5 fatos que marcaram o Facebook em 2018: Cambridge Analytica, eleições, Portal e mais

A empresa lidou com escândalos de privacidade e ainda teve tempo para lançar um alto-falante inteligente

Victor Hugo Silva
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• Atualizado há 4 meses
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O Tecnoblog está publicando uma série de retrospectivas com o que aconteceu de mais importante na tecnologia em 2018. Teve especial da Apple, do Google, da Microsoftdas telecomunicações e vem mais nos próximos dias. De tudo o que publicaremos, certamente quem teve o ano mais turbulento foi o Facebook.

A empresa lidou com o escândalo Cambridge Analytica, que levou a depoimentos públicos perante autoridades, processos de usuários e até mesmo uma campanha incentivando a exclusão de contas. Para entender como o ano do Facebook foi difícil, basta lembrar a meta estabelecida no início do ano pelo CEO e fundador da companhia, Mark Zuckerberg.

Ele anunciou que pretendia consertar os problemas do Facebook. Zuckerberg disse que atingiria o seu objetivo “protegendo nossa comunidade de abusos e ódio, se defendendo contra a interferência de governos, ou se assegurando de que o tempo gasto no Facebook seja bem gasto”. Hoje, analisando o ano da empresa, é difícil dizer que seus problemas foram “consertados”.

Relembre os principais momentos do Facebook em mais uma retrospectiva de 2018.

O caso Cambridge Analytica

A maior dor de cabeça para o Facebook em 2018 surgiu com a revelação de que dados de 87 milhões de pessoas foram indevidamente usados. O caso começa com o teste de personalidade thisisyourdigitallife, do professor de psicologia da Universidade de Cambridge, Aleksandr Kogan. Cerca de 270 mil usuários fizeram o teste, mas a então política do Facebook permitiu que esse número se multiplicasse.

Contrariando as regras da rede social, Kogan vendeu os dados coletados para a Cambridge Analytica. A empresa atuava com análise de dados para fins comerciais e tinha Donald Trump, então candidato à presidência dos Estados Unidos, como seu principal cliente. A partir das informações obtidas com o teste, a campanha poderia entender as preferências do eleitorado.

O Facebook afirmou ter identificado a violação de suas políticas em 2015, quando removeu o teste de sua rede social. A empresa também disse que solicitou a exclusão dos dados, o que não aconteceu. O caso fez Zuckerberg dar depoimentos ao Parlamento Europeu e ao Congresso americano, onde parlamentares pouco afeitos a tecnologia fizeram algumas perguntas inusitadas.

Após o caso Cambridge Analytica estourar, o Facebook passou a investigar outros apps que pudessem estar em situação semelhante. Resultado: mais de 400 aplicativos suspensos e alguns banidos, como o myPersonality. O NameTests.com, outro popular serviço de quizzes, também entrou em discussão após um pesquisador descobrir que ele expôs dados de 120 milhões de usuários.

O escândalo da Cambridge Analytica levou usuários a abrirem processos contra o Facebook, que chegou a cogitar uma versão paga. Em meio a isso tudo, a #DeleteFacebook incentivou usuários a deixarem a rede social. A campanha teve como alguns de seus principais nomes o cofundador do WhatsApp, Brian Acton, e o CEO da Tesla e da SpaceX, Elon Musk.

O acesso de dados privados por empresas

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Na sequência do caso Cambridge Analytica, o Facebook precisou tratar de outro caso de uso excessivo de dados. Desta vez, as informações eram expostas a grandes empresas de tecnologia, que, assim como o teste de personalidade de Kogan, também tinham acesso aos perfis de amigos de pessoas que usavam seus sistemas.

O caso se refere a uma solução criada em 2008, quando o mercado de sistemas para celulares não era dominado por Android e iOS. Para chegar a mais plataformas, o Facebook liberou uma API para que empresas como Apple, Samsung, Microsoft e BlackBerry oferecessem uma experiência parecida ao do app da rede social em seus aparelhos.

A permissão era a mesma que os desenvolvedores dos demais apps tinham até 2015, mas o Facebook criou uma exceção para grandes fabricantes. Um relatório entregue ao Congresso dos EUA indicou que 52 empresas de hardware e software tiveram acesso à solução, incluindo Alibaba, Lenovo, Oppo e Huawei, esta suspeita de contribuir com práticas de espionagem do governo chinês.

O Facebook afirmou não ter encontrado qualquer abuso das empresas, mas anunciou que encerraria boa parte das APIs. Segundo o Wall Street Journal, companhias como Nissan e o Royal Bank of Canada também tinham acesso aos dados. O Facebook disse que, neste caso, houve uma pequena extensão ao prazo de limitação da API, mas garantiu que elas foram encerradas há alguns anos.

Ainda deu tempo do Facebook se envolver em outro escândalo de privacidade em dezembro. Segundo o NYT, parcerias deixaram Spotify, Netflix, Amazon, Microsoft, Apple e outras empresas coletaram dados privados sem o consentimento dos usuários. Elas conseguiam ver conversas do Messenger, listas de amigos e endereços de e-mail, mas o Facebook considerou não haver excessos no acordo.

