assim, você consegue ouvir música com fones Bluetooth enquanto corre ou via caixinha Bluetooth se estiver usando uma bicicleta ergométrica na sala de casa, por exemplo.
Há 13 mostradores digitais disponíveis (mais a opção de usar uma foto como background), desde os mais minimalistas até os que resumem as atividades do seu dia a dia. Dá para configurá-los a partir do próprio relógio ou via Samsung Gear. No app, você ainda tem a opção de baixar outros mostradores — a maioria é paga.
No Samsung Gear, você também pode acessar a loja de apps para o Gear Sport. Aqui aparece a maior deficiência do Tizen: a quantidade de aplicativos disponíveis ainda é baixa. Ferramentas populares para atividades físicas, como Strava, Runtastic e Runkeeper não estão disponíveis para a plataforma, o mesmo valendo para apps como Google Maps, TripAdvisor e Evernote. Pelo menos o Spotify está lá.
Há trocentos apps na loja, é verdade, mas a maioria é duvidosa ou você simplesmente não nota nada de interessante nelas. Aí já viu, né? O Tizen acaba sendo completamente dependente dos esforços da própria Samsung para encontrar sentido na vida. Pelo menos a companhia faz um bom trabalho. Os recursos nativos são bastante funcionais.
Dado o público-alvo do smartwatch, os widgets dão acesso principalmente aos recursos esportivos. Basta ir girando a coroa para acessar o contador de calorias gastas, o contador de passos (você pode definir metas), o contador de andares (aqui também), o medidor de batimentos cardíacos, a previsão do tempo (em sincronia com o smartphone), o player de música e outras funcionalidades que você definir.
Desempenho e bateria
É também pelos widgets que você acessará as funções que medem os exercícios. Os principais são corrida, caminhada, ciclismo e natação — o Gear Sport tem certificação 5 ATM (50 metros), mas deve ser usado em nados na piscina ou mar em água rasa.
As atividades mensuradas também incluem esteira, bicicleta ergonômica, abdominais, pilates e até remo. Acelerômetro, giroscópio e demais sensores ajudam o relógio a detectar os movimentos. O GPS funcionou como deve funcionar, exibindo o trajeto correto das caminhadas que fiz, embora tenha demorado preciosos segundos para detectar o ponto de partida.
Tudo rodou de maneira estável e uniforme. Em nenhum momento tive problemas com travamentos, lentidão ou erros em aplicativos. O Samsung Gear Sport é equipado com um processador Exynos 3250 (dois núcleos Cortex-A7) de 1.0 GHz e 768 MB de RAM, combinação que dá conta do recado com folga, pelo menos na execução dos aplicativos nativos.
Há 4 GB de espaço para você instalar apps e armazenar músicas, mas não conte muito com essa característica: apenas 1,5 GB fica livre para uso após as atualizações de software. Imagino que não vai ser difícil lotar o espaço com o cache do Spotify, por exemplo.
Lembra do microfone? Pois bem, você pode dar alguns comandos falados ao relógio via S-Voice. Mas não é nada muito interessante. Dá para dizer “olá, Gear” e, em seguida, enviar instruções como “que dia é hoje?”, “tocar música” e “iniciar exercício”, mas tudo começa tão lentamente que você vai preferir acionar esses recursos usando os dedos mesmo. E o ruído externo atrapalha. Na rua, só consegui ser entendido aproximando o relógio da minha cara.
Usando o relógio o dia inteiro e fazendo cerca de duas horas de exercícios por dia com o GPS ativado, notei que a bateria do Gear Sport aguenta com relativa facilidade dois dias longe do carregador. É uma boa média. Se a situação apertar, há um modo de economia de energia que mantém a tela em preto e branco, além de deixar somente as funções mais básicas funcionando.
A recarga, feita por indução, não me agradou muito, não. Precisei de quase duas horas e meia para fazer a bateria ir de 13% a 100%.
Conclusão
Eu sempre gostei de relógio. Apesar disso, nunca me empolguei com smartwatches. A razão é simples: eles me dão mais trabalho do que conveniência, afinal, tenho que me preocupar constantemente com a bateria, só consigo aproveitar todos os recursos se sincronizar o relógio com o smartphone e, não raramente, as limitações de interface me fazem perder tempo para acessar determinadas funções.
O Gear Sport é mais fácil de lidar porque ele atende a um nicho bem definido. Você pode usá-lo em outras atividades, é claro, mas provavelmente não vai comprá-lo se não for para monitorar atividades físicas. A questão é: vale a pena?
Tecnicamente, sim. O relógio é confortável (apesar de não ser compacto), tem bateria minimamente decente, é impermeável, o visor agrada bastante, a coroa giratória é mais prática do que parece e os sensores são precisos, pelo menos o suficiente para quem pratica atividade física regularmente, mas não no nível de um atleta.
Em contrapartida, o ecossistema do Tizen é muito limitado. Embora o sistema esteja cada vez mais refinado, a quantidade reduzida de apps frustra as possibilidades de uso. Talvez você esteja acostumado com um app de atividades físicas mais completo, mas não pode aproveitá-lo no Gear Sport por falta de compatibilidade.
Felizmente, o saldo é positivo. Há mais funcionalidades do que limitações. Mas o preço oficial do Gear Sport no Brasil é de R$ 1.899, como você sabe. Já dá para encontrá-lo por cerca de R$ 1.500, mesmo assim, não deixa de ser um valor alto. Só vale a pena se você tiver certeza de que ele não será supérfluo no seu dia a dia, mas isso vale para qualquer smartwatch, certo?
Especificações técnicas
Bateria: 300 mAh;
Conectividade: GPS, Wi-Fi 802.11n, NFC, Bluetooth 4.2 LE;
Dimensões: 44,6 x 42,9 x 11,6 mm;
GPU: Mali-400MP2;
Memória interna: 4 GB (1,5 GB livres);
Memória RAM: 768 MB;
Peso: 67 gramas (com a pulseira);
Plataforma: Tizen 3.0;
Processador: dual-core Exynos 3250 de 1 GHz;
Sensores: acelerômetro, giroscópio, luminosidade, batimentos cardíacos;
Tela: Super AMOLED de 1,2 polegada com resolução de 360×360 pixels e Gorilla Glass 3.