Review Moto E, o competente Android acessível da Motorola
Custando a partir de 529 reais, Moto E é a aposta de baixo custo da Motorola.
Completo, Moto E com TV digital e traseiras coloridas custa 599 reais.
Em setembro de 2013, a Motorola lançou o Moto X por 1.499 reais, um produto que redefiniu o que é um smartphone topo de linha. Dois meses depois, a empresa conseguiu, com sucesso, oferecer um aparelho mais acessível que não comprometia a experiência de uso, o Moto G, por 649 reais. Ainda sob o comando do Google, a Motorola espremeu mais ainda os gastos e chega com o Moto E, com preços a partir de 529 reais.
Para diminuir o preço do Moto E, a Motorola focou no essencial: nada de câmera frontal para tirar selfies, nada de especificações de hardware que fazem os olhos brilharem e nada de conexão 4G. Até o flash LED da câmera foi removido. De acordo com a Motorola, o Moto E é voltado para quem está procurando o primeiro smartphone e quer fugir dos aparelhos de baixa qualidade, que oferecem uma experiência de uso fraca.
Depois de dois enormes acertos, será que a Motorola conseguiu lançar um bom smartphone pela terceira vez seguida? Compensa economizar dinheiro e comprar o aparelho mais básico da empresa? Usei o Moto E como smartphone principal na última semana e conto minha experiência nos próximos parágrafos.
Design e pegada
Bastante familiar, o design do Moto E não deve causar nenhuma surpresa para quem já teve contato com os outros dois aparelhos da Motorola apresentados durante a era Google. Na verdade, vendo de longe, é possível confundir facilmente o básico Moto E com o intermediário Moto G: eles possuem as mesmas linhas de design, dimensões muito parecidas e botões localizados nos mesmos lugares.
Sendo bastante parecidos, o Moto E carrega as mesmas características positivas e negativas do Moto G. A pegada é boa: o aparelho é pequeno e caberá confortavelmente na maioria das mãos. A leve curvatura na traseira melhora a ergonomia e a sugestiva cavidade logo abaixo da câmera, que exibe a marca da Motorola, serve como uma luva para repousarmos o dedo indicador quando estamos segurando o aparelho.
Isso também significa que a tampa está bem presa ao restante do aparelho e continua difícil de ser removida nas primeiras tentativas (não vá machucar os dedos!). Além disso, como a traseira é fosca e não possui nenhuma textura, é fácil enxergar marcas de suor e gordura das nossas mãos, especialmente no modelo preto, após algum tempo de uso. Se você tem transtorno obsessivo-compulsivo com impressões digitais, é bom preparar o paninho.
Não pude deixar de notar que o botão liga/desliga do Moto E não é tão firme quanto poderia: é necessário apertá-lo mais fundo e não há aquele retorno físico e sonoro de um iPhone 5s ou Moto X; mesmo o Moto G tinha o defeito, ainda que menos perceptível. Isso não tira os méritos do Moto E, mas mostra que a Motorola poderia ter caprichado um pouquinho mais no acabamento, principalmente em um botão que apertamos dezenas de vezes ao dia.
A bateria do Moto E é fixa. O fato da tampa traseira ser removível é algo puramente estético: o Moto E DTV Colors, de 599 reais, acompanha duas capinhas coloridas adicionais, para quem não quer ficar preso às tradicionais cores preta e branca. No interior, você terá acesso apenas ao slot para cartões microSD, muito bem-vindo em um aparelho de baixo custo com armazenamento limitado, e aos dois slots para SIM cards no padrão Micro-SIM.
A frente do Moto E possui, além do speaker para chamadas e um LED de notificações, um alto-falante que, nos outros smartphones, costuma ficar na parte traseira. É diferente, mas é uma decisão acertada, que aproveita melhor o espaço da frente do aparelho e ainda faz com que o áudio dos vídeos, inclusive dos canais de TV digital, sejam emitidos diretamente para o usuário em nítido, alto e bom som.
Tela
Quando uma fabricante corta custos nos componentes de um smartphone, um dos principais itens afetados é a tela. Os Androids de entrada estavam restritos a displays de baixíssima resolução, deixando um belo caminho para o Lumia 520 e sua tela IPS LCD de 800×480 pixels passarem. Mesmo o competente RAZR D1, antecessor do Moto E, tinha uma visor medíocre, com resolução de 480×320 pixels e baixa definição.
