Por onde anda: operadora de celular dos Correios

As operadoras por trás, as estratégias e os planos da futura MVNO dos Correios

Paulo Higa
• Atualizado há 1 ano e 8 meses

Entre idas e vindas, o plano dos Correios para se tornarem operadora de celular continua de pé, embora não pareça. As primeiras notícias da futura empresa de telefonia apareceram em 2013. Uma parceria com o Grupo Poste Italiane permitiu que os Correios começassem a atuar como operadora virtual ainda em 2014, o que não aconteceu. Por onde anda?

Qual será a operadora por trás dos Correios?

Atualmente, há uma licitação em andamento para escolher a empresa que proverá a infraestrutura. Como os Correios atuarão como MVNO (operadora móvel virtual), eles utilizarão uma rede existente para fornecer o serviço. Outras empresas já funcionam no modelo, como a Porto Seguro Conecta e a Vodafone Brasil, ambas operando na rede da TIM.

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A licitação foi suspensa em outubro pelo ministro das Comunicações, André Figueiredo, para que ele tomasse conhecimento do projeto — o político havia entrado na pasta naquele mês, substituindo Ricardo Berzoini. O processo foi retomado em janeiro, mas paralisado novamente em março porque uma das participantes, a Claro, avisou que entraria com recurso contra uma concorrente.

Pelas regras do edital, a operadora parceira dos Correios deve atender a pelo menos 50% dos municípios brasileiros como prestadora de Serviço Móvel Pessoal, o que inclui todas as quatro grandes empresas de telefonia móvel: Claro, Oi, TIM e Vivo. Na primeira tentativa de licitação, apenas Claro e Vivo demonstraram interesse em participar. Na última, a Vivo não se apresentou, e somente duas empresas entraram no projeto: Claro e EuTV.

A EuTV, que atua com a marca Surf Telecom, possui uma faixa de 2,5 GHz na região metropolitana de São Paulo adquirida em leilão da Anatel. Obviamente, isso não é suficiente para atingir 50% dos municípios brasileiros, o que motivou o processo da Claro. No entanto, a Surf é parceira da TIM, que tem cobertura nacional, portanto, a empresa foi autorizada a participar da licitação e, se ganhar, teremos uma MVNO de uma MVNO (!) no Brasil.

Calma que ainda não acabou: a EuTV também havia entrado com um processo contra a Claro, alegando que a empresa mexicana tinha irregularidades fiscais e problemas de documentação. O recurso também foi negado, e ambas as operadoras continuam no páreo.

Como vai funcionar a operadora dos Correios?

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Provavelmente, o ponto forte da operadora dos Correios será a rede de atendimento: a empresa de correspondências tem mais de 12 mil agências espalhadas por todos os cantos do país, sendo 6.471 próprias. Nas agências dos Correios será possível adquirir chips, fazer recargas de créditos e pagar a fatura de eventuais planos pós-pagos, se existirem.

A operadora que ganhar (Claro ou EuTV, se nada mudar) ficará responsável por toda a estrutura de rede. Além disso, deverá confeccionar e entregar os chips nos Centros de Distribuição dos Correios em São Paulo e Brasília, possibilitar a compra de créditos em seus próprios pontos de recarga e prestar atendimento presencial, telefônico e pela internet aos clientes da MVNO.

Atualização em 17 de maio, às 14h38: a EuTV venceu a licitação dos Correios. A operadora da empresa de correspondências, portanto, deverá utilizar a rede de antenas da TIM. Saiba mais.

A marca dos Correios estará presente em todos os lugares: nos chips, nos canais de atendimento e nos futuros serviços. 2% do faturamento bruto em telefonia móvel serão destinados ao fundo de marketing, que será utilizado para as ações de comunicação da operadora virtual.

O que esperar da estratégia?

Claro que os Correios ainda não têm pacotes de serviço definidos, mas é possível ter uma ideia do que vem por aí, com base no que foi definido pelo edital.

Os Correios deverão atuar tanto no pré-pago quanto no pós-pago, lembrando que os planos “controle” estão encaixados na segunda categoria. No entanto, o plano de evolução da base de clientes dos Correios, para que a operadora parceira planeje sua proposta, estabelece um cenário em que 100% dos clientes serão pré-pagos — indicando que o foco estará neste grupo.

Pelas previsões dos Correios, a meta é atingir 1 milhão de clientes ainda em 2016. A base deverá aumentar para 2 milhões em 2017, 4 milhões em 2018, 7 milhões em 2019 e 9 milhões em 2020.

São planos fortes. As quatro grandes operadoras têm entre 47,7 milhões (Oi) e 73,3 milhões (Vivo) de linhas ativas, mas os números vêm caindo: eram de 50,9 e 79,9 milhões em 2014, respectivamente. A Porto Seguro Conecta, talvez a MVNO mais bem sucedida atualmente, opera desde 2012 e tem apenas 364 mil linhas — e boa parte não é de telefonia celular, mas de rastreadores automotivos e serviços M2M.

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O ticket médio mensal, ou seja, a receita obtida por cliente, é estimada em R$ 20,00, o que é alto, mas dentro da realidade. No quarto trimestre de 2015, apenas a Vivo conseguiu ultrapassar esse valor: sua receita média por cliente foi de R$ 25,80. Nas outras três concorrentes, que normalmente oferecem planos mais baratos, o ticket médio é mais baixo: R$ 17,60 na TIM, R$ 17,30 na Oi e R$ 13,00 na Claro.

O edital define que a operadora precisa oferecer aos clientes dos Correios o “mesmo padrão de qualidade que disponibiliza aos seus próprios usuários”, portanto, dá para dizer que a MVNO será praticamente um espelho da operadora original. Em outros países, como os Estados Unidos, algumas empresas deixam claro que os clientes de operadoras virtuais têm prioridade menor na rede.

Qual o próximo passo?

A abertura das propostas comerciais da MVNO dos Correios deverá acontecer na próxima terça-feira (17).

A vigência do contrato será de 5 anos, renováveis automaticamente por mais 5 anos, podendo ser prorrogados. A partir da assinatura do contrato, a prestação de serviços deverá ser iniciada em até 180 dias — esse é o tempo que a operadora terá para interligar os sistemas, desenvolver os acordos e planos de negócios, treinar os funcionários dos Correios e distribuir os chips.

Agora vai?

Leia | O que é uma MVNO?

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Paulo Higa

Paulo Higa

Ex-editor executivo

Paulo Higa é jornalista com MBA em Gestão pela FGV e uma década de experiência na cobertura de tecnologia. No Tecnoblog, atuou como editor-executivo e head de operações entre 2012 e 2023. Viajou para mais de 10 países para acompanhar eventos da indústria e já publicou 400 reviews de celulares, TVs e computadores. Foi coapresentador do Tecnocast e usa a desculpa de ser maratonista para testar wearables que ainda nem chegaram ao Brasil.