Review Motorola One Action: trocando a foto pelo vídeo
One Action mantém pontos fortes do One Vision, mas troca câmera com visão noturna por câmera de ação
One Action mantém pontos fortes do One Vision, mas troca câmera com visão noturna por câmera de ação
O One Action é a terceira investida da Motorola na família One no Brasil. Depois de lançar um celular bem diferente dos outros aparelhos da marca e um modelo focado em fotografia, a fabricante resolveu se aventurar no segmento de câmeras de ação. Sim, o mesmo mercado da GoPro — mas colocando a novidade dentro de um smartphone.
O resultado é um celular que se parece muito com o One Vision, mas que ganha uma câmera com lente grande angular e permite filmar com uma posição mais confortável, segurando o aparelho na vertical para gravar na horizontal. Será que esse negócio faz sentido? Por R$ 1.799, o One Action é um bom smartphone? Eu usei o lançamento da Motorola nas últimas semanas e conto minhas impressões nos próximos minutos.
É mais fácil começar apontando as diferenças entre o Motorola One Action e o Motorola One Vision, lançado em maio. A base é idêntica: temos a mesma tela LCD de 6,3 polegadas, a mesma bateria de 3.500 mAh, o mesmo processador octa-core da Samsung, o mesmo leitor de impressões digitais na traseira, o mesmo Android 9.0 Pie e a mesma combinação de hardware: 4 GB de RAM e 128 GB de espaço.
As principais mudanças ficam nas câmeras. Na frente, sai o sensor de 25 megapixels do One Vision e entra um de 12. Na traseira, a câmera principal de 48 megapixels com visão noturna e estabilização óptica foi substituída por um conjunto mais simples, com resolução de 12 megapixels. E a Motorola incluiu um novo sensor: é a câmera de ação, que filma com campo de visão de 117 graus.
Há ainda outras novidades menores: o carregador de bateria incluso na caixa é de 10 watts (e não de 15); o Motorola One Action é ligeiramente mais espesso (mas a diferença é de meio milímetro); e, por ter sido lançado depois, o novo celular da Motorola terá uma pequena sobrevida nas atualizações, recebendo correções de segurança do Android até agosto de 2022.
O Motorola One Action é um smartphone compridão e tem um visual diferente dos outros aparelhos da empresa: não tem notch, não tem calombo central na câmera traseira e não tem o logotipo estampado na frente. Não existem muitos materiais sofisticados aqui, mas o acabamento passa uma boa impressão e, principalmente, a ergonomia é boa: dá para digitar com uma mão só, sem fazer malabarismo.
A tela de 6,3 polegadas do One Action tem painel IPS e resolução Full HD+, de 2520×1080 pixels. O brilho é forte o suficiente para enxergar a tela em qualquer condição de iluminação, o nível de preto fica dentro do esperado para um display LCD e as cores agradam, com um tom mais vibrante por padrão.
Os desenvolvedores de aplicativos e jogos conseguiram se adaptar com as proporções de 18:9, 19:9, 19,5:9, 20:9 e agora 21:9 no Android, então você não deve ter problemas de compatibilidade. Mas a maioria dos conteúdos multimídia permanecerá em 16:9 por um bom tempo, então é preciso se acostumar com as faixas pretas nas laterais ou se contentar em esticar os vídeos para preencher toda a tela.
Já no software, o destaque fica por conta do programa Android One. É uma boa notícia para o nicho que faz questão de sempre ter a versão mais nova do Android: ele vem com o Android 9 Pie, mas receberá o Android 10 e o Android R. Além disso, as correções de segurança estão garantidas por três anos.
A Motorola não faz mudanças drásticas na interface, nem coloca muitos recursos adicionais no Android. Além do pacote padrão do Google, o One Action vem de fábrica com o repositório de softwares App Box, a ferramenta Dolby Audio, o aplicativo de rádio FM e o Moto, que reúne os gestos para ligar a lanterna, abrir o aplicativo de câmera e tirar um print, bem como o recurso Tela interativa, que mostra o relógio e as notificações mesmo com o aparelho em standby.
As câmeras do One Action me trouxeram dois sentimentos. Um bom, porque a Motorola conseguiu fugir da mesmice do mercado e experimentou uma câmera de ação em um celular. Por outro lado, a empresa teve que sacrificar outros componentes para que isso acontecesse. Isso fica claro ao dar os primeiros cliques: se o One Vision surpreendeu pela boa qualidade de fotografia, principalmente em cenas noturnas, o One Action é apenas mediano nesse quesito.
