Sabia que a TIM Brasil pode ser vendida? Eis os motivos

Eleições italianas podem mudar rumo da TIM Itália, incluindo venda da subsidiária; operadora brasileira dá lucro e tem grandes investimentos pela frente

Lucas Braga
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• Atualizado há 11 meses
TIM Brasil pode ser vendida após eleições na Itália
TIM Brasil pode ser vendida após eleições na Itália (Imagem: Vitor Pádua / Tecnoblog)

O futuro da TIM parece incerto no Brasil. A matriz italiana passa por uma grande reestruturação após dívidas bilionárias, e a venda da subsidiária brasileira tem sido considerada a saída por um dos principais acionistas da operadora: o governo italiano.

Por que a TIM Itália pode vender a operação brasileira

A TIM Itália passa por uma grande crise financeira. Com dívidas na casa dos 23 bilhões de euros — algo em torno de 119 bilhões de reais —, a matriz passa por um grande plano de reestruturação comandado por Pietro Labriola, antigo CEO da TIM Brasil.

Pietro Labriola, ex-CEO da TIM Brasil e atual CEO da TIM Itália
Pietro Labriola saiu da TIM Brasil para liderar reestruturação da TIM Itália (Imagem: Divulgação / TIM)

O plano de Labriola parece seguir rumo semelhante ao da Oi no Brasil: a TIM propõe separar ativos de infraestrutura de rede fixa em outra empresa, acelerando a expansão de fibra óptica na Itália. Em simultâneo, a reestruturação também prevê a demissão de 1,2 mil funcionários, algo que não agradou parte dos italianos.

Com 23,75% dos papéis, o principal acionista da TIM Itália é o grupo francês Vivendi, ex-dono da GVT no Brasil. Eles parecem satisfeitos com o plano de Labriola, mas o governo italiano, outro sócio relevante da TIM, pode mudar o rumo da reestruturação e forçar a venda da subsidiária brasileira.

Venda da TIM Brasil é assunto nas eleições italianas

Sozinho, o governo italiano não é um acionista tão grande da TIM Itália: o estado detém 9,81% da empresa, por meio do banco CDP. No entanto, trata-se de papéis do tipo golden shares, que dão direito a veto em questões estratégicas.

Fachada de loja da TIM em shopping de SP
Loja da TIM no Shopping Taboão (Imagem: Divulgação / TIM)

A venda da TIM Brasil é dada como uma solução pelo partido conservador Fratelli D’Itália — Irmãos da Itália —, que lidera as intenções de votos nas eleições para o parlamento. Com o dinheiro da venda da operadora brasileira, a matriz italiana poderia reduzir a dívida da companhia e evitar demissões.

O partido também prevê mudanças no plano industrial da TIM Itália: Alessio Butti, representante do setor de TI do Fratelli D’Itália, defende que a companhia também venda a unidade de serviços ao consumidor final e mantenha apenas infraestrutura de acesso no negócio.

Caso isso se torne realidade, a TIM Itália também venderia toda sua carteira de clientes, e passaria a funcionar como uma atacadista de telecom. Além da TIM, o mercado italiano de telefonia móvel conta com as operadoras Iliad, Vodafone e W3.

As dificuldades para vender a TIM Brasil

Supondo que o plano do Fratelli D’Itália dê certo, a TIM Brasil precisaria de um novo comprador. Já podemos descartar a hipótese de compra por parte de Claro ou Vivo: o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e Anatel dificilmente aprovariam o negócio, especialmente após o fatiamento da Oi Móvel entre as três maiores teles brasileiras.

A grande dúvida é quem seria um potencial comprador. A TIM Brasil é lucrativa, que é um bom sinal, mas está num momento de grandes investimentos após firmar o compromisso de cobrir todas as cidades brasileiras com 4G até o final de 2023.

Antena da TIM cobre trecho de estrada em General Salgado/SP (Imagem: Reprodução/TIM)
Antena da TIM conectada via satélite cobre trecho de estrada em General Salgado/SP (Imagem: Reprodução/TIM)

Não podemos esquecer que a TIM Brasil também desembolsou quase R$ 7 bilhões pelos ativos da Oi Móvel. Ainda há projeção que os investimentos aumentem com a chegada do 5G, uma vez que a tele deve cumprir metas de cobertura e seguir o cronograma estabelecido no edital do leilão da Anatel.

TIM Brasil é uma ação com tag along

Existe outro mecanismo que pode dificultar a busca por um novo comprador. A TIM Brasil é uma companhia listada na bolsa de valores, e possui o índice de governança corporativa Novo Mercado.

Isso significa que as ações da TIM Brasil possuem tag along de 100%: no caso de uma venda, todos os acionistas minoritários podem exercer o direito de vender suas ações pelo mesmo preço pago ao controlador.

Quem poderia comprar uma operadora brasileira?

É difícil vislumbrar um comprador para qualquer grande tele brasileira. O valor de mercado da TIM Brasil certamente é alto, pois se trata de uma operadora lucrativa, com grande participação de mercado e uma extensa rede móvel com presença em todos os estados brasileiros.

Não faz muito tempo que uma grande operadora móvel brasileira foi vendida. Em dezembro de 2020, a Oi Móvel foi leiloada mas havia apenas uma proposta de compra, apresentada por Claro, TIM e Vivo. Até existiu outra empresa interessada, a Highline, que iria transformar a tele em uma rede neutra mas acabou desistindo.

Sendo assim, fica complicado encontrar um comprador para a TIM Brasil — se algum existir, provavelmente será alguém estrangeiro.

Outra hipótese seria pensar na venda TIM Itália, que levaria “de brinde” os ativos brasileiros. Em novembro de 2021, o fundo americano KKR apresentou uma proposta de 12 bilhões pelo controle da operadora, mas o negócio não vingou.

Com informações: Reuters (2), Telesíntese

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Lucas Braga

Lucas Braga

Repórter especializado em telecom

Lucas Braga é analista de sistemas que flerta seriamente com o jornalismo de tecnologia. Com mais de 10 anos de experiência na cobertura de telecomunicações, lida com assuntos que envolvem as principais operadoras do Brasil e entidades regulatórias. Seu gosto por viagens o tornou especialista em acumular milhas aéreas.

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