Por isso, é bom saber que a tela do Moto E é ótima para um smartphone de entrada. Com resolução de 960×540 pixels e definição de 256 pixels por polegada, é difícil enxergar pixels individuais a uma distância normal de uso. O painel IPS LCD de 4,3 polegadas exibe cores vivas, tem ângulo de visão satisfatório e ótimo contraste, embora eu acredite que o preto pudesse ser mais preto.
O brilho, apesar de decente, não é muito alto, então é difícil enxergar o que está sendo exibido na tela sob a luz do sol, especialmente se o visor estiver com marcas de dedo, que dificultam ainda mais a visualização. No material de divulgação, a Motorola afirma que a tela do Moto E tem uma cola óptica (seja lá o que isso signifique) que diminui a reflexão. Pelo visto, isso não faz nenhum tipo de milagre.
Uma boa tecnologia que a Motorola está trazendo aos aparelhos mais baratos é o Gorilla Glass 3, presente no Moto E, o que significa que você não terá que se preocupar em comprar películas para evitar arranhões. É difícil avaliar a eficiência da tecnologia na prática; só posso dizer que, em uma semana de uso, não houve o mínimo sinal de riscos na tela do Moto E. Aqui, sempre vale reforçar que a intenção do Gorilla Glass nunca foi tornar um vidro inquebrável, diferente do que o senso comum faz parecer, mas apenas torná-lo resistente a arranhões.
Software e multimídia
A Motorola, antigamente conhecida por encher o Android de aplicativos e recursos de utilidade duvidosa, repetiu a dose dos últimos lançamentos e manteve um Android quase puro. Não há modificações na interface do Android, nem widgets adicionais, nem joguinhos de demonstração pré-instalados no Moto E.
Há poucos aplicativos instalados de fábrica no Moto E. Além dos nativos, a Motorola incluiu apenas cinco:
- Ajuda: aplicativo de suporte da Motorola, muito bem feito, que permite pedir auxílio através de uma ligação ou bate-papo;
- Alerta: permite alertar rapidamente amigos e familiares quando você estiver em um local não seguro e fornece informações para que eles possam encontrá-lo;
- Assist: executa tarefas automaticamente de acordo com o local e horário;
- BR Apps: obrigatório em smartphones beneficiados pela desoneração de impostos do governo; é um atalho para instalar aplicativos nacionais escolhidos pela Motorola;
- Migração Motorola: transfere contatos, mensagens, fotos e outros dados do seu Android ou iPhone antigo.
Seria legal se a Motorola incluísse alguns dos recursos bacanas do Moto X, como o Active Display, que mantém a tela ligada para exibir notificações; e o Touchless Control, que deixa o microfone sempre ativo, pronto para receber comandos de voz, algo interessante agora que o Google passou a responder em português. No entanto, como nem o Moto G possui essas funcionalidades, não dá para esperar que elas existam em um aparelho mais barato.
Naturalmente, há dois aplicativos inerentes aos recursos de hardware do aparelho: um para sintonizar a rádio FM e outro para a TV digital, no caso do Moto E DTV Colors. O primeiro não faz nada além do essencial, mas o segundo merece comentários adicionais.
O aplicativo da TV digital é simples, com uma interface sem grandes caprichos. É possível acessar a grade de programação dos canais, gravar o que está passando na TV para assistir depois e restringir a exibição de programas impróprios para determinadas faixas etárias, de acordo com a classificação indicativa do Ministério da Justiça. Há suporte para closed captions, e você pode agendar a gravação de um programa nas configurações do aplicativo.
Embora seja possível sintonizar canais digitais sem uma antena ou fone de ouvido conectado, recomendo fortemente que você leve pelo menos um dos acessórios se quiser assistir à TV no Moto E. A recepção da TV sem o auxílio desses componentes é bem ruim, mesmo em áreas privilegiadas: foi difícil sintonizar qualquer coisa no número 900 da Avenida Paulista, prédio da TV Gazeta e onde está localizada a antena analógica da TV Globo São Paulo.
