Review TV 8K Samsung Q900R: muitos pixels, mas faz diferença?
Primeira TV 8K da Samsung impressiona pelo brilho forte e contraste excelente, mas resolução é o de menos aqui
Primeira TV 8K da Samsung impressiona pelo brilho forte e contraste excelente, mas resolução é o de menos aqui
33 milhões de pixels, processador com inteligência artificial para melhorar a qualidade da imagem e uma definição tão alta que cria uma sensação de profundidade nas cenas. Isso é o que promete a Samsung Q900R, a primeira TV 8K a ser vendida no mercado brasileiro. Com tecnologia QLED e tamanhos de 65 a 98 polegadas, ela pode custar mais caro que um sedã de luxo.
Mas será que vale a pena gastar entre R$ 23 mil e R$ 300 mil em uma TV 8K? Faz diferença, na prática, ter quatro vezes mais pixels que uma 4K? E esses recursos de inteligência artificial, funcionam mesmo? Eu assisti a dezenas de horas de conteúdos na TV 8K da Samsung por um mês e conto minhas impressões nos próximos minutos.
A Q900R é um blocão de pixels. Em vez de adotar um design que começa fino na parte superior e se torna mais espesso na base, a Samsung decidiu fazer uma carcaça totalmente plana. Por isso, a Q900R parece mais gordinha do que realmente é. Na prática, ela ocupa quase o mesmo espaço de uma TV 4K equivalente, só que é um pouco mais pesada, com 30 kg na versão de 65 polegadas, o que exigiu uma força extra na hora da instalação.
O acabamento é de ótima qualidade, com bordas chanfradas, pés de metal e uma textura discreta na traseira, que é bem peculiar: tem tanto espaço ali que a Samsung resolveu colocar um compartimento para você guardar a base. É claro que os pés estarão sendo usados em um televisor instalado sobre uma estante, mas pelo menos não ficam perdidos por aí para quem colocar a TV na parede.
Um dos bons recursos da Q900R é o One Connect, que elimina a bagunça dos cabos e centraliza todas as conexões em uma caixa externa com acabamento preto brilhante que é excelente para deixar a poeira bem visível. Um fio semitransparente vai da tela até o One Connect, onde você encontra a entrada de energia, quatro portas HDMI, três USB, saída de áudio óptica, Bluetooth, Wi-Fi, Ethernet e o coaxial para a antena de TV aberta.
O controle remoto tem um bonito acabamento prateado, mas faz o mesmo serviço do modelo que acompanha as TVs premium 4K da Samsung, com microfone para comandos de voz, tamanho compacto e infravermelho para controlar outros dispositivos, como o decodificador da TV por assinatura. Mesmo não tendo os gestos no ar do Smart Magic da LG, é bastante funcional e um dos melhores que existem no mercado.
Eu vou começar analisando a qualidade da imagem sem levar em conta a resolução. A Q900R é a TV mais sofisticada da Samsung em 2019 e é claro que eu tinha grandes expectativas com relação ao brilho, contraste, cores, ângulo de visão e outros fatores. E todas as expectativas foram bem atendidas.
O brilho da Q900R é um dos mais fortes que eu já vi. Mesmo em um ambiente muito iluminado, o painel consegue dar conta de mostrar uma imagem clara. Em filmes com HDR, a qualidade da tela fica bem nítida. Vale lembrar que o modelo que eu testei, de 65 polegadas, tem brilho menor: esta é uma TV com HDR3000, enquanto as versões maiores possuem HDR4000. Eu tenho minhas ressalvas com esse nomes de marketing, mas é bom destacar a diferença.
Mas o que me impressionou foi o ângulo de visão: mesmo olhando a TV a 45º, quase não dá para notar perda de cores ou brilho. Para um painel do tipo VA, a Samsung conseguiu fazer um trabalho excelente — o tal do Ultra Viewing Angle funciona mesmo. Apesar de não ser IPS, esse é um televisor que pode oferecer uma ótima experiência mesmo em salas de estar mais largas.
O nível de preto é muito bom e o contraste agrada, mas a tecnologia de escurecimento local (local dimming) é muito agressiva para o meu gosto, mesmo ajustando as configurações para um nível mais suave. A TV funciona bem em boa parte das cenas, mas deixa a tela muito escura em cenas de créditos, céu noturno com estrelas ou filmes espaciais. Eu até entendo a necessidade de mostrar um preto profundo para impressionar os críticos do LCD, mas a Samsung parece ter pesado a mão.