As eleições no Brasil

A sala de guera do Facebook para as eleições

Com uma sala de guerra para acompanhar as eleições de meio de mandato nos Estados Unidos e as eleições presidenciais no Brasil, o Facebook apresentou alguns dos esforços para evitar interferências nos processos eleitorais. No Brasil, a primeira etapa foi anunciada em maio por meio de parcerias com as agências de checagem Aos Fatos e Lupa.

Elas têm a missão de analisar as publicações denunciadas pelos usuários. Se o conteúdo é classificado como falso, sua exibição no feed é consideravelmente reduzida. A plataforma também indicou quem pagou por anúncios políticos, liberou uma ferramenta com informações sobre candidatos e criou o Portal do Cidadão para aproximar eleitores e políticos.

Outra medida adotada pela rede social foi a exclusão de centenas de páginas administradas por contas falsas. A ação foi criticada pelo grupo de extrema-direita Movimento Brasil Livre (MBL), que teve 196 páginas e 87 perfis excluídos. Segundo o Facebook, elas “faziam parte de uma rede coordenada que se ocultava com o uso de contas falsas”. A empresa afirmou ainda que a rede “escondia das pessoas a natureza e a origem de seu conteúdo com o propósito de gerar divisão e espalhar desinformação”.

O MBL não foi o único a perder páginas por violar as políticas do Facebook. Junto a ele, uma entidade identificada como PCSD teve 72 grupos e 50 contas removidas por engajamento falso. A RFA, que tinha dezenas de páginas em apoio ao então candidato Jair Bolsonaro (PSL), perdeu outras 68 páginas e 43 perfis por spam e identificação falsa.

Mais amigos, menos notícias

Mark Zuckerberg defendeu mudança no feed do Facebook (Foto por Anthony Quintano/Flickr)

No início de 2018, o Facebook anunciou que faria mudanças em seu algoritmo: os usuários passariam a ver mais publicações de amigos e familiares no feed, o que faria notícias de grandes veículos perderem destaque. O anúncio não foi bem recebido por parte da imprensa e fez até mesmo a Folha de S.Paulo deixar de atualizar sua página na rede social.

O Facebook argumentou que pretendia aumentar a interação entre os usuários e combater conteúdo nocivo, como spam e notícias falsas (ainda que muitas fake news venham justamente dos grupos de família). O preço para isso seria reduzir o alcance das páginas de grandes sites.

Para completar as mudanças, a rede disse que o notíciário local teria prioridade no feed. Zuckerberg defendeu a alteração com o argumento de que “as pessoas que sabem o que está acontecendo ao seu redor são mais propensas a se envolver e ajudar a fazer a diferença”.

A decisão não afetou os posts de amigos e de parentes, mas tirou ainda mais espaço de jornais que possuem um alcance nacional. Essas páginas passaram a dividir o feed com sites que se concentram em notícias de regiões específicas.

A saída está no Portal?

Facebook Portal

E, apesar de todos os escândalos de privacidade, o Facebook parece entender que ainda tem a confiança dos usuários. A empresa lançou em outubro o Portal, um alto-falante inteligente com uma tela que permite realizar videochamadas pelo Messenger. Com modelos de 10 e 15 polegadas, o dispositivo tem uma câmera que te acompanha pelo ambiente em que você está.

Para tranquilizar usuários desconfiados, o Facebook garantiu que o Portal não armazena o conteúdo das chamadas e incluiu uma cobertura física para a câmera e um interruptor para desligar os microfones. O aparelho é bastante limitado: ele não acessa mensagens de texto do Messenger, nem o feed do Facebook, e conta com a ajuda da Alexa para executar alguns comandos de voz.

O que parece estar claro é o foco do Facebook em vídeo. Além do Portal, a empresa criou uma central de streaming de jogos rival do Twich e expandiu o Watch para mais países. Também teve testes do Paquera, um novo concorrente do Tinder.

Em 2018, porém, os esforços para oferecer mais recursos foram ofuscados pelos escândalos. Além da Cambridge Analytica, descobrimos que o Facebook coletou histórico de ligações e SMS, armazenou vídeos excluídos pelos usuários e tornou públicos os posts restritos de 14 milhões de pessoas.

Tem mais: a rede social sofreu um ataque que expôs dados de 29 milhões de pessoas e registrou um bug que publicou fotos privadas de até 6,8 milhões de usuários para desenvolvedores.

Com um ano tão complicado, Mark Zuckerberg foi pressionado a deixar o conselho administrativo do Facebook. A sugestão será votada apenas em 2019, mas seja qual for o resultado, ninguém deseja mais doze meses tão problemáticos quanto foram os de 2018.

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Victor Hugo Silva

Victor Hugo Silva

Ex-autor

Victor Hugo Silva é formado em jornalismo, mas começou sua carreira em tecnologia como desenvolvedor front-end, fazendo programação de sites institucionais. Neste escopo, adquiriu conhecimento em HTML, CSS, PHP e MySQL. Como repórter, tem passagem pelo iG e pelo G1, o portal de notícias da Globo. No Tecnoblog, foi autor, escrevendo sobre eletrônicos, redes sociais e negócios, entre 2018 e 2021.

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