O outro lado da trapaça: 4 tipos de cheaters que podem beneficiar produtoras

Divididos entre caça-níqueis, egocêntricos, sedentos por vencer e colecionistas, os trapaceiros são problemáticos, mas também podem ser benéficos para as produtoras de jogos

Murilo Tunholi
• Atualizado há 1 ano e 4 meses
Conheça os quatro tipos de trapaceiros em jogos online (Imagem: Guilherme Reis/Tecnoblog)

Não há como negar que trapaceiros em videogames são problemáticos. Além de estragar a diversão de outras pessoas, eles podem colocar em risco dados sensíveis de usuários, pois conseguem acessar as APIs dos jogos. Entretanto, alguns profissionais da indústria de games acreditam que os cheaters têm certa utilidade e podem até mesmo trazer benefícios para as produtoras.

Banir trapaceiros nunca foi e nunca será a melhor solução para resolver o problema. Não adianta remover um cheater do jogo, se logo em seguida ele pode simplesmente criar outra conta de graça e retornar às atividades. Por isso, é importante saber a origem e as motivações desses usuários para tomar as melhores medidas possíveis.

Pensando nisso, durante a Game Developers Conference (GDC) de 2022, Clint Sereday e Nemanja Mulasmajic — ambos ex-funcionários da Riot Games e cofundadores da empresa de segurança para jogos Byfron Technologies — listaram os quatro tipos de trapaceiros em games: os caça-níqueis, os egocêntricos, os sedentos por vencer e os colecionistas.

Na apresentação — compartilhada pelo ArsTechnica —, eles explicaram como cada um dos cheaters age, quais são suas motivações e como as desenvolvedoras podem se beneficiar das ações desses usuários. Os detalhes sobre cada tipo de trapaceiro você confere nas linhas a seguir:

Os trapaceiros caça-níqueis

Dinheiro em GTA (Imagem: Divulgação/Rockstar)
Dinheiro em GTA (Imagem: Divulgação/Rockstar)

A principal motivação dos trapaceiros caça-níqueis é dinheiro. Eles são os responsáveis por criar e vender as ferramentas que permitem alterar os códigos dos jogos — os cheats. Por se importarem mais com o lucro do que com suas contas, essas pessoas não se importam de serem banidas dezenas de vezes.

Inclusive, por pensarem apenas na prosperidade de seus negócios, os trapaceiros caça-níqueis não costumam se abalar com punições de qualquer categoria, seja temporária ou permanente. Enquanto estiverem recebendo dinheiro, eles vão continuar desenvolvendo cheats e hacks de todos os tipos.

Nesse caso, a melhor forma de afastá-los é por meio de proteções antitrapaça mais eficazes, como o escudo Vanguard, de Valorant. O software, aliado ao chip TPM 2.0 exigido pelo Windows 11, permite banir o hardware dos jogadores punidos em vez de suas contas. Assim, o trapaceiro precisa comprar novas peças, se quiser voltar ao game.

Outra opção é recorrer à Justiça. A Activision, por exemplo, começou a processar as empresas que vendem cheats para Call of Duty para minimizar o problema. Não se sabe o resultado disso, mas pode ser eficaz pelo simples fato de gerar despesas monetárias com processos judiciais e compra de peças para os desenvolvedores de trapaças.

Os trapaceiros egocêntricos

User Vision Pro em Call of Duty: Warzone (Imagem: Reprodução/Twitter @AntiCheatPD)
User Vision Pro em Call of Duty: Warzone (Imagem: Reprodução/Twitter @AntiCheatPD)

Os trapaceiros egocêntricos gostam de se sentir superiores e mais inteligentes que as desenvolvedoras. Seu maior prazer é passar dias tentando burlar as proteções antitrapaça só para mostrar a uma pequena — porém fiel — comunidade de seguidores que nenhuma barreira é impenetrável perante seu conhecimento magnânimo.

Esses cheaters são responsáveis por acender a chama da trapaça dentro de outras pessoas, pois costumam se gabar em redes sociais sobre como pode ser fácil criar um aimbot para Call of Duty, por exemplo. Por outro lado, trapaceiros assim podem ser bastante úteis para as desenvolvedoras, já que eles estudam e entendem a engenharia dos jogos.