Em testes sintéticos, não notei nenhum defeito relevante na imagem. A uniformidade de preto é boa, o efeito de tela suja não é perceptível e os gradientes de cores mostraram uma boa gama. Para os gamers de plantão, o input lag em 4K no modo de jogo não passou de 17 milissegundos, o que torna a TV muito boa para jogos.
Assim que instalei a TV, perguntei no Instagram se as pessoas tinham alguma dúvida sobre a Q900R. De longe, as principais questões foram: tem conteúdo em 8K para assistir? Dá para ver diferença entre uma TV 4K e uma 8K? Se eu colocar um conteúdo 4K ou Full HD, fica ruim na TV 8K? A resposta tende ao “não” para todas as perguntas.
As empresas de mídia já começaram a produzir conteúdo em 8K, mas eles ainda não estão disponíveis de forma ampla, até pela falta de um bom meio de transmissão: não tem como passar 8K pelo sinal de TV aberta, nem pelos satélites de TV por assinatura em operação, e a maioria das conexões à internet não é boa o suficiente para sustentar 1 GB de streaming de vídeo a cada dois minutos. Por isso, a Samsung até me enviou um pen drive com vídeos de demonstração para experimentar conteúdo nativo em 8K.
Sim, talvez você encontre vídeos em 8K no YouTube. Mas eu notei que o aplicativo do YouTube mostra a interface em Full HD e reproduz o conteúdo em 4K, no máximo. Talvez esse limite seja removido em uma futura atualização de software, mas, tirando os vídeos de exemplo da Samsung, que são feitos para impressionar e mostrar todas as capacidades da TV, eu não consegui assistir a nenhum outro conteúdo nativo em 8K. Se você estiver consultando este review dez anos depois, em 2029, quando o 8K for algo mais normal, peço desculpas.
Além disso, a diferença de 4K para 8K é bem menos perceptível do que na transição do Full HD para o 4K. A principal vantagem de ter uma resolução maior é que você pode se aproximar mais da TV e ainda assim não ver nenhum pixel individual. Por isso, uma TV 8K de 65 polegadas ficou excelente mesmo estando a apenas dois metros de distância da tela — uma 4K ficaria apenas ”boa”, uma Full HD seria terrível.
Como você pode instalar uma TV maior em um espaço menor, a tendência é que as pessoas comprem TVs 8K de tamanhos grandes (até por isso, 65 polegadas é a menor opção da Q900R). Quem compra uma TV 4K de 65 polegadas hoje talvez fique mais contente com um modelo 8K de 82 polegadas daqui a alguns anos, na mesma sala de estar.
Ok, mas e toda a história de processador com inteligência artificial e aprendizagem de máquina, que melhora os conteúdos com resoluções menores? Ele funciona sim, mas não é uma mudança da água para o vinho. Primeiro porque a fonte precisa ter um mínimo de qualidade: não adianta passar Chaves e achar que a TV vai mostrar o chapéu do Seu Madruga em alta definição. Segundo porque só dá mesmo para perceber a melhoria em cenas mais específicas.
Em conteúdos 4K com muito detalhamento, a Q900R faz um excelente trabalho no upscaling para 8K. Os textos são os que se beneficiam de forma mais perceptível com a tecnologia: eles ficam mais nítidos, sem bordas duras nem efeitos artificiais. Mas, no geral, eu só consegui notar diferença comparando uma TV 4K e uma 8K lado a lado.
De qualquer forma, é bom saber que os filmes e séries em 4K sempre são iguais ou melhores do que se estivessem passando em uma TV 4K nativa; não é como se você estivesse perdendo qualidade com o upscaling.
A base da Q900R deixa um vão bem espaçoso embaixo da TV. E isso tem um motivo bem óbvio: você vai querer instalar uma soundbar aqui. O som não é ruim, mas é bem mediano, do tipo que eu esperaria em uma TV do segmento intermediário, não um modelo premium de mais de R$ 20 mil com as últimas tecnologias do mercado. A própria Samsung já chegou a oferecer um áudio melhor em TVs QLED 4K de gerações passadas.
