Crises, anúncios e concorrência a todo vapor: os destaques dos streamings em 2022

Plataformas acirraram competitividade, movimentaram a indústria e colocaram esportes e conteúdos originais no centro da disputa

Paula Alves
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• Atualizado há 11 meses
Recalculando a rota: as principais movimentações do mercado de streaming de vídeos em 2022 / Tecnoblog / Vitor Pádua
O mercado de streamings em 2022 (Imagem: Vitor Pádua / Tecnoblog)

2022 foi um ano definitivamente importante para os streamings. O mercado nunca esteve tão competitivo quanto nestes últimos 12 meses, e, enquanto a Netflix buscava superar a maior crise de assinantes de sua história, outras fusões, mudanças e consolidações ganharam espaço na indústria. No que diz respeito ao conteúdo, plataformas fizeram sucesso com séries e transmissões esportivas, mas houve também quem recalculasse a rota do que estava colocando em seu catálogo, mirando em novos objetivos.

Uma indústria em movimento

Muito se fala em guerra de streamings, mas em 2022 os usuários se viram realmente em uma verdadeira batalha para decidir em qual plataforma depositar seu suado dinheiro.

Após anos de quase solidão na indústria, a explosão do mercado fez com que a Netflix tivesse dificuldades para lidar com a concorrência. Apesar de já estar em processo de recuperação, a plataforma perdeu 200 mil assinantes no começo do ano, chegando ao ápice de sua crise entre março e junho, quando registrou uma queda de quase 1 milhão de contas pagantes.

O momento de deslize foi bastante propício para que outras empresas colocassem o pé no acelerador, oferendo combos com concorrentes e conquistando cada vez mais assinantes. Foi assim que a Disney assumiu a dianteira da indústria, se tornando o conglomerado com maior número de usuários, somando suas três plataformas (Disney+, ESPN+ e Hulu).

Também nessa corrida estavam a Discovery e a WarnerMedia, empresas que anunciaram uma fusão, dando origem a um megaconglomerado. A chamada Warner Bros. Discovery abriga agora em seu guarda-chuva os streamings da HBO Max, Discovery+ e CNN+, e tem tudo para ser uma pedra no sapato das concorrentes nos próximos anos.

IPTV pirata
Homem vendo o catálogo de uma plataforma de streaming (Imagem: Mohamed Hassan/Pixabay)

Para além de toda essa disputa, em 2022, o mercado de streamings ainda nos reservou outras grandes surpresas.

A Starzplay resolveu fazer um rebranding de sua marca, pouco após brigar – e se acertar – com a Disney, devido à associação de seu nome com o Star+. Chamado de Lionsgate+, o streaming mudou toda sua identidade visual, embora seu conteúdo e formas de assinatura continuem os mesmos.

Também na onda de mudanças, o Apple TV+ e o Amazon Prime Video resolveram aumentar o valor de suas assinaturas no Brasil, indo de R$ 9,90/mês para R$ 14,90/mês.

E nem o YouTube escapou de toda essa movimentação da indústria. Em novembro, a plataforma anunciou que iria lançar um hub de streamings, permitindo que usuários assinassem e assistissem a serviços como Paramount+, Lionsgate+ e AMC+, na interface do Google. A novidade, disponível atualmente apenas nos EUA, ainda não foi confirmada para desembarcar no Brasil.

Bem-vindos à segunda fase dos streamings

Se os últimos anos e até mesmo o primeiro semestre de 2022 ficaram marcados por uma intensa disputa das plataformas para conquistarem novos assinantes, o mesmo já não se pode dizer dos últimos meses do ano.

Com mais serviços se consolidando no cenário e atingindo uma base fiel de clientes, é notório como os objetivos das empresas também começaram a mudar. O mercado de streamings adentrou em uma segunda fase, na qual, para além de somar clientes ao seu catálogo, os serviços também passaram a desejar novas formas de rentabilidade.

