Se você vive dentro de uma caverna, provavelmente não sabe que os egípcios estão nesse exato momento lutando pela sua liberdade contra um ditador que está há 30 anos no poder. Sim, isso é um resumo bem porco, mas não quero transformar os comentários desse post em um debate político. O que importa é que, para tentar evitar que as manifestações e outros tipos de rebelião sejam divulgados na web e no resto do mundo, o governo do Egito decidiu cortar quase que completamente o acesso à internet do país. E isso é assustador.
O que o governo egípcio fez foi desativar mais de 3,5 mil rotas BGP, que ligavam os backbones de dez grandes provedores do país ao resto do mundo. O BGP, ou Border Gateway Protocol, é um dos principais protocolos da internet. É ele que faz a ligação entre os backbones, os principais servidores da rede mundial de computadores. Por estarem espalhados em diversos países, esses backbones precisam estar em constante comunicação para saber qual a melhor rota para um determinado pacote.
Sem as rotas BGP, os provedores de internet locais não sabem para onde mandar os navegadores que pedem por endereços como o google.com ou twitter.com, pois as rotas que levavam para os servidores desses endereços estão inacessíveis. O contrário também é verdadeiro: qualquer pessoa fora do Egito que tentar acessar um servidor localizado no país vai dar de cara com uma página de erro (como na página oficial do governo egípcio; pode tentar acessar, mas não vai abrir). É como se na internet o Egito tivesse deixado de existir.
Ou quase. De acordo com a empresa de rede Renesys, único grande provedor que continua com suas rotas BGP inalteradas é o Noor Data Group, que se conecta à rede por meio de um cabo de fibra óptica submarino pertencente à Telecom Italia (a dona da TIM aqui no Brasil). Mas essa pode ter sido uma estratégia do próprio governo, já que eles sabem que esse provedor é usado pela bolsa de valores local e por isso não pode sair do ar.
Reflita sobre essa confusão toda por um momento. Um governo tirou o acesso à internet de pouco mais de 79 milhões de pessoas, além de impedir outros milhões que estão fora do país de manterem contato com seus parentes e amigos lá dentro. Se o fato de um governo conseguir retirar o acesso a um meio de comunicação tão usado quanto a internet não é nem um pouco assustador para você, talvez seja melhor voltar para a caverna.
Com informações: Telegraph, Renesys.