Edital da Anatel para leilão do 5G não restringe Huawei
Área técnica da Anatel finaliza proposta do edital do 5G e não leva em conta projeto "Rede Limpa" dos Estados Unidos
Área técnica da Anatel finaliza proposta do edital do 5G e não leva em conta projeto "Rede Limpa" dos Estados Unidos
Se depender da área técnica da Anatel, os equipamentos da Huawei não devem ser banidos no Brasil. A proposta do leilão de 5G encaminhada para a diretoria da agência não coloca restrições à fornecedora chinesa e especifica metas de cobertura e mitigação da interferência causada em acessos de satélite.
As informações do edital do 5G foram obtidas pela Folha, que afirma a inexistência de restrições à Huawei ou qualquer outra empresa na minuta. O veículo afirma que a Anatel está ciente de que um possível banimento da fornecedora chinesa atrasaria o cronograma previsto no edital, uma vez que as teles teriam que substituir equipamentos existentes de 3G e 4G para que consigam implementar a quinta geração.
A minuta foi encaminhada para o relator do processo, Carlos Baigorri. O texto ainda precisa ser julgado pela diretoria da agência e pode sofrer alterações. Se não atrasar (novamente), o leilão do 5G deve acontecer no final do 1° semestre de 2020.
Um edital sem o banimento pode desagradar figuras da equipe do presidente Jair Bolsonaro: alguns membros, como Carlos Bolsonaro e o general Augusto Heleno já se manifestaram publicamente a favor do projeto “Rede Limpa”, que acusa (sem provas) a Huawei e o governo chinês de espionagem.
50% das torres instaladas no Brasil utilizam soluções da Huawei, segundo um levantamento das operadoras de telefonia móvel divulgado pelo Telesíntese. O site também aponta que o governo prepara uma minuta de decreto para banir o uso de equipamentos da fornecedora com base na norma 4, que define requisitos mínimos de segurança cibernética para redes 5G.
Um dos pontos citados na minuta é o compromisso de cobertura, com datas prevendo a instalação do 5G em municípios e localidades desde a assinatura do termo de autorização de uso das frequências até 2028.
A minuta do edital prevê que quanto mais frequências uma operadora arrematar, maior será a obrigação de atendimento com 4G. Um destaque é a exigência para cobertura em estradas selecionadas pela Anatel, e 100% dessas vias terão que contar com o serviço móvel até 2028.
Além disso, o edital não definiu uma solução para outro impasse: as interferências no 5G causadas pela TV aberta via satélite (TVRO) na frequência de 3,5 GHz. O texto prevê a possibilidade tanto da mitigação como a migração dos satélites para a banda Ku.
A mitigação é a solução favorita das operadoras de telefonia móvel, com uso de um filtro de interferência nas antenas parabólicas. Isso traria um custo estimado de R$ 1,5 bilhão para as teles que comprarem capacidade na frequência de 3,5 GHz. Essas empresas teriam que distribuir os equipamentos para inscritos no CadÚnico ou outros programas sociais do governo.
Já a migração para a banda Ku é a alternativa mais cara, que envolve mudança na posição dos satélites e uso de novos receptores e antenas parabólicas. As operadoras de telefonia calculam custo de R$ 7,7 bilhões com essa solução.
Um ponto relevante é que o edital da Anatel exige indenização apenas para empresas de satélites que estão instaladas no Brasil, que no caso seriam Claro/Embratel, Hispamar e SES. A justificativa da agência é que essas empresas investiram no país com obrigações de cobertura, enquanto companhias estrangeiras só têm autorização de funcionamento porque os equipamentos já cobriam o território brasileiro.