A Disney foi uma das marcas que deixou bem claro esse novo posicionamento. Após seu ex-CEO, Bob Iger, voltar ao cargo no qual esteve durante quinze anos, a empresa já anunciou que a lucratividade é sua atual grande prioridade.

Disney+ no celular
Disney+ no celular (Imagem: Mika Baumeister/Unsplash)

Na mesma linha de raciocínio, a HBO Max passou por uma série de mudanças. David Zaslav que assumiu o cargo de CEO da Warner Bros. Discovery após a fusão do conglomerado, não teve medo de assumir uma postura muito mais conservadora em sua gestão, excluindo produtos do catálogo que não traziam o retorno esperado e cancelando produções que já estavam praticamente prontas.

Em ambos os casos, a preocupação das plataformas mirou em tornar os produtos sustentáveis a longo prazo, tendo em vista que os cinemas continuam a ser uma grande mina de ouro para a indústria e os streamings parecem não trazer o resultado financeiro esperado.

Os anúncios invadem as transmissões

Apesar das muitas novidades, é inegável que a inserção de anúncios nas transmissões foi um dos grandes temas que pautou a indústria no último ano.

Visto como uma forma de trazer ainda mais dinheiro às plataformas graças à venda de espaços comerciais, esse tipo de assinatura foi incorporada a muitos serviços como mais uma opção do seu portfólio.

Em parceria com a Microsoft, a Netflix lançou a sua versão do plano ainda no começo de novembro. Chamada de “básico com anúncios”, ela se mostrou interessante, ainda que não vantajosa para todo mundo. Seu grande problema, no entanto, foi contar com um catálogo incompleto devido a problemas de licenciamento, mesmo saindo pelo valor de R$ 18,90/mês.

O Disney+ também decidiu aderir à tendência e, em um primeiro momento, lançou seu novo plano apenas nos EUA. Apesar de ter sido veiculado por muitos lugares como “uma opção mais barata”, o pacote, na verdade, custava o mesmo que o seu antigo plano sem anúncios, agora encarecido devido às mudanças da plataforma.

Embora a Disney tenha afirmado que pretende expandir o modelo de assinatura para outros mercados, não se sabe se ele também virá para o Brasil. E, nesse caso, se chegará por aqui no Disney+ e Star+, os dois serviços do país comandados pela empresa.

“Básico com anúncios”: Netflix tem plano interessante, mas que não é para todo mundo / Reprodução / Netflix
Interface do plano “básico com anúncios” da Netflix (Imagem: Reprodução / Netflix)

Para quem duvida da aderência de transmissões com propagandas, vale lembrar que, aqui no Brasil, alguns serviços de IPTV e streaming gratuitos dessa modalidade ganharam bastante destaque em 2022.

O Pluto TV foi com certeza um dos nomes de peso dessa lista, apresentando um crescimento sólido ao longo de todo o ano. Segundo dados revelados ao Tecnoblog, do início de 2022 até o momento, o serviço conseguiu pular dos 68 milhões para os 72 milhões de usuários mensais globais ativos, e deu um boom em sua programação, adicionando 46 novos canais à sua grade.

Conteúdos que deram o que falar

Se em 2022, os bastidores da indústria deram o que falar, o mesmo pode-se dizer a respeito dos conteúdos lançados por essas plataformas.

Para bem ou para mal, muitas produções originais de serviços foram destaque ao longo do ano, se transformando em fenômenos de audiência, causando polêmicas nas redes e alvoroço entre o público.

A Netflix conseguiu manter seu histórico de bons hits e, só neste ano, fez barulho e muitos views graças à quarta temporada de Stranger Things, Wandinha, Sandman, Heartstopper e Dahmer: Um Canibal Americano.

De acordo com dados da Nielsen, a quarta temporada de Stranger Things e Wandinha dividem o pódio de séries da Netflix mais vistas em sua semana de estreia. Enquanto Wandinha teve 5,98 bilhões de minutos assistidos, Stranger Things alcançou a impressionante marca de 7,2 bilhões.

