Se estamos numa grande onda de fabricantes largando seus atuais sistemas de dispositivos móveis para adotar com um forte abraço o Google Android, a Nokia é uma das poucas que nada (sem fôlego, ao que parece) contra essa maré. A empresa continua apostando em plataformas próprias, como o Maemo. Nesse cenário, aparece o N900, um aparelho que começou a ser vendido no Brasil faz algumas semanas ao preço sugerido de R$ 2 mil. Mas será que ele vale a pena?

Eu recebi um Nokia N900 para conduzir alguns testes e escrever esse review, mas confesso que tive certa dificuldade de entender como é que o tal Maemo funciona. Vamos lá.

Design

O N900 não é um celular pequeno, muito pelo contrário. O aparelho lembra um tijolinho, com poucas cavidades e nenhum desnível no seu plástico. A Nokia apostou em um desenho simples, com bordas arredondadas e só. Ele encaixou-se perfeitamente na minha mão, sempre dando a sensação de que é um aparelho forte e resistente a quedas.

Seu peso, no entanto, pode incomodar um pouco. Como a maioria dos smartphones com teclado QWERTY, o N900 é ligeiramente pesado. O suficiente para prejudicar algumas atividades triviais, como assistir a vídeos deitado no sofá. Nessas horas é que percebi o quanto os 181g do aparelho podem incomodar.

Nas laterais do aparelho encontramos alguns botões: de controle de volume; de acionar a câmera e fotografar; e de ligar o aparelho. Todos eles são bem posicionados e é intuitivo usar cada um. O único porém fica por conta de um botão deslizante que aparentemente aciona o visor do aparelho ou o desliga, mas confesso que não entendi muito bem o propósito dele.

Os oríficos nas laterais também são poucos: uma entrada micro-USB, com a qual a bateria do aparelho é recarregada, uma saída de áudio 3,5 mm, perfeita porque funciona com qualquer fone de ouvido comum, e um slot para stylus. Pois é, o Nokia N900 tem uma stylus, mas os meus testes me provaram que ela não é completamente necessária para usar o aparelho.

Conhecendo o Maemo

Eu já brinquei com muitos sistemas, desde os proprietários de celulares mais simples, até o iPhone OS e o Android, que atualmente travam uma batalha nesse mercado. Ao pegar o N900 pela primeira vez, fiquei meio perdido no sistema. Tive que passar alguns segundos contemplando sua tela inicial antes de tomar qualquer ação.

E como ela se parece? O básico de todo o smartphone está lá: relógio e indicador de bateria, bem como o acesso a todos os aplicativos do aparelho. Na parte inferior, alguns atalhos para Twitter, bússola e navegador, além de funções nativas do smar, como envio de mensagens, acesso à Loja Ovi. Tudo isso é ajustável, seguindo o gosto do freguês.

O curioso, no entanto, é que a tela inicial do Maemo simplesmente não funciona no modo retrato quando estamos na Home Screen. Por mais que você torça para que acelerômetro ajuste a imagem do aparelho para que seja apresentada também no modo retrato, isso não acontece e ponto final. Ou pelo menos eu não tive perícia o suficiente para fazer isso acontecer.

Já nos aplicativos isso varia um pouco. No caso do discador, por exemplo, ele fica em na vertical mesmo que o aparelho esteja inclinado para um dos lados. E para ficar na horizontal? Basta abrir o teclado físico.

Creio que a grande vantagem de estar quase sempre no modo paisagem é fornecer mais espaço para escrever textos, já que o usuário provavelmente vai utilizar o teclado QWERTY para entrada de dados. E com isso temos um mini-terminal de computador, por assim dizer, com monitor e teclado. Só faltaria um mouse para o conjunto ficar completo. 😛

Ainda falando do Maemo, o modo como o sistema se comporta me causou estranhamento. Por exemplo, depois de adentrar em algum menu (como de Definições, por exemplo), não entendi muito bem como proceder para voltar à tela anterior. No Android há o botão obrigatório de Retornar, enquanto no iPhone o botão Home sempre, em qualquer aplicativo, leva o usuário de volta para o Home Screen. Não encontrei algo similar no N900.

As animações visuais do Maemo me desagradaram um pouco por se mostrarem lentas, meio mal feitas. Ao deslizar uma Home Screen para o lado, não é difícil perceber que a taxa de atualização do visor está abaixo do recomendado, causando um efeito feio, de aparelho inacabado. O mesmo vale para quando um aplicativo era encerrado e a tela dele se “fechava” rapidamente, mas nesse caso não era tão perceptível como no anterior.

Pelo menos o movimento de correr por páginas ou listas de aplicativos mostrou-se satisfatórios, sem demoras nem atrasos entre o que eu tocava e animaçãoo apresentada na tela. Mas esteja certo de que leva certo tempo para habituar-se à tecnologia touchscreen do Nokia N900.