Infelizmente, diferente do RAZR D1, o Moto E suporta apenas TV digital, não analógica. É fato que muitas regiões do Brasil, mesmo em grandes cidades, ainda não possuem boa cobertura de sinal digital, então isso deve limitar um pouco o uso do recurso no Moto E. Com suporte apenas ao padrão 1-Seg, de 320×240 pixels, também não espere muita definição de imagem.
Câmera
Se a Motorola tem conseguido acertar em custo-benefício nos últimos lançamentos, existe um componente que a empresa nunca foi capaz de fazer melhor que a concorrência: a câmera. Mesmo a câmera do Moto X não é aquela Coca-Cola toda, e a do Moto G não faz nada além do que se espera para um smartphone acessível, então não havia muitas esperanças de que o Moto E, que nem flash LED possui, tirasse boas fotos.
Mas o Moto E me surpreendeu negativamente: trata-se de uma das piores câmeras que tive contato nos últimos anos, considerando não apenas smartphones, mas também celulares básicos. Só para começar, a lente é de foco fixo, então nem pense em tirar fotos de nada perto: tudo o que você conseguirá obter serão borrões coloridos e objetos desfocados.
O sensor, apesar de ter a mesma resolução de 5 megapixels do Moto G, é significativamente pior. Ele é incapaz de capturar detalhes da imagem. As fotos saem com baixíssima definição, resultado do tratamento agressivo por software para remover os ruídos gerados pelo sensor. Fotos de paisagens quase viram pinturas com aquarela, e isto não é um elogio.
Como não há estabilização óptica e a sensibilidade do sensor não é alta, a câmera do Moto E frequentemente tenta capturar imagens com uma velocidade do obturador lenta. Em ambientes fechados, foi comum o software da câmera escolher a velocidade 1/10 segundo, o que exige uma boa dose de calma para não gerar uma foto tremida.
A câmera do Moto E, portanto, só existe porque seria muito feio para a Motorola lançar um smartphone sem câmera. Pensando por esse lado, seria bom se a Motorola gastasse mais alguns centavos e mantivesse o flash LED: ele não ajuda em nada ao tirar uma foto com uma câmera ruim, mas pelo menos pode ser útil como lanterna.
Hardware
O Moto E vem com o novo Snapdragon 200, mas a CPU é formada pelos velhos núcleos ARM Cortex-A7 de 1,2 GHz, que apareceram pela primeira vez em smartphones lançados em 2011. A GPU é uma Adreno 302, um pouco inferior à Adreno 305 presente no Snapdragon 400 do Moto G, mas que consegue rodar jogos atuais sem muitos sofrimentos.
O Android, embora tenha recebido muitas otimizações nas últimas versões, ainda apresenta pequenas travadinhas em conjuntos de hardware mais limitados. Especialmente em aplicativos mais pesados, como o Chrome, presenciei algumas animações engasgando ou sendo exibidas com uma taxa de frames abaixo da ideal. Não tem como esperar a fluidez dos Androids mais caros, mas bateu uma pontinha de decepção ao lembrar do desempenho quase impecável do Moto G, que não é tão mais caro que o Moto E.
Apesar disso, o hardware do Moto E rende o que se espera de um smartphone de entrada. Ele é visivelmente mais lento que o Moto G, mas está longe de irritar o usuário com os travamentos frequentes que notamos em Androids baratos de alguns fabricantes, que insistem em desperdiçar processamento com funções adicionais de importância questionável. A RAM de 1 GB é um belo ponto positivo se comparado aos Androids da mesma faixa de preço.
A memória flash do Moto E é de 4 GB, mas há apenas pouco mais de 2 GB disponíveis para o usuário. No entanto, essa limitação não deve ser um grande empecilho para quem carrega muitas músicas ou filmes: ao inserir um cartão microSD no slot, o Moto E logo trata de se oferecer para mover seus arquivos para o armazenamento externo. Alguns aplicativos também podem ser executados a partir do cartão de memória.
Nos benchmarks sintéticos, o Moto E foi relativamente bem, não muito atrás dos irmãos mais caros e bem à frente de seu antecessor:
Bateria
De acordo com a Motorola, a bateria de 1.980 mAh do Moto E dura até 24 horas de uso moderado. De fato, na prática a bateria cumpre o prometido e não deve deixar o usuário na mão. Durante os sete dias que testei o Moto E, não precisei me preocupar com a carga da bateria antes de chegar em casa.
