5 fatos que marcaram a tecnologia em 2018: muitos vazamentos, 4G, mobilidade e mais
O ano foi repleto de vazamentos (muitos deles do Facebook), muita evolução em telecom e novas formas de se locomover
O ano foi repleto de vazamentos (muitos deles do Facebook), muita evolução em telecom e novas formas de se locomover
Eu costumo dizer que 2017 foi o ano do dinheiro na tecnologia. Falamos muito de bitcoin e a ascensão das fintechs nos cartões de crédito, investimentos e contas bancárias. Até o malware mais popular do ano tinha relação com grana: os ransomwares chacoalharam as empresas ao sequestrar arquivos e pedir resgate em criptomoedas. No mesmo caminho, talvez 2018 seja o ano da ética na tecnologia.
Neste ano, o Google se meteu em duas grandes questões. Ajudar ou não o governo a desenvolver tecnologias militares com inteligência artificial e computação em nuvem? Criar ou não uma versão censurada do buscador na China? O Facebook também não ficou atrás nas enrascadas: qual é o limite da exploração dos dados dos usuários? E o que fazer diante de tantos escândalos de privacidade e vazamento de informações?
É claro que também tivemos boas notícias: o Brasil finalmente tem uma lei de proteção de dados (eu nem acredito que estou escrevendo isto), a tecnologia 4G se expandiu a passos largos em todo o território nacional e descobrimos uma série de meios de transporte alternativos, deixando os automóveis em segundo plano. Confira a retrospectiva de 2018 na tecnologia!
Privacidade foi um tema de contrastes em 2018. De um lado, entrou em vigor a Lei Geral de Proteção de Dados (GDPR) na União Europeia, definindo regras para o armazenamento e uso de informações pessoais. Mais tarde, foi sancionada no Brasil a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPDP), tomando emprestadas várias características da lei europeia. Ao mesmo tempo, eu não lembro de outro ano com tantos vazamentos.
2018 já começou tenso: no dia 3 de janeiro, foram reveladas as falhas Spectre e Meltdown, que afetam quase todos os processadores da Intel, AMD e ARM produzidos nos últimos 20 anos. As fabricantes de chips, placas e sistemas operacionais correram para lançar atualizações que mitigassem o problema (que também pode causar vazamentos). “Mitigassem”, porque não é possível corrigi-las totalmente por software.
Depois, vimos uma sequência de vazamentos em todos os lugares. A Uber pagou US$ 148 milhões por ter encoberto a exposição de dados de 50 milhões de passageiros e 7 milhões de motoristas. A rede de hotéis Marriott protagonizou o segundo maior vazamento da história (só perdeu para o Yahoo), após permitir o acesso a um banco de dados de 500 milhões de hóspedes, inclusive com números de passaporte e cartão de crédito. E o Facebook? Tudo deu tão errado que ele merece um capítulo à parte.
Muitos vazamentos ocorreram no Brasil, com forte atuação do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) para investigar os casos. A maior saga foi a do Banco Inter, que vazou dados de 19 mil correntistas. Inicialmente, o banco negou o vazamento e acusou a imprensa de espalhar notícias falsas sobre a instituição. À medida que outros fatos surgiram, como o vazamento da chave privada do site, o banco mudou o tom, dizendo que os dados vazados eram de “baixo impacto”. O processo encerrou com um acordo extrajudicial de R$ 1,5 milhão.
Não acabou. A Atlas Quantum, fintech brasileira de bitcoin, expôs o saldo, nome, e-mail e telefone de 264 mil clientes. A Stone, empresa mais conhecida pelas maquininhas de cartão, teve seu código-fonte vazado. A Uber foi investigada após um vazamento afetar 196 mil brasileiros. E a Netshoes passou por um dos maiores incidentes de segurança registrados no Brasil, após dados de 2 milhões de usuários, incluindo nome completo, e-mail, CPF e data de nascimento, terem sido expostos na internet.
Essas notícias devem se tornar mais frequentes no Brasil, uma vez que a LGPDP estabelece que as empresas serão obrigadas a reportar vazamentos às autoridades competentes em tempo hábil, sob pena de multa de até R$ 50 milhões. Até então, uma companhia podia simplesmente encobrir o incidente e abafar o caso. Estou olhando para você, app de táxi que vazou o cartão de crédito de um monte de brasileiros. 👀
O ano foi tão complicado para o Facebook que ele mereceu uma retrospectiva só com os problemas enfrentados. 2018 já começou com o escândalo Cambridge Analytica, que revelou que dados de 87 milhões de pessoas foram utilizados indevidamente para fins políticos. A rede social teve que fazer uma série de mudanças nas APIs para restringir o acesso aos dados por parte dos desenvolvedores, e Mark Zuckerberg precisou dar explicações pessoalmente ao Parlamento europeu e ao Congresso americano.
Embora o caso Cambridge Analytica seja o mais lembrado, o Facebook não se cansou de meter em escândalos de privacidade de dados. É mais fácil mostrar tudo em uma lista:
Talvez o ano que vem seja melhor para o Facebook, embora nem tanto para Mark Zuckerberg: depois de tantos escândalos, ele está recebendo propostas pouco amigáveis de acionistas para deixar o conselho administrativo da empresa.
O setor de telecom foi um dos mais marcantes de 2018. Não houve grandes escândalos com a Anatel, nem implantação de novas tecnologias no Brasil, mas vimos a consolidação de algumas tendências que surgiram nos últimos anos.