Aplicativos

Os tradicionais suspeitos estão lá:

  • Calculadora. Disponível em layout convencional e científico, é fácil de usar. Mas… Bem, é só uma calculadora mesmo.
  • Calendário. Com direito a visualização da grade diária, semanal ou mensal. Como sempre deve ser, aliás.
  • Contatos.
  • Conversação. É assim que a Nokia chama o aplicativo de mensagens SMS. O bacana do aplicativo é mostrar as mensagens em ordem cronológica, uma embaixo da outra, como já acontece nos comunicadores instantâneos. Assim fica bem mais fácil de saber o que cada um estava falando, e mais ainda de retomar um assunto.
  • Notas. A vantagem do aplicativo é que permite inserir formatações no texto, como negrito ou mudar o tamanho da fonte. Por outro lado, organizar as anotações é chato, pois cada anotação é um arquivo salvo em um diretório, sem opção de visualização por data de criação ou de modificação.
  • Mapas. Com tecnologia da Ovi, o aplicativo de mapas de mapas é bastante completo, com informações de ruas e busca por pontos de interesse.
  • Relógio. Com cronômetro e alarme.

Multimídia: músicas

Música no N900 (imagem: divulgação/Nokia)

O Nokia N900 rodando Maemo reproduz os principais formatos de música digital disponíveis hoje (MP3, WMA, WAV, AAC e M4A). Seu aplicativo de reprodução de música contém o fundamental: listagem por nome de artista ou gênero musical, além das listas de reprodução. Depois de escolher o álbum, a lista de canções aparece na tela e, com mais um toque, o aparelho já está reproduzindo a música escolhida.

Enquanto a música é tocada, a tela do aparelho apresenta informações sobre o nome da canção, nome do artista etc. Ao lado aparece a capa do álbum, caso ela esteja disponível. E logo abaixo, no “rodapé” (por assim dizer) do aplicativo temos os controles convencionais de reprodução, com play/pause, voltar, avançar, reprodução aleatória e repetição. O controle de volume pode ser feito por meio dos botões físicos ou de um botão deslizante na tela.

Multimídia: vídeo

N900 também reproduz vídeo (imagem: divulgação/Nokia)

Tanto áudio como vídeo ficam acessíveis a partir de um mesmo aplicativo, o Leitor de Média (eu não digitei errado, é assim mesmo). No caso dos vídeos, a ordenação é feita por data de criação (os mais recentes primeiro) ou categoria, embora não tenha entendido muito bem como essa parte funciona.

E a reprodução de audiovisual é maravilhosa, risonha e límpida! O visor de 3,5 polegadas do N900 é mais do que suficiente para ver trailers de filmes e episódios de podcasts. Quando o vídeo começa a ser tocado, os botões desaparecem da tela. Assim como no iPhone, é preciso apertá-la uma vez para visualizar três grandes botões de voltar (para o vídeo anterior), reproduzir/pausar e avançar (para o próximo vídeo).

O mais legal desse aplicativo é que ele permite compartilhar o vídeo que está sendo assistido. Com ele fica fácil (e muito rápido) enviar o conteúdo audiovisual para amigos, por e-mail ou por Bluetooth mesmo.

Os formatos aceitos na reprodução de vídeo (containers) são: MP4, AVI, WMV e 3GP. Já os codecs são:H.264, H.263, MPEG-4, Xvid e WMV.

Rádio pela internet

O meu finado Nokia E71, de dois anos atrás, já possuía um aplicativo para escutar rádios online. E no Nokia N900 não é muito diferente: o aparelho conta com software similar, que fornece uma lista de rádios do mundo inteiro para o usuário escutar. Basta escolher a estação que quer ouvir e esperar a reprodução começar. Tem rádio da Alemanha, da Itália, da França, dos Estados Unidos e de muitos outros lugares… Bem legal!

Câmera

O Nokia N900 conta com uma câmera fotográfica de 5 megapixels, com direito a foco automático e flash de LED duplo. Mais do que comentar sobre esse recurso, no entanto, eu deixo para você avaliar como são as fotos feitas com esse aparelho. As imagens abaixo foram obtidas com um N900, sem passar por qualquer modificação de Photoshop ou similar. Confira por si mesmo (clique para ampliar).

Pontos positivos:

  • Visor grandioso de 3,5 polegadas.
  • Teclado QWERTY que realmente funciona.
  • Câmera de boa qualidade.

Pontos negativos:

  • Em português de Portugal.
  • Pesado.
  • Curva de aprendizado acentuada.

Ora, pois!

Logo que a Nokia Brasil anunciou que venderia o N900 no País, informou que ele viria com interface em português de Portugal. Claro que aqui no TB nós reclamamos da decisão, mas aparentemente não existe versão do sistema com português do Brasil. E depois de usar o N900, o minha opinião mudou? Ainda não. Estando em português lusitano, dá sim para entender muitas das mensagens que aparecem na tela, mas não é qualquer um que percebe logo de primeira que “ecrã” é visor, apenas para dar o exemplo mais simples. O ideal é que a Nokia ofereça um Maemo na nossa língua pátria.

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Escrito por

Thássius Veloso

Thássius Veloso

Editor

Thássius Veloso é jornalista especializado em tecnologia. Desde 2008, participa das principais feiras de eletrônicos, TI e inovação. Thássius é editor do Tecnoblog e também atua como comentarista da CBN, palestrante e apresentador de eventos. Já colaborou com o Jornal Nacional e a GloboNews, entre outros veículos. Ganhou o Prêmio Especialistas em duas ocasiões e foi indicado diversas vezes ao Prêmio Comunique-se. Pode ser encontrado como @thassius nas redes sociais.