Não há uma forma definitiva de lidar com os trapaceiros egocêntricos, sem proteções a nível de hardware. Porém, dá para tentar convertê-los para o outro lado da força. Às vezes, essas pessoas podem ser até contratadas pelas produtoras como “consultores independentes”, sendo pagas para explicar como fizeram a engenharia reversa dos códigos.

Na maioria dos casos, os trapaceiros negam as ofertas ou voltam a usar cheats meses depois. Segundo Sereday e Mulasmajic, esses cheaters têm ego inflado e são movidos pelo vício em burlar o sistema. Por isso, há pouquíssimos exemplos de “convertidos” que continuam ajudando as produtoras até hoje.

Os trapaceiros sedentos por vencer

Fortnite terá explosões mais detalhadas na Temporada 7 (Imagem: Divulgação/Epic Games)
Fortnite (Imagem: Divulgação/Epic Games)

O tipo mais comum de trapaceiro é o sedento por vencer: aquele que usa cheats para ficar no topo do ranking. Esses usuários utilizam os programas que garantem vantagens indevidas para ver adversários através das paredes, mirar na cabeça de maneira automática, ficar invencível, entre outras possibilidades.

Para Sereday e Mulasmajic, os trapaceiros sedentos por vencer surgem da desconfiança na produtora. Por serem bastante competitivas, essas pessoas tendem a ficar frustrados após perderem várias partidas contra cheaters. Com o tempo, elas começam a acreditar que o jogo nunca vai melhorar e buscam vingança no melhor estilo “olho por olho, dente por dente”.

Apesar de problemático, esse grupo é um dos mais fáceis de ser disciplinado. Normalmente, os trapaceiros sedentos por vencer só recorrem aos cheats porque veem vários outros usuários saindo impunes das partidas após usarem softwares ilegais. Essa percepção, porém, tende a mudar assim que uma punição menor é aplicada, como uma suspensão temporária.

A melhor forma de lidar com trapaceiros dessa categoria é mantendo a clareza nos termos de uso dos jogos e aplicando as punições sempre que possível. Nesse caso, a solução é mostrar à comunidade que trapacear nunca é a melhor opção.

Os trapaceiros colecionistas

A versão original da skin Pax Sivir é um dos visuais mais raros de League of Legends (Imagem: Divulgação/Riot Games)
A versão original da skin Pax Sivir é um dos visuais mais raros de League of Legends (Imagem: Divulgação/Riot Games)

Na base da escala de periculosidade estão os trapaceiros colecionistas — os quais também costumam ser criadores de conteúdo para a internet. Apesar de ainda usar cheats e violar as regras dos jogos, esse grupo tem como principal objetivo coletar rapidamente todos os itens possíveis nos games, inclusive os mais raros.

Em League of Legends, por exemplo, há pessoas que modificam o código do jogo para desbloquear skins exclusivas oferecidas somente em eventos presenciais anos atrás. Muitas vezes, os usuários se aproveitam disso para gravar vídeos sobre aquele visual específico. Devido à raridade da skin, é provável que o conteúdo chame muita atenção.

Assim como os trapaceiros sedentos por vencer, os colecionistas também podem ser disciplinados com pequenas punições, segundo os fundadores da Byfron Technologies. Além de terem itens desbloqueados com cheats, esses jogadores costumam adquirir outras coisas com dinheiro real — e ninguém quer perder a conta com todo o dinheiro gasto nela, certo?

Além disso, dá para lidar com o grupo não só parando de oferecer itens exclusivos, como também tornando as recompensas mais acessíveis para todos os jogadores. Entendo que é necessário lucrar para manter o jogo funcionando, mas o medo de ficar de fora (o famoso fear of missing out, ou FOMO) é uma das motivações dos trapaceiros colecionistas.

Para você, leitor, como as produtoras devem lidar com trapaceiros? Há algum tipo de cheater que os fundadores da Byfron Technologies esqueceram de mencionar? Compartilha suas opiniões com a gente na Comunidade do Tecnoblog!

Relacionados

Escrito por

Murilo Tunholi

Murilo Tunholi

Ex-autor

Jornalista, atua como repórter de videogames e tecnologia desde 2018. Tem experiência em analisar jogos e hardware, assim como em cobrir eventos e torneios de esports. Passou pela Editora Globo (TechTudo), Mosaico (Buscapé/Zoom) e no Tecnoblog, foi autor entre 2021 e 2022. É apaixonado por gastronomia, informática, música e Pokémon. Já cursou Química, mas pendurou o jaleco para realizar o sonho de trabalhar com games.