Apesar das prometidas vantagens, está difícil encontrar smartphones com USB-C, não? Mas, no que depender de alguns gigantes da indústria, esse tipo de porta não tardará muito para ser padrão nos dispositivos móveis e em outros aparelhos. A Intel está nesse time. A companhia acredita até que o USB-C deverá substituir os conectores de 3,5 mm (também conhecidos no Brasil como P2 ou, se houver contato para microfone, P3) que usamos para ligar fones de ouvido.
O USB-C é reversível (o conector não tem lado certo ou errado), compacto (cabe até mesmo nos celulares mais finos) e, quando usado com o padrão USB 3.1, pode oferecer até 10 gigabits por segundo na transferência de dados, além de suportar até 100 watts para alimentação elétrica.
Com tantas vantagens, o USB-C parece ser o tipo de conexão ideal para smartphones, tablets e afins. Mas, até agora, o movimento em prol do padrão em dispositivos móveis tem sido fraco. O LG G5 é uma exceção, pois já inclui o conector. Havia expectativas de que aparelhos como Galaxy S7 e a nova linha Xperia X também tivessem porta USB-C, mas não é o caso.
É provável que a principal razão (mas não a única) para a demora da adoção do USB-C, mesmo em aparelhos topo de linha, seja a percepção de falta de viabilidade: os custos de implementação ainda parecem ser mais elevados do que o esperado. Além disso, os usuários teriam que se adaptar à ideia de usar novos cabos e, eventualmente, adaptadores.
Mas, para a Intel, essas limitações são temporárias. O USB-C tem mesmo um futuro promissor, na visão da empresa. A proposta de usar o padrão no lugar dos tradicionais conectores P2 é sinal disso. A ideia foi apresentada recentemente em um evento para desenvolvedores realizado na China.
Qual a necessidade disso?
Se os conectores P2 ou P3 funcionam bem e são amplamente usados, por que abandoná-los? A Intel acredita que, com o USB-C, poderemos tirar mais proveito de fones que oferecem qualidade de áudio superior. Como esse tipo de porta também fornece energia elétrica, seria possível até usar fones que incorporam sistemas de equalização ou cancelamento de ruído, por exemplo, sem que esses dispositivos necessitem de bateria integrada.
Tem mais: sensores para diversas finalidades (um sensor término para aplicações de saúde, por exemplo) poderiam ser instalados nos fones de ouvido e enviar dados em tempo real para o smartphone ou PC a partir da própria conexão USB.
Outro benefício apontado é o melhor aproveitamento do espaço interno dos aparelhos. Dispositivos como o Pressy permitem que você adicione funções às conexões de 3,5 mm dos smartphones, mas a maioria esmagadora dos usuários só as utiliza para um único fim: conectar fones de ouvido. A retirada do P2 poderia então liberar espaço para determinados tipos de chips ou mesmo para a bateria, o que ajudaria a deixar os smartphones mais finos (apesar de nós, como consumidores, não estarmos preocupados com isso).
Não por menos, a Intel está trabalhando em uma tecnologia chamada USB Type-C Digital Audio cujas especificações deverão ser finalizadas no segundo semestre deste ano. Com ela, será mais fácil gerenciar o consumo de energia de dispositivos de áudio baseados em USB-C, configurá-los e permitir a comunicação deles com outros aparelhos.
Até certo ponto, a conexão de 3,5 mm foi aperfeiçoada Esse tipo de conector é utilizado há décadas e, ao longo dos anos, ganhou contatos para microfones e até para recursos programáveis (é isso que permite que o Pressy seja usado). O problema é que, no que diz respeito ao áudio, as transmissões continuam sendo completamente analógicas.
Para muita gente isso não é problema. Mas a indústria acredita que transmissões digitais podem melhorar a experiência do usuário. De todo modo, a Intel ressalta que o USB-C também pode transmitir áudio de modo analógico.
É claro que uma mudança como essa não é isenta de inconveniências. Para começar, você terá que comprar novos fones de ouvido se quiser ouvir música no smartphone. Caso prefira usar fones antigos, você terá que recorrer a adaptadores. Os fabricantes até podem oferecê-los como brinde, mesmo assim, trata-se de um acessório a mais para carregar.
Imagino que este não seja um hábito muito frequente, mas tem gente que escuta música ou realiza outra tarefa com áudio enquanto recarrega o smartphone. Eu mesmo já fiz isso enquanto recarregava o aparelho em uma viagem de ônibus. Em situações como essa, você não poderá usar fones se o dispositivo não tiver conector de 3,5 mm.
Aos pouquinhos
Ao menos por enquanto, tudo não passa de uma proposta que ainda precisa ser lapidada. Não há informações sobre o início dessa transição, tampouco sabe-se como esse processo será conduzido — é cada fabricante por si ou a indústria toda atuará junta?
O que se sabe é que, diante dos inconvenientes mencionados, a ideia é fazer a porta USB-C tomar o espaço dos conectores de 3,5 mm aos poucos, assim como foi feito na migração do conector de vídeo VGA para o DVI e, posteriormente, para o HDMI.
Também é cedo para afirmar que essa mudança vai mesmo acontecer, mas saiba que as chances não são pequenas: além da Intel, a Huawei já pensa em substituir o P2 pelo USB-C; já a LeEco, marca chinesa que fabrica de bicicletas a dispositivos móveis, anunciou recentemente três smartphones com essa proposta.
Segundo alguns rumores, a Apple também está nessa, só que ali a ideia é um pouco diferente: substituir o conector de 3,5 mm pela porta Lightning.
Pode ter certeza de que o caminho não será fácil. Já houve tentativas de substituir o conector de áudio tradicional, mas nenhuma deu certo. A própria Intel chegou a fazer isso: as primeiras gerações dos PCs compactos NUC não tinham esse tipo de conector. A companhia teve que mudar de ideia nos modelos sucessores.
A razão para tamanha resistência é um tanto óbvia: todo mundo está acostumado com o P2 / P3. Os argumentos da Intel (e de outras companhias) em defesa da mudança não deixam de ser válidos, mas o conector de 3,5 mmatende às necessidades da ampla maioria dos usuários, portanto, muita gente não vê razões para trocá-lo por outra tecnologia.
Fora que a preocupação com os custos não é exagero: cabos e conectores USB-C são mais complexos, logo, a gente pode mesmo esperar fones baseados na tecnologia mais caros que os bons e velhos fones de 3,5 mm.