Review Quantum Fly: mandando bem no custo-benefício
Modelo é um deca-core com tela de 5,2 polegadas, 3 GB de RAM e leitor de digitais que sai por 1.299 reais
Modelo é um deca-core com tela de 5,2 polegadas, 3 GB de RAM e leitor de digitais que sai por 1.299 reais
Os preços aumentaram e, para boa parte dos brasileiros, a grana diminuiu. Nessas circunstâncias, trocar de smartphone é uma aventura: está difícil achar modelos que acertam no custo-benefício. Difícil, mas não impossível. O recém-chegado Quantum Fly promete um conjunto considerável de recursos por R$ 1.299 (ou, se você parcelar no cartão, R$ 1.499).
É natural o desconfiômetro ficar ligado. Esse é um preço muito atraente para um smartphone que se situa entre um intermediário e um topo de linha. Além disso, o chamariz do Quantum Fly é um processador que tem dez núcleos, mas é pouco conhecido: o MediaTek Helio X20.
Aí fica a dúvida: será que o aparelho tem mesmo poder de fogo ou é um exemplo de barato que sai caro? Eu usei o Quantum Fly como meu smartphone principal durante alguns dias para descobrir. Dou os detalhes nas próximas linhas.
Quando peguei o Quantum Fly pela primeira vez, tive uma leve sensação de “déjà vu”, rapidamente justificada: o aparelho lembra um iPhone 6 ou 6s. Mas tudo bem. O modelo não deixa de ser bonito por causa disso. A espessura de 7,5 mm contribui para deixá-lo com algum ar de sofisticação.
O que me deixou um tanto desconcertado foi a traseira (não removível): feita de alumínio fosco (mas com faixas plásticas nas duas extremidades), ela repele marcas de dedo, só que é lisa de um jeito que smartphones que preferem o suicídio a conviver comigo apreciam. Felizmente, as bordas (com acabamento metálico) têm uma curvatura que facilita a pegada, deixando o dispositivo bem firme nas mãos. O peso de 140 gramas também ajuda: você não fica com a sensação de que o dispositivo vai pular dos seus dedos a qualquer momento.
Na lateral direita ficam os botões de volume e liga / desliga. Notei que, algumas vezes, o Quantum Fly fazia um barulhinho (um “tic”) quando eu o pegava. Logo descobri que a causa está nesses botões. Eles balançam um pouco, mas não o suficiente para incomodar.
A gaveta dos cartões SIM e do microSD ficam no lado esquerdo. O Quantum Fly é dual SIM (4G em ambos), mas de uma forma peculiar: o primeiro slot é nano-SIM; o segundo, micro-SIM. A Quantum explica que essa abordagem foi necessária para permitir que o microSD (você pode usar um de até 128 GB) seja encaixado no slot 1. Se o cartão for colocado ali, você só conseguirá usar um SIM card no slot 2, porém. A vida é feita de escolhas, não é mesmo?
No evento de lançamento, os fundadores da Quantum disseram que escolheram uma tela de 5,2 polegadas para o Quantum Fly depois de uma pesquisa com consumidores. Eles constataram que esse não é um tamanho grande, nem pequeno demais para os padrões atuais.
De fato, 5,2 polegadas é um tamanho bem interessante. Não precisei fazer malabarismo com os dedos para alcançar os extremos da tela ao usar o smartphone apenas com uma mão (isso é bem comum para mim quando pego transporte público). Pena que esse fator não diminuiu o tamanho do Quantum Fly: além de bordas grandes, a tela tem um espaço considerável na parte inferior.
Em termos de qualidade de imagem, o Quantum Fly não faz feio. O painel, do tipo IPS LCD, tem resolução de 1920×1080 pixels e densidade de 423 ppi. A intensidade de preto está dentro da média e deu para perceber que o branco pende ligeiramente para o amarelo. Mas a definição é boa, assim como os níveis de brilho e contraste. Dá para visualizar o conteúdo da tela a partir de ângulos variados sem dificuldades.
Essa não é a melhor tela que você encontrará em um smartphone, mas é inquestionável o salto de qualidade que temos aqui em relação ao display do Quantum Go.
Eu tenho pavor de customizações exageradas e bloatware. Felizmente, a Quantum também: o Fly sai de fábrica com o Android 6.0 Marshmallow quase puro. Há mudanças em um detalhe ou outro, como nos ícones de alguns apps básicos (como calculadora, mensagens e câmeras), mas não há efeitos de transição mirabolantes, trial de antivírus, demos de jogos ou interfaces que mudam tudo de lugar.