Pouca gente imaginava que o 4G se tornaria tão popular ainda em 2018. Terminamos o ano com 4.302 municípios cobertos com LTE por ao menos uma operadora, o que representa 95% da população brasileira. Grande parte desse avanço se deve às ativações de rede com a frequência de 700 MHz, que possibilitou maior alcance de sinal com a mesma quantidade de torres. Quem não tinha 4G, passou a ter. Quem já tinha, passou a usar 4G com mais facilidade em ambientes internos. Aqui pega até no elevador.
O 5G também saiu do papel. Em países como Estados Unidos (vale um asterisco), Coreia do Sul e Austrália, as operadoras começaram a instalar seus novos equipamentos em 2018. O objetivo da próxima geração de redes móveis, que não é fornecer internet mais rápida no celular, é permitir o surgimento de novas aplicações, como a conexão de trilhões de dispositivos na era da internet das coisas e até a banda larga fixa de alta velocidade sem necessidade de a operadora gastar com fibra ótica até a casa do cliente.
Só que os brasileiros terão que esperar mais: Claro, Oi, TIM e Vivo já avisaram que o 5G vai demorar para chegar ao Brasil. A tecnologia é cara, exigindo mais gastos com infraestrutura, e não deverá ter rentabilidade suficiente para ser implementada no país nos primeiros anos. As operadoras dizem que só vão instalar o 5G inicialmente em pontos específicos, e a popularização deve acontecer apenas a partir de 2021.
As gigantes de tecnologia precisaram lidar com questões éticas em 2018. O maior afetado foi o Google, que recebeu uma multa recorde de 4,3 bilhões de euros após ser acusado de monopólio: segundo a Comissão Europeia, a empresa forçou as fabricantes a incluírem sua busca e o navegador Chrome nos celulares em troca de uma licença da Play Store. Embora tenha recorrido da decisão, isso fez o Google repensar o licenciamento do Android, passando a cobrar uma taxa pela inclusão desses aplicativos.
Milhares de funcionários do Google também assinaram uma carta pedindo que a empresa deixasse de colaborar com o Pentágono no Projeto Maven, criado com o objetivo de encontrar formas de acelerar o uso da inteligência artificial em aplicações militares. Pelo menos 12 se demitiram. Diante da pressão, o Google anunciou que não vai renovar o contrato com o Pentágono, chamado de “negócio de guerra”.
A posição do Google não é a mesma de Jeff Bezos: segundo o CEO da Amazon, as empresas precisam trabalhar com o Departamento de Defesa, caso contrário “o país estará em apuros”. Para ele, “não faz nenhum sentido” a decisão do Google de não renovar o contrato e “um dos trabalhos da equipe de alta liderança é tomar a decisão correta, mesmo quando ela é impopular”. A Microsoft engrossou o coro, defendendo também o JEDI, projeto de nuvem para modernizar a infraestrutura do Pentágono.
Pensa que acabou para o Google? A empresa se meteu em outra polêmica que respingou no Congresso americano: ela estaria trabalhando no Projeto Dragonfly, que criaria uma versão censurada do buscador na China. A ferramenta de pesquisa seguiria obrigações determinadas pelo governo local, bloqueando conteúdos proibidos no país. O CEO Sundar Pichai se pronunciou, sem confirmar que o Google estava voltando ao mercado chinês, mas dizendo que a empresa seria capaz de “atender mais de 99% das buscas”.
Carros poluentes com motores de combustão interna sendo dirigidos por motoristas estressados no congestionamento são (ou deveriam ser) coisa do passado. E 2018 veio para mostrar que existem meios de transporte alternativos para se locomover nas cidades.
No Brasil, a cidade de São Paulo (e posteriormente outras ao redor do país) viram suas ruas sendo tomadas por bicicletas que podem ser deixadas em qualquer lugar. A Yellow foi a primeira a implantar o modelo dockless, sem estações fixas para guardar as amarelinhas compartilhadas, mas há outros concorrentes chegando: a chinesa Mobike também deverá desembarcar em breve por aqui.
Falta fôlego para pedalar? Tudo bem: já recebemos os primeiros serviços de compartilhamento de patinetes elétricos. Com autonomia de dezenas de quilômetros com uma única carga e velocidades de até 20 km/h, esses veículos que mais parecem brinquedos já se tornaram populares em outros lugares do mundo, particularmente na costa oeste dos Estados Unidos. Até a Uber resolveu entrar na jogada, tanto com bicicletas quanto com patinetes espalhados pelas cidades por meio da marca Jump.
Se as ruas e avenidas estão saturadas, já vimos que a solução é ir pelos ares… ou por baixo de tudo. O túnel da Boring Company foi finalizado em novembro, e será o primeiro de vários que interligarão as cidades americanas, transportando carros, bicicletas e pedestres em um trem elétrico a até 200 km/h. Mais do que um “metrô de automóveis”, a empresa de Elon Musk foi criada para pesquisar formas mais baratas e eficientes de escavação, tornando o negócio viável no futuro — para todo mundo.
E, para deixar um gostinho do que virá por aí, a SpaceX prometeu fazer voos intercontinentais com foguetes. Eu não costumo duvidar de empresas que conseguem lançar um foguete para o espaço e depois trazê-lo com segurança para a Terra, e a ideia é fazer uma viagem de Nova York até Paris em 30 minutos. Isso “definitivamente vai acontecer” na próxima década, de acordo com a SpaceX. E eu quero estar vivo para ver isso.