Review LG G8X ThinQ: duas telas sem hype
Quer uma tela maior? LG G8X ThinQ oferece duas, mas esbarra no refinamento do software
Quer uma tela maior? LG G8X ThinQ oferece duas, mas esbarra no refinamento do software
A LG também quer oferecer mais espaço de exibição em um celular, mas não seguiu o mesmo caminho das concorrentes. Em vez de lançar um smartphone com tela dobrável, a empresa apostou no G8X ThinQ, que traz um acessório para acrescentar uma segunda tela com o mesmo tamanho, mesma resolução e o mesmo entalhe do visor principal.
O G8X ThinQ tem um hardware parrudo, semelhante ao do G8S ThinQ, com Snapdragon 855 e 6 GB de RAM, mas é equipado duas telas OLED de 6,4 polegadas e uma bateria mais generosa, com capacidade de 4.000 mAh. Será que esse negócio de Dual Screen funciona mesmo? Eu testei a novidade da LG nas últimas semanas e conto minhas impressões nos próximos minutos.
Sem nenhum acessório, o G8X ThinQ se parece com um celular “comum”. As diferenças em relação ao G8S ThinQ são sutis. O leitor de impressões digitais, que ficava na traseira, foi parar na tela (e funciona bem, apesar de não ser tão rápido). As câmeras não geram mais nenhum desnível e estão em menor quantidade: a LG removeu a terceira lente, que tirava fotos com zoom óptico de 2x. E as dimensões são maiores, já que a tela passou de 6,2 para 6,4 polegadas.
De resto, ele traz as mesmas características do outro topo de linha de 2019 da LG. O corpo é de metal e vidro, passando uma boa impressão de robustez, especialmente por causa da proteção contra água (IP68) e da resistência militar contra quedas, vibrações e variações de pressão. A entrada para fone de ouvido está presente, assim como um botão dedicado para o Google Assistente na lateral esquerda.
Mas o que interessa mesmo é o acessório Dual Screen, que está incluso na caixa do G8X ThinQ. Na prática, ele funciona como uma capinha de proteção com tampa, mas que oferece uma tela externa. Ou melhor, duas: uma por dentro, com quase as mesmas especificações do painel OLED do smartphone, e outra de 2,1 polegadas por fora, para mostrar o relógio, o nível de bateria e os ícones de notificações.
Tanto a tela do celular quanto a do Dual Screen têm brilho forte o suficiente para você enxergar o conteúdo em qualquer condição de iluminação, além do preto perfeito do OLED. Aliás, o fato de existir um notch na tela do Dual Screen, mesmo sem nenhuma câmera ali, indica que a LG provavelmente utilizou o mesmo componente nos dois painéis (o que também ajuda a manter a qualidade das telas consistente e diminuir o custo de fabricação). A definição não é a mais incrível do mercado, mas é excelente.
Eu gosto da flexibilidade de ter duas telas só quando eu quiser. Um espaço maior pode ser interessante para trabalhar, assistir a um vídeo enquanto faço outra tarefa ou digitar em um teclado virtual maior. Mas não é interessante toda hora: isso deixa o celular mais espesso, mais pesado e menos ergonômico, principalmente para tirar fotos. Nesses casos, é só desacoplar a segunda tela, o que não seria possível em um dobrável.
Uma curiosidade é que o acessório Dual Screen tem uma porta magnética de carregamento, que lembra o MagSafe dos antigos MacBooks. A LG envia um adaptador de USB-C para o conector magnético, que mantém a boa velocidade de recarga, mas com a vantagem de impedir que seu smartphone de seis mil reais dê um beijo no chão quando alguém tropeçar no fio. Ah, sim: o carregamento wireless no padrão Qi funciona mesmo com o Dual Screen.
Eu confesso que usei pouco o Dual Screen, por alguns motivos. Primeiro porque a bateria vai embora rapidamente, como conto mais para frente. Segundo porque o conjunto é muito pesado: são 329 gramas puxando sua calça para baixo. E terceiro porque o software permanece sendo o calcanhar de Aquiles da LG.
A ideia do Dual Screen é ótima, mas não funciona tão bem na prática. Uma das utilidades é digitar em um teclado virtual em uma tela, de forma mais confortável, enquanto visualiza o aplicativo em outra tela. Mas isso só é possível com o teclado padrão da LG, que tem um autocorretor excepcionalmente ruim. Se você é adepto do SwiftKey ou Gboard, não vai rolar.
O fluxo de trabalho também não é natural. Se você tivesse um PC com dois monitores, simplesmente arrastaria a janela entre as telas e pronto. No G8X ThinQ, os aplicativos em geral não são adaptados. Você não pode abrir uma aba do Chrome em uma nova tela, ou clicar num link do YouTube sem sair do vídeo, por exemplo. A exceção fica por conta de alguns aplicativos da LG, como a galeria de fotos, que não são suficientes para oferecer uma experiência de outro mundo.
Houve uma época em que a maioria dos Androids tinha um modo de tela dividida: era possível usar dois aplicativos ao mesmo tempo, ocupando duas metades do display. Quase ninguém usava isso não só por causa do tamanho da tela, mas também porque o recurso não era prático — e, aos poucos, as fabricantes foram removendo a funcionalidade. Esse problema não é resolvido com uma segunda tela.