Na Q900R, com o recurso de som adaptativo ligado, os médios são claros e limpos, o que torna as vozes muito bem definidas, sem nenhum pico incômodo. Em compensação, a extensão dos graves é bem limitada: dá para ouvir as batidas, mas sem nenhum impacto. E o volume da TV também não é dos mais altos, por isso quem tem uma sala de estar maior deve se decepcionar.
Mas, como o vão na base e o preço de dezenas (ou centenas) de milhares de reais já sugerem, não tem como deixar uma TV com essa qualidade de imagem sem um sistema de som dedicado.
O sistema operacional da Q900R é o Tizen em sua versão completa. Todas as animações nos menus estão presentes, a navegação é bastante fluida e os aplicativos carregam rapidamente. Os ícones personalizados para a Apple TV, o Nintendo Switch e vários outros dispositivos estão aqui, mostrando um nível de cuidado que eu não vejo com tanta frequência em TVs.
Os serviços de streaming mais populares, como YouTube, Netflix e Amazon Prime Video, já vêm pré-instalados. Na loja de aplicativos, é possível encontrar Globoplay, Globosat Play, Tidal, Fox, Spotify e muito mais. Os programas são bem desenvolvidos e se integram com o menu inferior da TV, permitindo acessar um conteúdo específico antes mesmo de abrir o aplicativo.
Assim como as outras TVs de 2019 da Samsung, a Q900R já vem com suporte nativo ao AirPlay 2, o que é uma boa notícia para quem quer reproduzir conteúdo a partir de um iPhone, iPad ou Mac. E, como parte da parceria com a Apple, o aplicativo Apple TV vem pré-instalado, com filmes e séries para alugar e comprar. A partir de novembro de 2019, isso deve servir como um hub para o serviço de streaming Apple TV+.
Entre os recursos da própria Samsung, temos o SmartThings, que centraliza os dispositivos inteligentes da sua casa (como lâmpadas, lava e seca, geladeira e câmeras de segurança); e o Modo Ambiente, que funciona como uma alternativa à tela preta, mostrando imagens que combinam com a decoração do ambiente quando você não estiver assistindo nada. É bacana para nichos específicos — eu, particularmente, prefiro economizar energia.
É difícil encontrar um ponto negativo na Q900R. Em compensação, também é difícil encontrar um motivo racional para comprar a Q900R. É bem óbvio que esta não é uma TV para pessoas normais, como eu, você e todas aquelas que entram em uma loja e perguntam o preço das coisas. É uma TV para early adopters — que sabem que estão pagando caro, que sabem que as próximas gerações serão muito mais maduras, mas que querem ter a última tecnologia antes de todo mundo.
Para essas pessoas, o que posso dizer é que a Q900R é a melhor TV que eu testei até agora. Mas não exatamente por causa da resolução, e sim porque a Samsung caprichou na qualidade do painel e no processamento de imagem — só o local dimming não é o melhor que eu já vi, mas o pacote completo é bem interessante. Ou seja, se a Q900R fosse uma TV 4K, o veredito seria muito positivo.
Mas, por ser uma TV 8K, eu sinto que estou pagando muito mais caro por algo que não faz tanta diferença na prática. A Q900R de 65 polegadas sai por R$ 23 mil, enquanto o modelo imediatamente inferior dentro da Samsung, a Q80R 4K, custa R$ 13 mil no mesmo tamanho. Nas 75 polegadas, a diferença é menor, mas ainda é significativa: R$ 23 mil na Q80R, R$ 33 mil na Q900R. Nem vou comentar os R$ 299.999 da Q900R de 98 polegadas; estamos falando de coisas mais factíveis.
Existe futuro para o 8K? Provavelmente sim, mas no segmento high-end. A maioria das pessoas deve continuar comprando 4K por muitos anos.
Tem conteúdo em 8K para ver? Ainda não, mas alguém tem que dar o primeiro passo.
Vale a pena comprar uma 8K? Hoje, racionalmente, não. É melhor gastar bem menos dinheiro comprando uma excelente TV 4K.
E se tiver dinheiro infinito? Nesse caso, é difícil se arrepender.
Leia | O que é a resolução de uma imagem digital?