Os carros futuristas da CES 2020 (e uma voltinha em um táxi autônomo)
Sony Vision-S elétrico, Hyundai S-A1 que voa e um Lyft que dirige sozinho nas ruas em Las Vegas são destaques automotivos da CES
Sony Vision-S elétrico, Hyundai S-A1 que voa e um Lyft que dirige sozinho nas ruas em Las Vegas são destaques automotivos da CES
Direto de Las Vegas — A CES é mais conhecida como uma feira de eletrônicos de consumo, mas vem explorando cada vez mais a interseção entre tecnologia e automóveis. Até o Salão de Detroit mudou de data para não competir com os lançamentos em Vegas e, neste ano, grandes empresas mostraram seus novos carros aqui mesmo. Inclusive marcas que não são nada tradicionais no setor, como a Sony.
Além do Sony Vision-S, um carro elétrico improvável, a CES foi palco de um Uber voador fabricado pela Hyundai e de carros autônomos que estão pegando passageiros na cidade por meio do aplicativo Lyft — eu tive a oportunidade de andar em um deles.
O Sony Vision-S foi o anúncio mais surpreendente da Sony na CES 2020 (até porque a outra revelação da empresa foi o totalmente previsível logotipo do PlayStation 5). Apesar de ser um conceito e de provavelmente não ser lançado comercialmente pela Sony, o veículo até que é interessante, em especial por causa das tecnologias embarcadas nele.
O carro da Sony atinge 240 km/h e vai de 0 a 100 km/h em 4,8 segundos, mas isso não importa. O que realmente interessa são os alto-falantes em cada banco que tornam o áudio mais imersivo; a tela panorâmica que envolve todo o painel para mostrar vídeos, mapas e outras informações; e os inúmeros sensores que fazem o carro ter algum nível de autonomia — ele pode acelerar, frear e fazer curvas sozinho, mas ainda precisa de um motorista humano para evitar problemas.
São 33 sensores de imagem espalhados em todo o carro que deixam mais claro o objetivo da Sony: vender peças e tecnologias para montadoras que já têm experiência no setor automotivo. Provavelmente nunca teremos uma concessionária da Sony, mas os carros de outras fabricantes podem (e devem) vir com um monte de sensores da marca japonesa. E a Sony sabe o quanto isso é importante por experiência própria: mesmo com vendas fraquíssimas de celulares, a divisão de sensores de câmeras da Sony nunca lucrou tanto como nos últimos trimestres.
Em uma coletiva de imprensa abarrotada de gente, a Hyundai anunciou uma parceria com a Uber para fabricar carros voadores de transporte de passageiros. O Hyundai S-A1 é um táxi voador em formato de eVTOL, sigla para veículo elétrico com decolagem e aterrisagem verticais. Ele carrega até quatro passageiros, atinge velocidade de 290 km/h e tem bateria para fazer viagens de até 100 km de uma vez só — sendo que uma recarga demora de cinco a sete minutos.
A propulsão do Hyundai S-A1 é elétrica e distribuída em diversos rotores e propulsores para garantir que nada dê errado caso um deles falhe. Isso também ajuda a diminuir o ruído e torna o veículo mais autônomo: ele será inicialmente pilotado por um humano, mas a Hyundai já desenvolveu o carro voador considerando que, no futuro, levará as pessoas para seus locais de destino sem interferência humana.
É claro que carros voadores não são nenhuma novidade de CES. Nem mesmo um Uber voador é algo inédito — a brasileira Embraer já demonstrou um conceito de eVTOL que deve ser usado nos primeiros testes do Uber Air. Mas o clima agora é de maior entusiasmo porque esta é a primeira parceria com uma empresa que tem “experiência em fabricar carros de passageiros em escala global”, nas palavras da Uber. E a Hyundai acredita que, em 2023, deve produzir o carro voador em “escala automotiva”. Não é pouca coisa.
Enquanto a Uber planeja carros voadores que andam sozinho pelos céus, a Lyft já colocou seus carros autônomos nas ruas de Las Vegas. E eu tive a oportunidade de andar em um deles em uma viagem rápida para um dos meus compromissos na CES 2020, entre o Mandalay Bay e o Caesars Palace (uma corrida de pouco menos de 4 km).
Nem todo mundo consegue chamar um carro autônomo da Lyft ainda, mas quem tem o recurso habilitado usa o próprio aplicativo para pedir uma corrida — ele aparece como uma modalidade no meio das opções já conhecidas, como carro econômico, de luxo ou compartilhado. Dentro do carro autônomo da Lyft, que é um BMW Série 5 modificado, os bancos da frente já vêm ocupados por um motorista (que fica atrás do volante para caso algo dê errado) e um engenheiro que explica o funcionamento do veículo.
Não tive autorização para filmar dentro do carro, mas posso descrever a experiência: foi meio frustrante e enfadonho. Isso porque quem é turista em Vegas só precisa se locomover pela avenida principal, apelidada de Strip, que é uma enorme reta com faixas bem largas. O Lyft operou de forma totalmente autônoma nesse trecho, mas o motorista humano sempre precisava dirigir o carro manualmente nas ruas dos enormes hotéis, o que tirava um pouco do brilho da demonstração. E convenhamos que dirigir sozinho em uma avenida como a Strip é algo que um Tesla faz com um pé nas costas há anos.
Ainda assim, uma experiência “enfadonha” pode ter sido até algo bom no final das contas — um painel dentro do carro mostrava com precisão tudo o que o carro podia enxergar, como o estado dos semáforos, as pessoas esperando na calçada para atravessar e as placas de limite de velocidade, deixando claro que o veículo está pronto para interagir com o mundo. E não houve freadas bruscas, mudanças de faixa inesperadas ou nada que tenha saído do controle.
Segundo o engenheiro que nos acompanhou, já existem cerca de 70 carros andando pelas ruas da cidade em modo autônomo. E a Lyft anunciou que, a partir desta semana, fará viagens de carro autônomo entre os hotéis da Strip e o aeroporto internacional de Las Vegas. Acho que já tenho um programa para amanhã.
Paulo Higa viajou para Las Vegas a convite da Consumer Technology Association (CTA).