Ali a gente encontra os principais apps do Google e alguns poucos aplicativos da própria Quantum, como a ferramenta Backup e Restauração (exige um microSD para funcionar), o Gerenciador de Arquivos (simples, mas funcional), o DashCam (transforma o smartphone em uma câmera automotiva, gravando sempre os 20 últimos minutos do trajeto) e o Quantum+ (dá acesso à comunidade online da Quantum).
Como se vê, é o essencial com adendos, sem frescuras, ainda que eu tenha minhas dúvidas sobre a relevância da função de câmera automotiva. O resultado de tudo isso é que, dos 32 GB de memória interna do Quantum Fly, 25,5 GB estão livres para o usuário.
Ah, a Quantum não deu estimativa de data, mas uma atualização para o Android 7.0 Nougat está nos planos.
Definitivamente, a câmera não é um fator que pesa na decisão de compra do Quantum Fly. O componente tem sensor de 16 megapixels, lente com abertura f/2,0 e flash LED dual tone, um truque para evitar que você saia na foto com cara de fantasma devido ao excesso de luz branca. Na teoria, é um conjunto de recursos interessante. Na prática, os resultados dão uma sensação de que a câmera poderia ter recebido mais cuidados.
Você vai conseguir fazer fotos boas, mas não ótimas. É possível perceber perda de definição em alguns pontos das imagens e, em ambientes bem iluminados, pode haver um incômodo excesso de branco se você ativar o HDR. Dependendo do ambiente, o modo normal traz imagens mais atraentes. De toda forma, você também pode configurar os parâmetros de exposição, balanço de branco e ISO ou, ainda, escolher um modo de cena (noite, praia, teatro, etc.). O app de câmera dá acesso a esses recursos.
Caso você fuce as configurações da câmera, vai encontrar uma opção de resolução chamada simplesmente de Quantum. Esse recurso existe desde o Quantum Go e, basicamente, faz um processamento adicional para deixar a imagem com resolução de 24 megapixels e mais qualidade. Você pode utilizar essa função para tentar resultados um pouco melhores, mas nem sempre você notará diferença significativa.
Outro detalhe que me incomodou é que, em alguns momentos, a câmera traseira demorou preciosos segundos para definir o foco, mesmo havendo boa iluminação. Como o problema foi ocasional, suspeito que algum ajuste de software possa resolver.
Com 8 megapixels, abertura f/2,2, lente com ângulo de 80 graus e flash LED, a câmera frontal não me agradou logo de cara, mas os resultados ficaram mais interessantes depois que a testei com calma.
Sim, você poderá notar perda de definição e, em ambientes claros, algum excesso de luz, mas o pós-processamento não é exagerado e a taxa de ruído está dentro da média quando há menos iluminação. À noite, o LED funciona bem, não fazendo a luz estourar na sua cara.
Observação: a versão anterior deste texto dizia que as fotos ficaram melhores nos testes com o modo HDR ativado. É o contrário. O modo sem HDR apresentou os resultados mais interessantes que aparecem no review.
Processador MediaTek deca-core Helio X20, 3 GB de RAM e 32 GB para armazenamento interno de dados. O conjunto é muito bom, mas o que chama atenção é o processador: como é esse negócio de dez núcleos?
Nesse ponto, a gente precisa entender que a quantidade de núcleos não é, necessariamente, preponderante para o desempenho. A MediaTek adotou uma estratégia chamada Tri-Cluster que lembra o big.LITTLE. Mas, em vez de dois grupos de núcleos — um para economia de energia, outro para alto desempenho —, temos três.
O primeiro grupo é composto por quatro núcleos A53 de 1,4 GHz. O segundo, por quatro A53 de 1,9 GHz. O terceiro grupo tem dois núcleos A72 de 2,1 GHz. A ideia aqui é poupar energia. O primeiro grupo consome menos e é mais fraco, mas dá conta de tarefas simples. O segundo é voltado a tarefas que exigem um pouco mais de processamento em troca de um consumo mais alto, mas não muito. O terceiro é para processamento pesado.
Funciona bem? Funciona. Mas isso não quer dizer que três grupos de núcleos trabalham melhor que dois conjuntos. É apenas uma abordagem diferente. O importante é que, nos testes, o hardware do Quantum Fly deu conta de todas as tarefas, inclusive as mais pesadas.
