Huawei Mate X: uma olhada de perto no celular dobrável
Uma hora dobrando e desdobrando o Huawei Mate X, topo de linha com tela de 8 polegadas e câmeras da Leica
Uma hora dobrando e desdobrando o Huawei Mate X, topo de linha com tela de 8 polegadas e câmeras da Leica
Faz quase nove meses que a Huawei anunciou um celular dobrável, o Mate X, mas poucas pessoas conseguiram mexer no aparelho até agora — ele só era visto em redomas de vidro e nas mãos de executivos chineses que não deixavam ninguém tocar no produto. Isso acaba de mudar: ele finalmente começará a ser vendido na China e eu tive a oportunidade de dobrar e desdobrar o smartphone por uma hora.
O Mate X é como um Galaxy Fold invertido: quando dobrada, a tela única de 8 polegadas fica na parte externa do smartphone, não interna. Isso pode trazer vantagens, como economia de espaço, uso de menos componentes e projeto mais confiável, mas deixa a tela exposta às intempéries da vida, tanto é que ele vem com uma capa de couro (bem estilosa, por sinal) para proteger o aparelho.
De qualquer forma, como a Huawei demorou mais para colocar o produto à venda e acompanhou todo o drama da Samsung, é provável que a empresa tenha feito mais testes em laboratório para evitar qualquer problema. Ainda assim, a Huawei recomenda que os usuários não removam uma película de proteção pré-instalada na tela e não dobrem o aparelho quando a temperatura estiver abaixo de -5ºC.
Ah, sim: para desdobrar o Mate X, é só apertar um botão que libera o mecanismo de trava da tela.
A experiência de usar um celular dobrável é… curiosa. Minha maior dúvida era quanto ao software: o que acontece quando você está mexendo em algum aplicativo e dobra ou desdobra o celular? No caso do Mate X, a transição entre os dois modos é muito ágil e transparente, mesmo em jogos mais pesados, como Asphalt 9: os elementos da tela e os gráficos se adaptam rapidamente ao espaço disponível no visor.
Talvez a maior vantagem de um smartphone que dobra esteja no consumo de conteúdo. Quando o Mate X está dobrado, a tela “frontal” (se é que se pode chamar assim) tem 6,6 polegadas, o que já é um tamanho respeitável. Mas a experiência de assistir a um vídeo no YouTube ou mesmo navegar em um site é outra em uma tela quadrada de 8 polegadas: a diferença de espaço é maior do que os números sugerem. Esse aspecto “2 em 1” pode ser útil para maratonar uma série em uma viagem longa de avião ou ler um livro antes de dormir, por exemplo.
Aliás, bateria para isso é o que não falta: são 4.500 mAh de capacidade e a Huawei ainda envia um carregador de 55 watts que leva a bateria de 0 a 85% em meia hora.
Olhando o Mate X ao vivo, não tem como não admirar a qualidade de construção: ele parece robusto, apesar de ter uma dobradiça bem no meio da carcaça. O peso é maior que o de um smartphone convencional, com cerca de 300 gramas, mas isso só é sentido quando o aparelho está dobrado. No modo tablet, o Mate X parece leve demais porque o peso e a espessura estão concentrados em uma lombada que abriga os botões físicos, a porta USB-C, as lentes da câmera e o leitor de impressões digitais.
Mas sim, existe um vinco no display bem na região da dobra. E um vinco é como um risco na tela: uma vez que você viu, é impossível desver. Não é como se atrapalhasse o uso normal do Mate X: dá para sentir a protuberância na tela com a ponta do dedo, mas isso não afeta a qualidade de imagem. Além disso, em condições normais, você só deve perceber o vinco quando uma luz direta estiver refletindo na tela. Esta é apenas a primeira geração de um celular com tela dobrável — e espero que os futuros aparelhos diminuam esse problema ao máximo.
Falando nas telas, a Huawei não parece ter comprometido a imagem em favor da flexibilidade. As cores são vivas, os pretos são profundos como o de qualquer OLED e o brilho se mostrou forte o suficiente para tornar a visualização possível em qualquer condição de iluminação. Não encontrei nenhum problema típico de painéis OLED de baixa qualidade, como color banding ou efeito de tela suja. É algo no nível do P30 Pro, que possui uma ótima tela.
O conjunto de câmeras também é bem parecido com o que você encontra no P30 Pro. São quatro: uma principal de 40 megapixels (f/1,8), uma ultrawide de 16 megapixels (f/2,2) e uma telefoto de 8 megapixels (f/2,4) com estabilização óptica de imagem, além de um sensor de tempo de voo (ToF) para medir profundidade, tudo com a grife da Leica. Não existe o conceito de “câmera frontal”, afinal, quando o Mate X estiver dobrado, você pode usar a tela “traseira” para se ver.
O aplicativo de câmera tem até um botão exclusivo que ativa as duas metades da tela na hora de tirar uma foto. Dessa forma, você pode pedir para uma pessoa te fotografar e, na tela “traseira”, ver como está o enquadramento em tempo real. Não tem mais desculpa para culpar o fotógrafo quando uma foto sair ruim.
E, por usar o mesmo conjunto de câmeras para tudo, o Mate X deve resolver um calcanhar de Aquiles da Huawei, que era a qualidade inferior das câmeras frontais. Tanto o P30 Pro quanto o Mate 30 Pro não devem em nada para os topos de linha de 2019 da Samsung e da Apple quando o assunto é fotografia com as câmeras traseiras — mas eles ficam atrás se as selfies forem levadas em consideração. Se o Mate X tem qualidade de câmera traseira na frontal, o problema deixa de existir.
Celular com tela dobrável é algo que pode, sim, trazer vantagens reais para o usuário, mas ainda é algo caro, como toda tecnologia nova. Os problemas do Galaxy Fold poderiam ter enterrado a ideia — mas os números não oficiais apontam que a Samsung já vendeu mais de 500 mil unidades, o que não é de se jogar fora. Se a aceitação dos dobráveis da Huawei e da Motorola for boa (e eu espero que seja), é certo que a tecnologia deve evoluir, com menos vincos, menos peso e mais resistência.
O lançamento de um Mate X no Brasil é uma incógnita, até pelos problemas que a Huawei passa no mundo, devido às sanções dos Estados Unidos. A unidade que eu testei tinha os aplicativos do Google instalados por meio de uma gambiarra não oficial, mas é pedir demais que o usuário comum gaste R$ 10 mil (sem contar os impostos de importação) e ainda tenha que rodar uns aplicativos de origem duvidosa para conseguir instalar o YouTube no celular.
Mas talvez o futuro dos smartphones esteja começando.