Mas não parou por aí. A temporada 4 de Stranger Things ainda realizou um feito quase inimaginável: alavancou a música Running Up That Hill, de Kate Bush, de volta ao topo das paradas de sucesso, quase quarenta anos após o seu lançamento.

A HBO Max também deu sua contribuição aos grandes sucessos do ano com a estreia da primeira temporada de Casa do Dragão e o Prime Video, apesar de algumas polêmicas, também conseguiu emplacar com O Senhor dos Aneis: Os Aneis do Poder.

Inspirada na obra de J. R. R. Tolkien, a produção é nada menos do que a série mais cara já produzida, tendo custado US$ 465 milhões apenas em sua primeira temporada. No entanto, segundo informações divulgadas pelo próprio streaming, ela tem feito valer esse título, se tornando a série de maior audiência da história do Amazon Prime Video e tendo sido assistida por nada menos do que 100 milhões de pessoas em todo o mundo.

Esportes: a nova bola da vez da indústria

Se engana, no entanto, quem pensa que apenas séries e filmes fazem sucesso nas plataformas de streaming. Se teve algo que o ano de 2022 comprovou foi que a transmissão de esportes é um verdadeiro bilhete premiado na mão desses serviços.

Enquanto plataformas como a HBO Max e o Star+ mantiveram seus planos de transmitir a Champions League e a Libertadores, respectivamente, houve quem corresse atrás para acompanhar o movimento da indústria e garantir sua presença nos esportes.

O Amazon Prime Video fechou um acordo com a NBA para a transmissão do seu campeonato, e rumores apontam que o Apple TV+ está de olhos nos direitos de transmissão da NFL, além de já passar os jogos da Major League Baseball (MLB) com exclusividade no streaming.

No Brasil, no entanto, o grande feito do ano relacionando a esses dois universos ficou por conta, é claro, da Copa do Mundo. Além do lançamento do FIFA+, serviço de streaming oficial da FIFA, a entidade fez uma parceria com o streamer Casimiro Miguel para que ele pudesse transmitir o sinal de 22 jogos da plataforma em seu próprio canal de YouTube e na Twitch.

Com uma aparelhagem absurda, além da presença de narrador, comentaristas e repórteres de peso do mundo do futebol, o CazéTV fez história, ganhando o posto de live do YouTtube mais assistida de todo o mundo. Ao todo, foram 5,3 milhões de pessoas acompanhando a transmissão do jogo do Brasil contra a Coreia do Sul, pelas oitavas de final do campeonato.

O que esperar de 2023

Ainda que o cenário sempre reserve algumas surpresas, 2023 promete dar um novo gás à competitividade dos streamings. Agora mais estabelecidas, as plataformas têm outros objetivos a cumprir e alguns dos próximos passos já foram anunciados.

No próximo ano, HBO Max e Discovery+ se fundem em um único serviço de streaming. A novidade, que ainda não tem data exata para acontecer, não teve valores ou mais explicações reveladas, mas promete ser um dos grandes assuntos dos próximos meses.

A Netflix, por sua vez, promete dar atenção também à sua divisão de jogos, que vem crescendo cada vez mais. E, se confirmada, a chegada ao Brasil do plano com anúncios do Disney+ pode revelar um aumento de preço em sua assinatura.

Novidades que prometem dar o que falar em 2023 e, provavelmente, são apenas a ponta do iceberg das muitas movimentações que ainda veremos neste mercado.

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Paula Alves

Paula Alves

Repórter

Paula Alves é jornalista especialista em streamings e cultura pop. Formada pela Unesp (Universidade Estadual Paulista), antes do Tecnoblog, trabalhou por sete anos com jornalismo impresso na Editora Alto Astral. No digital, escreveu sobre games e comportamento para a Todateen e sobre cinema e TV para o Critical Hits. Apaixonada por moda, já foi assistente de produção do SPFW.

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