Com bastante luz, o sensor principal faz um bom trabalho, mantendo a exposição sob controle e o quadro livre de ruídos. As cores me agradam por não serem saturadas em excesso: mesmo ativando a otimização de cena, as fotos não chegam ao ponto de parecerem artificiais. E os truques de software da Motorola devem ser bem úteis para o usuário médio, como o recurso que nivela as fotos e aplica a regra dos terços.
Em ambientes internos, a câmera já sofre mais. O ruído não aparece com vontade, mas a Motorola claramente suaviza a cena para tentar corrigir as fraquezas do sensor — e a definição sofre bastante com isso. À noite, a perda de nitidez fica muito mais perceptível: o pós-processamento elimina alguns detalhes das cenas, e é mais difícil tirar fotos não tremidas devido à falta da estabilização óptica de imagem.
Nenhuma dessas fraquezas é suficiente para classificar a câmera do One Action como “ruim” para fotografia, mas outros celulares na mesma faixa de preço conseguem entregar resultados melhores, como é o caso do próprio Motorola One Vision.
Quanto à câmera de ação, os resultados são satisfatórios, mas preciso fazer três observações. Primeiro: não é possível usar a lente grande angular só para tirar uma foto. Seria ótimo se a Motorola liberasse essa possibilidade, já que fotos de paisagens tendem a ficar melhores com um campo de visão maior. (Ironicamente, você consegue fotografar enquanto filma com a câmera de ação, então isso é só um bloqueio no software.)
Segundo: a estabilização eletrônica foi bastante eficiente para remover os tremidos; em compensação, ela adiciona um efeito “gelatina” nos cantos que chega a incomodar. E terceiro, agora com um tom positivo: o fato de o sensor estar “virado” 90 graus internamente é uma ótima sacada da Motorola, já que filmar segurando o celular na posição vertical é muito mais confortável, seguro e estável.
Por fim, fica clara a especialidade do One Action em filmagem: a câmera frontal é capaz de gravar em 4K a 30 fps, assim como no Moto G7 Plus (no One Vision, ela só chegava a Full HD). As selfies em si são boas, sem extrair a última gota de definição e foco, mas com exposição acertada, boas cores e ruído baixo.
No hardware, nenhuma surpresa: o One Action tem desempenho consistente, animações fluidas e agilidade nos aplicativos do dia a dia. Nos jogos como Asphalt 9 e Breakneck, a taxa de quadros é boa desde que você não aumente muito a qualidade gráfica — mas a GPU Mali-G72 permite uma boa jogatina com os gráficos no médio na maioria das situações. A dupla de 4 GB de RAM e 128 GB de espaço se tornou um padrão entre os intermediários e deve ser suficiente para quase todo mundo.
A bateria de 3.500 mAh é ok, aguentando um dia inteiro de uso para a maioria das pessoas. Na minha rotina de testes padrão, tirando o aparelho da tomada às 9h, ouvindo música por streaming por cerca de 2 horas e navegando na web por 1 hora, sempre pelo 4G e com brilho no automático, eu chegava ao final do dia com carga por volta dos 40%.
A parte ruim é que a Motorola não envia seu famoso carregador TurboPower junto com o Motorola One Action: na caixa, só encontramos um adaptador de tomada de 10 watts, que leva pouco mais de 2 horas para encher completamente a bateria.
O One Action é um bom smartphone, mas não é para todo mundo. A Motorola seguiu a receita de sucesso do One Vision, com um bom conjunto de hardware e bateria, um design agradável e um software que já se mostrou eficiente. Mas ela trocou um dos ingredientes e passou a focar em um nicho bem específico no One Action.
A maioria das pessoas provavelmente publica mais fotos que vídeos de ação. E, para esse público, a resposta é simples: não vale a pena comprar o One Action; é melhor partir para o One Vision, que apresenta resultados notavelmente superiores em fotografia.
Já para quem quer filmar, vale considerar que a experiência não chega perto de uma GoPro Hero 7 Black, tanto pela estabilização pior, quanto pela falta de acessórios e também pelo próprio formato do produto: você poderia usar uma câmera de ação até para nadar, enquanto o One Action não tem nenhuma proteção contra água. Ainda assim, filmar com o One Action é melhor que com outro celular.
É um celular bom e com um preço interessante, mas que precisa encontrar seu público. E vai ter trabalho para achar.
Leia | Como fazer ou restaurar um backup no Android