Não houve demora para abrir aplicativos, engasgos em apps de redes sociais e browsers, aplicativos que fecham do nada ou problemas na multitarefa. A GPU é uma Mali-T880MP4 de 780 MHz. Não é a mais rápida, mas encarou jogos como Asphalt 8: Airborne e Unkilled com configurações gráficas altas sem pestanejar.
Para não dizer que não houve problemas, em Unkilled tive queda de frames em algumas cenas movimentadas, mas discretas, nada que me fizesse sofrer nas mãos dos zumbis. A única coisa que me perturbou é que, quando está a todo vapor, o Quantum Fly esquenta bastante.
Com 3.000 mAh, a bateria também se saiu bem. Dediquei um dia para rodar as seguintes aplicações: filme O Poderoso Chefão (2h57min) via Netflix com tela no brilho máximo, 30 minutos de Unkilled, uma hora de web e redes sociais, meia hora de streaming de áudio via 4G, cinco minutos de ligação e, por fim, 40 minutos de Pokémon Go. Depois de tudo isso, a carga da bateria caiu de 100% para 36%. Na sequência, deixei o aparelho em stand-by por uma hora. A carga foi para 34%.
Fiquei satisfeito com os resultados, ainda mais levando em conta que Pokémon Go capricha no consumo. Só é uma pena o Quantum Fly não ter carga rápida. De todo modo, na recarga, gastei 1h43min para fazer a bateria pular de 12% para 100%. Muito bom, né?
Para quem está preocupado, sim, Pokémon Go rodou numa boa, com AR mode e tudo. O jogo não travou, não fechou sozinho, nem apresentou mensagens de erros. Sei de gente que teve problemas de precisão com o GPS do Quantum Go. No Fly, porém, o GPS funcionou direitinho.
Um item bem-vindo no Quantum Fly é o leitor de impressões digitais. Ainda bem que esse recurso está se popularizando. Quebra um galhão! No Fly, o sensor fica na traseira. Tem gente que prefere o sensor na frente, outros, na lateral. Acho que nunca vai haver consenso, por isso, não vou entrar no mérito da questão.
O importante é que o leitor cumpre bem o seu papel. Você pode cadastrar até cinco digitais. A leitura é rápida e você consegue desbloquear o aparelho simplesmente posicionando o dedo ali, sem ter que apertar o botão liga / desliga antes — a única ressalva é que, sem pressionar o botão, a tela pode demorar um pouco para ligar.
Na parte inferior do smartphone, à direita da porta USB, está a saída externa de áudio. Ela é bem básica, viu? No volume máximo, o som chega a ficar estridente. Para ser feliz com o áudio, siga a velha recomendação de usar fones de ouvido (dos bons, de preferência). Com eles o som fica muito bom.
Para lançar o Go dentro de uma faixa de preços atraente, a Quantum teve que economizar em componentes como bateria e câmera. O mesmo princípio foi seguido no Quantum Fly: a câmera não empolga e a tela, embora tenha evoluído muito, não figura entre os itens que mais se destacam no modelo.
Mas esses são detalhes. No conjunto da obra, o Quantum Fly manda bem. O desempenho agrada bastante, a bateria é decente, os 32 GB de memória interna estão dentro do que eu considero o mínimo ideal para os padrões de hoje e o leitor de digitais é uma característica muito bem-vinda. Senti falta do NFC, mas se é para cortar um componente e manter o preço, que seja um que não é muito usado.
Considerando a faixa de preço, eu diria que o Moto G4 Plus é, hoje, o rival mais próximo do Quantum Fly. Dizer qual é o melhor é difícil porque isso depende dos anseios de cada um. No meu caso, câmera é um critério extremamente importante, o que me faria escolher o modelo da Motorola. Mas, se eu estivesse mais preocupado com desempenho, apostaria no Quantum Fly sem pensar duas vezes.
Com a onda de smartphones caríssimos que surgiram no Brasil nos últimos meses, o desconfiômetro vai lá para o alto quando algo tão focado no custo-benefício aparece. Mas a gente pode, sim, dar um voto de confiança. O Fly reflete um esforço real da Quantum para conquistar espaço entre marcas tradicionais. O resultado disso é um aparelho que, embora tenha fraquezas, é notável para a sua faixa de preço.
Atualizado em 16/09/2016