É claro que alguns públicos podem ser beneficiados com esse design estilo Nintendo DS, particularmente os gamers, já que é possível usar a tela principal como um gamepad dedicado e mostrar o jogo na tela secundária. Ainda assim, é importante levar em conta que um gamepad em uma tela sensível ao toque não vai ter o mesmo nível de resposta que um bom controle físico.
A câmera do G8X ThinQ não pode ser chamada de ruim, mas fica notavelmente atrás dos outros topos de linha de 2019, como o Galaxy Note 10 e o iPhone 11 Pro. O conjunto traseiro é formado por duas câmeras: a principal tem 12 megapixels e lente com abertura f/1,8, enquanto a ultrawide tem 13 megapixels e abertura menor, de f/2,4.
Em cenários com bastante luz, a lente principal consegue fazer imagens satisfatórias, com boa definição, ruído inexistente e cores mais saturadas. Os céus sempre ficam mais azulados, as árvores são mais bonitas que na vida real e o contraste é mais reforçado, o que ajuda a manter uma boa primeira impressão (e a tela OLED do G8X ThinQ também colabora para mostrar as fotos da melhor forma possível).
Mas uma análise fria revela o grande ponto negativo do sensor principal, que é o alcance dinâmico limitado, fazendo os detalhes em áreas de sombra sumirem — o nível é de algo que eu esperaria de um topo de linha de 2017, não de 2019. Já a câmera ultrawide não pode ser defendida e me decepcionou bastante: ela tem um sério problema de aberração cromática nas bordas, indicando que a qualidade da lente não é das melhores.
Além disso, a LG ainda peca especialmente em fotos à noite, um ponto que todas as grandes fabricantes conseguiram resolver — até a Motorola, em aparelhos de segmentos intermediários. O G8X ThinQ tem um modo noturno no aplicativo de câmera, mas ele é pouco efetivo. Na prática, as fotos ficam com baixa definição e péssimo alcance dinâmico, sendo que os detalhes em sombras desaparecem.
De novo: se levarmos em conta todos os celulares do mercado, o G8X ThinQ até poderia conseguir uma boa posição em fotografia. Mas, entre os modelos premium lançados este ano, a LG fica atrás de quase de todo mundo.
Se a câmera do G8X ThinQ não é de um topo de linha, o hardware é. Ele é equipado com um processador Qualcomm Snapdragon 855 acompanhado de 6 GB de RAM, o que foi mais que suficiente para manter um bom desempenho no dia a dia, sem engasgos no multitarefa. Jogos mais pesados também rodaram com os gráficos no máximo, sem reclamar. Este ainda é um dos melhores chips que você vai encontrar no mundo Android, então a boa performance já era esperada.
A LG bem que poderia oferecer mais que os 128 GB de memória interna em um celular tão caro, mas pelo menos manteve a entrada para cartão de memória para os que desejarem mais espaço. E, falando em “coisas que foram mantidas”: sim, o G8X ThinQ ainda tem uma entrada padrão para fone de ouvido de 3,5 mm.
Já a bateria de 4.000 mAh foi apenas ok nos meus dias de teste. Ela é maior que os 3.550 mAh do LG G8S ThinQ, o que é uma boa notícia, mas a LG também aumentou a tela e colocou uma segunda, o que gasta mais energia. Na prática, a autonomia do G8X ThinQ fica no nível “razoável”: não é terrível como a do iPhone 7, mas também não é um iPhone 11 Pro Max.
Tirando o G8X ThinQ da tomada às 7h da manhã, ouvindo duas horas de música por streaming no 4G pelo Spotify e navegando na internet por duas horas (entre e-mails, redes sociais e páginas da web), também pela rede móvel, sempre com brilho no automático, ele chegava às 21h com carga em torno de 30%. Em três dias mais corridos, eu tive que carregar o aparelho antes do final do dia — e os usuários mais viciados também vão precisar se preocupar com isso.
Minha relação com o G8X ThinQ foi de múltiplas fases. A primeira foi de estranhamento, afinal, ele foi lançado no Brasil junto com os outros celulares dobráveis, mas tem uma dobradiça e uma divisória gigante entre as duas telas, além de não ser muito bonito — é um dobrável sem todo o hype dos dobráveis da Motorola e da Samsung.
Depois, racionalmente, pensei que até poderia ser uma boa ideia: ele oferece maior área de visualização como um celular dobrável, mas o projeto mais simples permite que o G8X ThinQ custe menos e seja mais resistente que um aparelho com tela dobrável.
No entanto, durante o uso, o G8X ThinQ não se mostrou tão interessante. A vantagem da segunda tela é quase anulada por um sistema operacional que ainda não está pronto para isso. E mesmo fazendo muita questão do Dual Screen, é difícil aceitar esse preço de lançamento: considerando que o G8S ThinQ foi lançado por R$ 4.299, a LG está basicamente dizendo que essa segunda tela vale 1,7 mil reais. É muita coisa.
O público que enxerga vantagem em uma segunda tela provavelmente vai comprar o G8X ThinQ de qualquer forma, afinal, ele é um produto único, sem concorrentes diretos — mas o número de pessoas não deve ser tão grande, dadas as limitações atuais do software da LG. Já quem simplesmente quer um celular premium, com tela boa, câmera de qualidade e bateria de longa duração, deve encontrar opções melhores na concorrência.
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