Brasileiros têm trocado ônibus por apps de transporte, mostra pesquisa

Com transporte público precário, população brasileira tem optado cada vez mais por serviços como Uber e 99, aponta pesquisa da CNT

Emerson Alecrim
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• Atualizado há 3 dias
Uber
Brasileiros têm trocado ônibus por apps de transporte, mostra pesquisa (imagem: Vitor Pádua/Tecnoblog)
Resumo
  • Pesquisa da CNT mostra aumento no uso de apps de transporte em detrimento do ônibus urbano.
  • Em 2024, 11,1% usam apps de transporte, contra 1% em 2017; uso de ônibus caiu de 45,2% para 30,9%.
  • O principal motivo para a troca da rapidez das viagens (49%); outros motivos incluem flexibilidade e conforto.
  • A Classe C é a maior usuária de apps de transporte (56,6%); 52,7% usam ônibus por falta de opção melhor.
  • Deficiências do transporte público como atrasos, intervalos longos e lotação incentivam a migração para apps.

Um levantamento da Confederação Nacional de Transporte (CNT) revela que, cada vez mais, os brasileiros estão preferindo usar serviços como Uber e 99 para se locomover pelas cidades, em detrimento do transporte público. Essa realidade afeta principalmente o transporte por ônibus urbano.

A Pesquisa CNT de Mobilidade da População Urbana 2024, como é chamada, foi feita em parceria com a Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU). O levantamento foi baseado em entrevistas com 3.117 pessoas de 319 municípios brasileiros com mais de 100 mil habitantes.

Ônibus ainda são muito usados, mas perdem espaço

O resultado mostra que 30,9% dos entrevistados usam ônibus como meio de transporte principal. É um número expressivo, mas substancialmente menor em relação à edição anterior da pesquisa, realizada em 2017. Naquela época, o uso de ônibus foi registrado por 45,2% dos participantes.

Em contrapartida, o uso de serviços de transporte por aplicativo aumentou nesse comparativo. No levantamento de 2017, apenas 1% dos entrevistados revelou usar serviços como Uber e 99 regularmente. Na pesquisa de 2024, essa proporção aumentou para 11,1%.

Os números do levantamento atual sobre as modalidades usadas pelos entrevistados são estes:

  • Ônibus (transporte público): 30,9%
  • Carro próprio: 29,6%
  • A pé: 21,6%
  • Aplicativo de transporte (como Uber): 11,1%
  • Moto própria: 10,9%
  • Bicicleta própria: 6,5%
  • Carona (incluindo serviços como BlaBlaCar): 4,4%
  • Metrô: 4,2%
  • Moto-táxi por aplicativo: 2,6%
  • Trem urbano/metropolitano: 1,8%
  • Ônibus de fretamento: 1,6%
  • Transporte alternativo legalizado: 1,4%
  • Transporte escolar: 0,6%
  • Moto-táxi comum: 0,5%
  • Táxi: 0,4%
  • Outros: 0,7%
Ônibus da cidade de São Paulo (imagem: Sidnei Santos/SPTrans)
Ônibus da cidade de São Paulo (imagem: Sidnei Santos/SPTrans)

A própria CNT aponta que os serviços por aplicativo podem ter influenciado na queda de demanda pelo transporte público:

É possível que essa evolução [o aumento de usuários de transporte por apps] seja um dos fatores que contribuem para a substituição de um meio por outro, uma vez que, neste ano, 56,9% dos entrevistados confirmaram que deixaram de usar totalmente o ônibus (29,4%) ou diminuíram o uso (27,5%).

Não são apenas usuários com renda elevada que usufruem do transporte por aplicativo. A pesquisa aponta que 56,6% dos usuários dessa modalidade estão na classe C, enquanto 20,1% pertencem às classes D e E.

Rapidez é o principal motivo para o uso de apps

A pesquisa da CNT também revela que a maior rapidez da viagem é o principal motivo para o uso de transporte a partir de aplicativos. Mas há outras razões fortemente consideradas pelos entrevistados:

  • Maior rapidez da viagem: 49%
  • Flexibilidade de rotas e horários: 43,2%
  • Maior conforto: 43%
  • Facilidade de solicitar o serviço: 36%
  • Menor preço: 23,2%
  • Pontualidade: 20,5%
  • Maior segurança: 18,4%
  • Facilidade de pagamento: 16,9%
  • Disponibilidade de informações sobre o serviço: 9,9%
  • Melhor cobertura geográfica: 5,8%
  • Frequência maior de viagens: 2,7%
Transporte por aplicativo (Imagem: Paul Hanaoka/Unsplash)
Transporte por aplicativo (Imagem: Paul Hanaoka/Unsplash)

Pesquisa diz mais sobre o transporte público do que sobre apps

Entre aqueles que ainda priorizam o transporte público (ônibus), 52,7% responderam que o fazem por essa ser a única opção de locomoção. 32,1% afirmaram que usam essa modalidade pelo menor custo em relação a outros meios de transporte.

Esses aspectos são um forte indício de que a priorização dos serviços por aplicativo é efeito das deficiências do transporte público. Essa percepção é reforçada com a constatação de que o carro próprio também é uma modalidade fortemente utilizada (29,6%).

Como usuário assíduo do transporte público de São Paulo (SP), onde moro, eu percebo essas deficiências com frequência. Na cidade, é comum problemas como:

  • ônibus que não saem no horário previsto;
  • longos intervalos entre um ônibus e outro;
  • lotação excessiva, principalmente em horários de pico;
  • veículos velhos ou com manutenção precária;
  • ônibus que atrasam durante o trajeto por causa do trânsito intenso.

Esses problemas também são facilmente perceptíveis em outras cidades. Todos eles tornam o transporte público pouco prático ou confiável.

Se o transporte coletivo oferece baixa qualidade de serviço, é óbvio que os usuários darão preferência às modalidades de transporte individual que proporcionam melhores experiências.

Mas isso também tem consequências, como o aumento do número de automóveis em circulação, o que contribui para congestionamentos e a poluição do ar.

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Emerson Alecrim

Emerson Alecrim

Repórter

Emerson Alecrim cobre tecnologia desde 2001 e entrou para o Tecnoblog em 2013, se especializando na cobertura de temas como hardware, sistemas operacionais e negócios. Formado em ciência da computação, seguiu carreira em comunicação, sempre mantendo a tecnologia como base. Em 2022, foi reconhecido no Prêmio ESET de Segurança em Informação. Em 2023, foi reconhecido no Prêmio Especialistas, em eletroeletrônicos. Participa do Tecnocast, já passou pelo TechTudo e mantém o site Infowester.