Em um dos cenários, tirei o Moto E da tomada às 9 horas, ouvi duas horas de música por streaming no Spotify em 3G, baixei um episódio de podcast pela rede de dados e acessei redes sociais e outros sites por cerca de 50 minutos. A tela permaneceu ligada por 1h02min. Com esse ritmo de uso, consegui chegar em casa à 0h30 com 42% de bateria restante.
No cenário de uso mais intenso, precisei usar o Moto E como tethering por cerca de três horas porque não havia Wi-Fi disponível no local, mas a rotina permaneceu praticamente a mesma. Nesse caso, a bateria do aparelho chegou à meia-noite com 19% de carga. Em ambos os cenários, o brilho estava travado no máximo e foi usado apenas um SIM card.
A bateria do Moto E, portanto, é suficiente para aguentar um dia inteiro de uso, mas nada além disso. É aquele típico smartphone que você terá que deixar conectado à tomada sempre que for dormir, mas não te deixará preocupado antes do dia acabar.
Pontos negativos
- Câmera de baixa qualidade, que decepciona mesmo em condições favoráveis.
- Falta da câmera frontal pode decepcionar potenciais compradores.
- Preço muito próximo ao do Moto G, que é significativamente superior.
Pontos positivos
- Desempenho decente para um Android de baixo custo.
- Sintonização de TV digital.
- Suporte a dois chips já no modelo mais acessível.
- Tela com definição e contraste acima da média.
Conclusão
Vale a pena comprar um Moto E? Há duas respostas possíveis.
A Motorola afirma que o Moto E foi criado “para atender ao consumidor que está procurando o seu primeiro smartphone”. Para quem não quer gastar muito e está querendo ter um primeiro acesso ao enorme universo de aplicativos e jogos para smartphones Android, o Moto E é uma boa opção. Trata-se de um aparelho competente, com uma ótima tela, uma bateria que dá conta do recado e um desempenho satisfatório.
Algumas características jogam a favor do Moto E e são particularmente interessantes para um público que procura um aparelho mais acessível: mesmo o modelo de 529 reais já possui dois slots para SIM cards. Por pequeno valor adicional, tem o Moto E DTV Colors, com preço sugerido de 599 reais, que traz a TV digital e vem com duas capinhas coloridas.
Já para quem não faz questão da TV digital, nem usa duas operadoras, não acho que valha a pena a economia de algumas dezenas de reais. O Moto G tem desempenho superior, tela melhor, bateria com maior autonomia e câmera que tira fotos usáveis com preço sugerido de 649 reais. Vale lembrar que, como o Moto G está há alguns meses no mercado, não é difícil encontrá-lo em promoções por pouco mais de 500 reais, mesmo valor cobrado pelo Moto E.
Pelos valores de tabela, portanto, a compra do Moto E não faz sentido para boa parte das pessoas que estão lendo este review. A Motorola poderia ter sido um pouco mais agressiva nos preços, ou mesmo ter lançado um Moto E single SIM por um valor sugerido na casa dos 450 reais. Já que isso (ainda) não aconteceu, o Moto G continua tendo a melhor relação custo-benefício para quem não se importa com os diferenciais do Moto E.
De qualquer forma, é interessante perceber que, depois de todos esses meses, a Motorola continua competindo consigo mesma no mercado de smartphones Android acessíveis.
Leia | O que é modo ocioso?
Especificações técnicas
- Bateria: 1.980 mAh.
- Câmera: 5 megapixels (traseira).
- Conectividade: 3G, Wi-Fi 802.11n, GPS, Bluetooth 4.0 LE e USB 2.0.
- Dimensões: 124,8 x 64,8 x 12,3 mm.
- GPU: Adreno 302.
- Memória externa: entrada para cartão microSD de até 32 GB.
- Memória interna: 4 GB (2,21 GB disponíveis para o usuário).
- Memória RAM: 1 GB.
- Peso: 142 gramas.
- Plataforma: Android 4.4.2 KitKat.
- Processador: dual-core Snapdragon 200 de 1,2 GHz.
- Sensores: acelerômetro e proximidade.
- Tela: IPS LCD de 4,3 polegadas com resolução de 960×540 pixels e revestimento Gorilla Glass 3.